Paralisação do governo ensombra aniversário da administração Trump

Falta de acordo entre republicanos e democratas sobre o DACA deixou a administração federal em serviços mínimos – situação inédita numa legislatura onde um dos partidos controla as duas câmaras do Congresso

Donald Trump tinha planos ambiciosos para celebrar o primeiro aniversário da sua tomada de posse como 45º presidente dos Estados Unidos. Na passada sexta-feira, o magnata tinha tudo acertado para ser a estrela de uma gala pomposa que teve lugar no seu resort de Mar-a-Lago, na Florida, e tinha, inclusivamente, um helicóptero a postos para descolar, que o levaria da Casa Branca até Palm Beach. As notícias oriundas do Capitólio obrigaram-no, no entanto, a faltar à festa e a permanecer em Washington.

Num desfecho possível, mas inesperado para a administração Trump, o Senado norte-americano, controlado pelo Partido Republicano, não reuniu os 60 votos necessários para prolongar o financiamento do governo federal por mais umas semanas – o orçamento anual dos EUA deveria ter sido aprovado a 1 de outubro – e fê-lo entrar oficialmente em “shutdown”. A votação ficou em 50-49. 

“Não era suposto haver uma paralisação, mas houve. Foi causada pelos democratas”, explicou o presidente num vídeo gravado para os convidados do evento em Mar-a-Lago, citado pela CNN.

A suspensão das atividades da administração pública e das agências federais americanas não é inédita nos EUA – a última ocorreu em 2013, durante o consulado de Barack Obama, e arrastou-se durante duas semanas –, mas nunca tinha acontecido numa legislatura em que um dos partidos detém a maioria na Câmara dos Representantes e no Senado.

Das negociações bipartidárias de sábado, o primeiro dia de “shutdown”, não resultou qualquer fumo branco e o dia acabou por ficar marcado por uma intensa distribuição de culpas entre os representantes dos vários partidos, com a política migratória no centro do furacão.

Os democratas queriam garantias da presidência para a proteção dos cerca de 700 mil migrantes abrangidos pelo Deferred Action for Childhood Arrivals (DACA), que em março correm o risco de deportação, devido à decisão de Trump de acabar com o programa, mas os republicanos só admitem conversar sobre o tema depois de aprovado o orçamento.

Concebido por Obama, o DACA oferece uma autorização temporária de residência e de trabalho, mediante o cumprimento de uma série de requisitos, aos que entraram ilegalmente em território norte-americano quando ainda eram crianças.  

“É muito bom ver o quão duro estão a lutar os republicanos pelos nossos militares e autoridades fronteiriças. Os democratas estão a deixar os nossos militares reféns devido ao seu desejo de ter imigração ilegal descontrolada”, escreveu Donald Trump no Twitter, este domingo.

A irredutibilidade do GOP em falar sobre o DACA manteve-se mesmo depois de o líder da bancada democrata no Senado, Chuck Schumer, ter feito concessões ao presidente no que respeita ao financiamento do muro de separação com o México, uma das traves-mestras do programa político da nova administração. “Ele [Trump] transformou em arte a aniquilação de acordos bipartidários”, lamentou Schummer, segundo o “New York Times”.

Este domingo iniciou-se nova maratona de negociações no Senado e na Câmara dos Representantes para se resolver o impasse. Em cima da mesa está uma resolução que, em caso de aprovação, permite desbloquear o financiamento federal até ao próximo dia 8 de fevereiro. O limite para a sua votação, no Senado, é a 1 hora da madrugada de segunda-feira (6h em Portugal continental).