PS rejeita novos aliados. PCP e BE temem bloco central

Um dia depois de Bloco e PCP alertarem para os riscos do bloco central, César rejeitou novos aliados. Deseja, porém, uma “interlocução mais sólida”

Não foi só à direita que o regresso do bloco central agitou as águas. À esquerda, a entrada em cena de Rui Rio levou bloquistas e comunistas a manifestarem preocupações com a possibilidade de voltar a coligação entre PS e PSD.

Carlos César, presidente e líder parlamentar do PS, respondeu aos receios da esquerda com a garantia de que os socialistas não andam à procura de novos aliados, mas não rejeitam que todos sejam interlocutores. “Não precisamos de ter novos aliados, mas precisamos muito de ter todos os interlocutores”, afirmou Carlos César no primeiro dia das jornadas parlamentares do PS, em Coimbra, dedicadas à transparência e à descentralização. César considera que a seguir ao congresso do PSD estão “criadas as condições para uma interlocução mais sólida”.

Os maiores ataques à nova liderança do PSD neste fim de semana surgiram pela voz de Catarina Martins. “Rui Rio é, precisamente, a voz dessa direita conservadora, dessa direita dos negócios que quer voltar ao bloco central, ao monopólio do negócio que faz com que o poder político se vergue sempre face ao poder económico”, afirmou a coordenadora do BE.

O secretário-geral do PCP também não ignorou as mudanças entre os sociais-democratas. No final da reunião do comité central, no domingo à noite, Jerónimo de Sousa alertou para o regresso “formal ou informal do chamado bloco central” com o objetivo de “intensificar a exploração e retomar o rumo de liquidação de direitos”.

Até agora, os consensos entre o governo e o PSD eram quase impossíveis, mas a eleição de Rui Rio pode alterar a relação entre os dois maiores partidos. O presidente eleito do PSD já deixou claro que está disponível para dialogar com Costa e até admitiu vir a viabilizar um governo minoritário do PS para afastar a esquerda do poder.

Marques Mendes garantiu, no seu espaço de comentário na SIC, que a eleição do ex-autarca do Porto está a causar “alguma preocupação” e “embaraço” nos partidos à esquerda do PS. “Rui Rio já prometeu, e julgo que vai cumprir, fazer pactos de regime com o governo, coisa que anteriormente não se fazia. Isso cria embaraço e perturbação no PCP e no Bloco de Esquerda”, afirmou.

O conselheiro de Estado considerou ainda que Passos Coelho era “uma espécie de cimento da geringonça”. A descentralização, as grandes obras públicas, os fundos estruturais ou a legislação sobre transparência de cargos políticos e altos cargos públicos são alguns dos assuntos que o governo vai discutir com o PSD nos próximos tempos.

Transparência

Os socialistas vão promover hoje um debate nas jornadas parlamentares, que estão a decorrer em Coimbra, sobre as propostas do partido para aumentar a transparência na vida política. Os convidados são Guilherme d’Oliveira Martins, ex-ministro das Finanças e ex-presidente do Tribunal de Contas, Susana Coroado, vice-presidente da Associação Cívica para a Transparência e Integridade, e João Taborda da Gama, fiscalista.

O líder do grupo parlamentar considerou que “a transparência é fundamental” e que “é aos democratas que compete defender a democracia”. Carlos César defendeu que o “estado de suspeição da política e dos políticos” obriga a uma reflexão sobre estas matérias.

O PS apresentou recentemente um conjunto de projetos de lei para aumentar a transparência na vida política (ver texto ao lado), mas algumas dessas propostas estão longe de ser consensuais dentro do partido. Ana Catarina Martins, secretária-geral adjunta, terá sido uma das vozes a colocar reservas sobre esta matéria.

Os deputados iniciaram as jornadas parlamentares com visitas às zonas atingidas pelos incêndios. “Fizemos estas visitas para acompanhar no terreno a forma como tem decorrido o processo de reabilitação. Temos procurado estar junto das pessoas, das empresas e das situações que ainda carecem de uma resolução definitiva. Não é uma visita para fazer propaganda do governo, mas também não é para desestimular esperanças”, afirmou César.