Marcelo. “É natural que as pessoas gostem dele”

Marcelo foi eleito há dois anos e tornou-se um fenómeno de popularidade. José Miguel Júdice, amigo de longa data, Vítor Ramalho, que trabalhou com Soares, e António Costa Pinto, politólogo, explicam as razões do sucesso

Foi a 24 de janeiro de 2016, há precisamente dois anos, que Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito Presidente da República com quase dois milhões e meio de votos. Venceu à primeira volta, com 52%, e a “primeira” saudação, na noite em que festejou a vitória, foi para o povo português. “É o povo quem mais ordena e foi o povo que me quis dar a honra de me eleger Presidente da República de Portugal”.

Dois anos depois, Marcelo tornou-se num fenómeno de popularidade que faz inveja a muitos políticos. Mas o que é que Marcelo tem que é diferente dos outros? José Miguel Júdice, amigo de longa data e um dos seus apoiantes na caminhada para Belém, não tem dificuldades em responder: “É um Presidente popular porque merece ser popular. O povo é quem mais ordena e em regra o povo não se engana muito. Os instintos dos cidadãos são sensatos. Ele teve um excelente desempenho e é natural que as pessoas gostem dele”.

O ex-militante do PSD considera, em declarações ao i, que as características de Marcelo também ajudam. “Ele é genuíno e o povo, os portugueses, percebem que aquilo é verdadeiro”, diz Júdice, que toda a vida conheceu o atual Presidente da República “ao lado das pessoas que estão a sofrer sem que ninguém soubesse disso”. Para Júdice, o Presidente “é uma pessoa que pela sua própria natureza é muito empático e sente genuinamente o sofrimento dos outros. Ele fica genuinamente torturado quando vê as pessoas a sofrer”.

Júdice não deixa, porém, de apontar erros ao amigo. “Exagerou na proximidade ao governo e depois exagerou no afastamento”. O advogado lembra o discurso, após a tragédia nos incêndios, em que o Presidente da República criticou o governo com “toda a razão”, mas “foi uma humilhação excessiva e o primeiro-ministro não lhe vai perdoar isso nunca”.

Afetos e conforto

Vítor Ramalho, que acompanhou Mário Soares em Belém durante dez anos, também destaca “a afetividade” que o chefe de Estado tem pelas pessoas. “Obviamente que os portugueses são sensíveis a quem lhes dá conforto, a quem os acarinha e a quem está presente. Isso contribuiu muitíssimo para a popularidade de que goza”. Ramalho não considera a atividade do Presidente excessiva, porque o sofrimento que a crise trouxe a muitos portugueses justifica essa proximidade. “Acho que, neste momento, o distanciamento da generalidade dos cidadãos da política é muito grande e a razão mais profunda é que uma parte significativa dos políticos passaram a confundir a sua atividade com atividades que não enobrecem a política como são os negócios e isso dá lugar a grandes suspeições dos cidadãos. E, portanto, se surge alguém que procura estar próximo das pessoas, reconfortando-as, isso já é importante”, diz.

O socialista considera que a boa relação que Marcelo construiu com o eleitorado também resulta do contributo que deu para a estabilidade, porque “é um homem da direita que tem tido uma relação estável com um governo que é apoiado pela esquerda e isso ajuda a ter uma grande popularidade”.

António Costa Pinto, politólogo, encontra várias razões para a popularidade de Marcelo Rebelo de Sousa, mas “talvez a mais importante remeta para o estilo político e para o facto de não ter um passado imediato associado aos partidos políticos e de ter concorrido à presidência com uma grande autonomia em relação aos partidos e gozando já de uma enorme notoriedade”. Costa Pinto considera que “a sua proximidade à sociedade civil e a sua dinâmica discursiva contribuíram inegavelmente para essa grande popularidade”. O politólogo explica ainda o sucesso do atual Presidente da República com “o facto de ter sucedido” a Cavaco Silva, que viu a sua “popularidade diminuir significativamente, porque ficou associado à austeridade da governação e à intervenção da troika”.

Por último, o professor universitário considera que não podemos ignorar a natureza do semipresidencialismo português. “Como o Presidente não governa, quase todos os presidentes gozam de uma popularidade bastante superior à dos restantes órgãos de soberania, na medida em que não são responsabilizados pelos aspetos mais delicados e complexos da governação”.