Marcelo quer ser lembrado “primeiro como um bom pai e um bom avô”

O Presidente da República deu uma aula-debate na escola secundária de Camarate e falou de vários temas da atualidade e da vida política

Marcelo Rebelo de Sousa presidiu esta quarta-feira a uma aula-debate na escola secundária de Camarate. Aos jovens, o Presidente afirmou que gostaria de ser lembrado primeiro como "um bom pai e bom avô, um bom professor e, sendo caso disso, ter cumprido a missão o melhor que é pedido" e explicou porque afirmou que é um "extrovertido com excesso".

O objetivo era o Chefe de Estado responder às questões feitas pelos alunos, mas Marcelo acrescentou um "primeira parte" que, segundo disse, lhe "passou pela cabeça esta noite". "Eu vou fazer perguntas. No fundo desafiar-vos", começou Marcelo Rebelo de Sousa. "Quais sãos os principais problemas de Portugal?" e "o que é que vocês podem fazer para mudar Portugal?" Foi assim que Marcelo começou a aula-debate fazendo os jovens pensar sobre o que havia a mudar no país.

Os alunos participaram entre palmas e risos dos colegas, num ambiente descontraído, identificando a lentidão da justiça, os tempos de espera na saúde, a subida dos salários, a emigração como alguns dos principais problemas. A solução veio de Marcelo que incentivou os jovens a ser a mudança que queriam ver no mundo. "Tu estás disponível para isso?" questionou Marcelo quando Micaela disse que projetos de humanismo podiam melhorar a situação dos portugueses. "Eu queria que fosse uma aposta de cada um", acrescentou Marcelo, "eu acho que faria isso através da música", respondeu a jovem.

"Nós [portugueses] somos grandes e não é só no futebol", disse o Chefe de Estado quando Maura, uma jovem estudante, lhe questionou se Portugal iria voltar a ser gloriosos como Fernando Pessoa o descreve na obra Mensagem. "Somos grandes na capacidade de abraçar o mundo, dialogar com o mundo", continuou o Presidente referindo-se a Mário Centeno, atualmente presidente do Eurogrupo, e António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas. "Ele é excecional", afirmou referindo-se ao antigo primeiro-ministro,"é o melhor da minha geração".

Marcelo foi ainda questionado sobre o seu carisma e a relação de empatia que cria com o público. "Alguns acham que é artificial. Erro. Fui sempre assim. Podia ser introvertido, corrigi o introvertido em novinho e fiquei assim extrovertido com excesso", explica o Presidente que lembra que o preço a pagar é a exposição. "E não me tira autoridade nos momentos essenciais? Não tira", garantiu lembrando os momentos em que interveio na Caixa Geral de Depositos, na demissão da ministra Constança Urbano de Sousa e no veto à nova lei do Financiamento.

Sobre o debate da saúde, Marcelo acha "muito bem que neste momento haja um amplo debate sobre isso". "É muito provável que haja uma reflexão sobre uma lei muito antiga sobre o Serviço Nacional de Saúde", acrescentou o Chefe de Estado.

O Presidente fez ainda uma crítica a quem toma decisões governamentais por Twitter, no dia a seguir a António Costa ter publicado um twitt onde afirmava que "tudo decorre normalmente com uma única exceção: não haver visitas ao mais alto nível aos respetivos países. As relações entre #Portugal e #Angola e entre os nossos povos são fraternas e insubstituíveis. Estamos juntos". "Eu estou a dizer decidir, não manifestar a opinião", reforçou o Presidente quando os alunos relacionaram o comentário com o presidente norte-americano Donald Trump, "não estou a falar de ninguém". Marcelo criticou ainda as declarações de Trump sobre o aquecimento global.

As questões abordaram todos os tópicos e até o programa da SIC, Supernanny, foi chamado à conversa. "Eu acho que o Presidente não deve dizer a opinião sobre programas de televisão", afirma Marcelo confirmando que já o viu e que tem uma opinião com base na experiência de professor e na experiência com os media.

Uma outra questão colocada ao Chefe de Estado foi se todos os políticos têm de ser mentirosos. "Eu conheci ao longo da vida milhares de políticos", respondeu Marcelo referindo-se a autarcas, deputados, entre outros, "diria que a maioria esmagadora que conheci não é mentiroso". O mesmo acontece com a corrupção, "em Portugal isso não é verdade". "O facto de haver essa noção mostra haver um desfasamento entre a realidade e a noção da realidade", rematou.