Autoeuropa começa novo ciclo

Apesar da forte contestação, os novos horários arrancam na segunda-feira. Em contrapartida, a administração prepara-se para ceder aos aumentos salariais propostos pela CT.

A rrancam esta segunda-feira os novos turnos na Autoeuropa que serão aplicados até agosto, estando previstos previstos 17 turnos semanais e onde já estão incluídos os sábados. Ainda assim, o braço de ferro entre a administração da fábrica e os trabalhadores mantém-se. Tal como o SOL já tinha avançado, a administração está intransigente em relação à proposta unilateral que apresentou em dezembro. Compromete-se, no entanto, a pagar um prémio adicional de 100% sobre cada sábado trabalhado (pagamento mensal) e um prémio adicional de 25% sobre os sábados trabalhados no trimestre, de acordo com o cumprimento do volume planeado para o trimestre (pagamento trimestral).

No entanto, o SOL sabe que poderá ceder às exigências do aumento salarial de 6,5% num mínimo de 50 euros com efeitos retroativos a setembro de 2017 ou aproximar-se desse valor, como é proposto pela Comissão de Trabalhadores (CT). O mesmo poderá acontecer com as pausas de 15 minutos solicitadas por esta estrutura.

Já em relação aos turnos, os trabalhadores vão passar três semanas em cada um, uma vez que foi essa a escolha dos funcionários sondados diretamente pela administração para saber que modelo de turnos preferiam. Isto significa que a partir do final deste mês os trabalhadores passam a ter de cumprir uma semana de cinco dias, com apenas uma folga fixa ao domingo e uma outra rotativa a meio da semana. O primeiro sábado de trabalho arranca já dia 3 de fevereiro.
Resposta para creches

Já com solução à vista parece a exigência dos trabalhadores que, tal como o i avançou, pretendiam ter creches a funcionar aos sábados, como resposta aos novos horários. A Segurança Social anunciou esta semana que já tinha identificado as vagas em IPSS onde os trabalhadores da Autoeuropa poderão deixar os filhos nos sábados de trabalho, garantindo também a cobertura dos custos das creches nesses dias.

A Segurança Social irá compensar os encargos das IPSS através do «complemento de horário em creche» no valor de 503,59 euros mensais por criança à IPSS que gere a creche, garantiu ao SOL fonte do ministério. Este apoio irá durar «enquanto houver necessidades por parte dos trabalhadores». 

Recorde-se que, em dezembro, após uma reunião conjunta entre o ministro do Trabalho, Vieira da Silva, a comissão de trabalhadores da Autoeuropa e a administração da empresa, o governo garantiu que iria assumir «responsabilidades em algumas dimensões», como a criação e o reforço de «equipamentos sociais de apoio à família», para responder aos novos horários da fábrica. 

De acordo com os dados do ministério, há 953 creches espalhadas por todo o país que já beneficiam do complemento ao horário alargado. Mas, no total, há 1862 creches com acordos de cooperação com a Segurança Social, o que implica que os acordos são concedidos em 51% dos casos. Só em 2017 foram aprovados mais 111 novos complementos de horário em creche.

Uma situação que já levou os trabalhadores do Parque Industrial  – empresas que fornecem a Autoeuropa – a exigir as mesmas condições, já que também vão ter de mudar de horário, o que implica trabalhar aos sábados, para responder às necessidades da produção do T-Roc.

Confrontado com esta exigência por parte dos trabalhadores do parque industrial, fonte do ministério diz apenas ao SOL que «este acordo de cooperação não é exclusivo para os trabalhadores da Autoeuropa». 

Conflito interno

A guerra não se limita à implementação dos novos horários de trabalho e estende-se agora à própria Comissão de Trabalhadores. Ainda no domingo passado, um grupo de trabalhadores fez uma vigília à porta de fábrica, garantindo que não se sente representado pela estrutura liderada por Fernando Gonçalves e já fez um abaixo-assinado para apresentar várias propostas alternativas às solicitadas pela CT. 

Foi com base nesse documento criado pelo movimento Juntos que os trabalhadores aprovaram dois dias de greve marcados para dia 2 e 3 de fevereiro, altura em que já terão entrado em vigor os novos horários de trabalho, caso a administração da fábrica de Palmela não tenha recuado nas suas intenções. No entanto, para que a paralisação se concretize é necessário que seja convocada pelos sindicatos, como o Site-Sul, que foi o rosto da última greve.

Ao mesmo tempo, este grupo de trabalhadores defende que «em «todos os passos no processo de negociação com a administração, a Comissão de Trabalhadores se apresente com um advogado».

Tal como foi defendido pela CT, este grupo pede aumentos salariais de 6,5% em 2017/2018, mas acrescenta-lhe outro aumento de 6,5% em 2018/2019, com um mínimo de 50 euros por cada ano. E pedem à administração que seja preparado um turno de fim de semana de 12h ao sábado (0h às 12h) e 12h ao domingo (12h às 24h), que permita que as folgas não sejam rotativas, nem de apenas um dia, apurou o SOL.

O baixo-assinado recorda ainda que «o trabalho por turnos já é uma forma de organização do trabalho prejudicial à vida familiar e à saúde dos trabalhadores», lembrando ainda que, «segundo o contrato coletivo em vigor, a fábrica não tem permissão para impor laboração contínua e trabalho ao sábado à noite sem o consentimento dos trabalhadores».