Fernando Medina tem azar

O Bloco de Esquerda reivindica para si os louros dos livros escolares gratuitos para toda a gente

Fernando Medina tem azar, porque parece sempre apanhado em contraciclo pelo tempo e pelas circunstâncias. 

Entre 2013 e 2015, então vereador das finanças, Medina foi ‘por definição’ o vereador que alienou património e aumentou impostos. Era um homem razoável, de discurso moderado, defensor do capitalismo, que zurzia na extrema-esquerda sempre que podia e sobretudo no PCP (Freud explica…), mormente nas especiais conceções económicas desses partidos – que, quando dizem ‘privado’ parecem dizer ‘diabo’, e quando dizem ‘lucro’ sussurram ‘vá de retro’. 

Em 2015, António Costa troca a CML pela presidência do PS, assumindo Fernando Medina interinamente a presidência da CML, subindo o independente João Paulo Saraiva a vereador das finanças. 

Mais tarde, quando Costa ascende a primeiro-ministro e forma Governo com apoio parlamentar da extrema-esquerda, o BE e o PCP tornam-se, da noite para o dia, BFF´s (best friends forever) do PS, de António Costa, mas também de Medina.

De 2015 em diante, Fernando Medina, presidente da CML, abandona as críticas ao PCP e ao BE, radicaliza o discurso e alinha pela ‘geringonça’ de António Costa. 

Nas autárquicas de outubro de 2017, Medina ganha as eleições mas perde a maioria na Câmara e vê-se forçado a coligar-se com o parceiro preferencial de António Costa, Ricardo Robles, eleito pelo BE, tornado agora o nono vereador de Medina. 

Se pudesse escolher, estou certa que, por feitio, ideologia e proximidade, Fernando Medina teria escolhido o CDS ou o PSD para formar executivo. 

Constituído este executivo camarário lisboeta, permanecia o mistério de como seria o relacionamento entre o PS e o vereador bloquista. 

Começámos por ver o folclore do cartaz colocado pelo BE no Campo Pequeno, em que o pequeno partido reivindica para si os louros dos livros escolares gratuitos para toda a gente. 

Para além da óbvia bravata, que coloca em causa a coesão interna do executivo camarário, perguntamos: de quem é a responsabilidade quando a taxa de Proteção Civil declarada inconstitucional não é devolvida? De quem é a responsabilidade pelo mau serviço da municipal Carris? De quem é a responsabilidade pelo problema da habitação municipal? O que é que aconteceu às casas em renda acessível? E o alojamento local? Os problemas já estão resolvidos? Veremos mais cartazes sobre estas matérias?

Mas para além destas questões, que qualquer pessoa consegue antecipar, já se sabe que a relação no interior do executivo camarário lisboeta é muito má. O vereador bloquista não se entende com o vereador Manuel Salgado, nem com os restantes vereadores. 

Pensando bem, talvez o problema de Fernando Medina não seja o azar, talvez seja mais propriamente a total falta de autonomia face a António Costa. 

Herdar a CML foi bom, mas governar com o Bloco é muito mau karma. 

sofiarocha@sol.pt