Austrália planeia ser um dos principais exportadores de armas do mundo

O primeiro-ministro australiano defende que a sua estratégia criará novos postos de trabalho

Se há indústria que parece nunca entrar em crise, é a do armamento. O primeiro-ministro australiano, Malcolm Turnbull, reconheceu-o e revelou esta manhã uma nova "estratégia de exportação de defesa" para transformar a Austrália num dos dez principais exportadores de armas do mundo na próxima década.

Nos últimos anos, o país tem factuarado entre 1,5 mil milhões (mil milhões de euros) e 2,5 mil milhões de  dólares (2 mil milhões de euros) em "exportações de defesa", mas pretende agora aumentar significativamente esse valor. Entre os "mercados prioritários" encontram-se o Médio Oriente, Europa, Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Nova Zelândia. 

Entre as decisões do plano encontra-se a da criação de um novo Gabinete de Exportações de Defesa, que trabalhará em conjunto com a Austrade, agência governamental de promoção do comércio, investimento e educação, e com o Centro para a Capacidade da Indústria de Defesa, coordenando as exportações com os restantes Estados-membros da Commonwealth. 

"É um ambicioso, positivo plano para impulsionar a indústria australiana, aumentar o investimento e criar mais postos de trabalho para os negócios australianos", disse o primeiro-ministro australiano. "Uma forte indústria de exportação de defesa vai providenciar uma maior certeza ao investimento, apoiar trabalhos altamente qualificados e a apoiar a capacidade das forças de defesa australianas", complementou. 

Apesar do nível de desemprego na Austrália se situar nos 5,5%, o primeiro-ministro defende que uma das principais motivações da sua estratégia é a criação de mais postos de trabalho. "Esta estratégia é sobre a criação de postos de trabalho", defendeu. "Vai fazer da indústria de exportação australiana uma das melhores do mundo", complementou. 

Apesar das promessas de mais postos de trabalho, nem todos os australianos vêem este plano com bons olhos. Um deles é Tim Costello, presidente da "World Vision Australia", organização cristã que trabalha para a redução da probreza e dos conflitos. "O governo diz que esta é uma oportunidade para exportar e atrair investimento, mas o que vamos fazer é exportar a mortar e lucrar com derramamentos de sangue". 

Para Costello, este plano coloca em causa os próprios valores australianos. "Quando o governo australiano procura novas oportunidades de exportação e de indústria, o melhor que arranja são armas?", questionou. "Milhões de pessoas por todo o mundo estão a fugir da violência e a nossa resposta é produzir mais armas. Qualquer dinheiro que façamos desta indústria, será dinheiro ensaguentado", denunciou. 

Também o principal partido da oposição, o Partido Trabalhista australiano, está contra este rumo económico. "Porque é que o governo não está a investir, por exemplo para o setor da energia renovável?", disse Anthony Albanese, o ministro sombra trabalhista para a infraestrutura. "Se tivéssemos comercializado ao longo dos últimos anos as descobertas que têm sido feito na Austrália em tecnologia, solar, eólica e marítima, então estaríamos hoje bem melhor em termos de postos de trabalho e de potencial de exportação". 

A Amnestia Internacional, a Oxfam Austrália e a "Save the Children" criticaram a nova estratégia do governo australiano. "O governo australiano devia respeitar os compromissos que fez na sua política externa de ser uma nação comprometida em promover a paz e a estabilidade na nossa região e além", disse Paul Ronalds, presidente da "Save the Children". 

Os dez principais Estados exportadores de armamento de guerra, entre 2012 e 2016, foram os Estados Unidos, Rússia, China, França, Alemanha, Reino Unido, Espanha, Itália, Ucrânia e Israel, segundo dados do "Stockholm International Peace Research Institute". A Austrália ficou em 20º lugar e agora quer subir na cadeia alimentar.