Justiça. Socialistas atacam investigação a Mário Centeno

Deputados do PS consideram este caso patético e ridículo. “Não se pode levianamente prejudicar a imagem de uma pessoa”, diz Edite Estrela

Os socialistas não escondem a indignação com a investigação do Ministério Público ao ministro das Finanças, Mário Centeno. O primeiro-ministro já garantiu que “mesmo que venha a ser constituído arguido”, Centeno não sairá do governo, e alguns deputados do PS classificam este caso como “anedótico”, “patético” e “ridículo”. 

Ao i, a socialista Edite Estrela considera que “é um caso que não faz sentido” e lamenta que “não tenha sido salvaguardado” o segredo de justiça. “É uma situação ridícula. Não se pode levianamente prejudicar a imagem de uma pessoa, muito menos quando isso tem consequências na imagem do país.”

A deputada e constitucionalista Isabel Moreira também considera este caso “patético”. Na sua página de Facebook, a socialista começa por lembrar que “cabe às autarquias verificar a isenção de IMI e não ao Ministério das Finanças”, e considera que “é anedótico pensar que um ministro está à venda por dois bilhetes para a bola”.

No mesmo sentido, Pedro Bacelar de Vasconcelos, presidente da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, classifica o caso como “anedótico”. Em declarações ao Porto Canal, o deputado do PS disse esperar que “existam boas justificações para o Ministério Público ter dado início a esta investigação” e considera que “a credibilidade da justiça e do MP não estão em bom estado”.

O Ministério Público fez buscas no Ministério das Finanças na última sexta-feira. A Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou a realização de buscas para “recolha documental” e esclareceu que “foram no Ministério das Finanças, não no gabinete de trabalho do ministro”.

Como já foi tornado público, o MP está a investigar se existe alguma ligação entre um pedido de Luís Filipe Vieira relativo à isenção de IMI para um prédio que o filho queria vender e a ida de Centeno a um jogo de futebol. 
O “Correio da Manhã” noticiou, esta semana, que o ministro está disponível para pedir a demissão se for constituído arguido. António Costa garantiu, porém, na segunda-feira, que “em circunstância alguma” o ministro sairá do governo. 

“Não é assunto” 

O primeiro-ministro disse, ontem, em Bruxelas, que este é um caso que está encerrado. O Partido Popular Europeu (PPE) fez uma proposta para a realização de um debate sobre “alegações contra o ministro das Finanças português e presidente do Eurogrupo”. António Costa garantiu que “só por má informação o PPE tinha pedido que o tema fosse debatido e, quando foi esclarecido da irrelevância do tema, tomou ele próprio a iniciativa de o retirar. Não é assunto”.

Centeno foi ontem ouvido no parlamento. Apenas o CDS abordou o assunto. Cecília Meireles começou por explicar que o seu partido faz uma distinção muito clara “entre aquilo que cabe à política e aquilo que cabe à justiça”, mas não deixou de afirmar que “seria bom que o governo percebesse que não lhe compete mandar recados ao Ministério Público”. 

O ministro ignorou a intervenção da deputada centrista e não fez nenhum comentário sobre a investigação. 
Não é a primeira vez que a ida de governantes ao futebol gera polémica. Em julho passado, os secretários de Estado dos Assuntos Fiscais, da Indústria e da Internacionalização saíram do governo por causa das viagens pagas pela Galp para assistirem a jogos do Euro2016. 

Os governantes, num comunicado conjunto, garantiram na altura que “os seus comportamentos não [configuravam] qualquer ilícito”. O pedido de demissão foi justificado com a necessidade de garantir que “o executivo não [fosse] prejudicado, na sua ação, por esta circunstância”.