Rankings e omeletes sem ovos

À semelhança do ano anterior, dedicamos esta edição do b,i. à publicação dos rankings escolares, que este ano chegam um pouco mais tarde do que o habitual. 

Daqui a três anos faz duas décadas que os rankings são divulgados e fará, portanto, 20 anos a discussão sobre os méritos da publicação dos mesmos.

Estudei sempre em escolas públicas e a minha escola secundária nunca teve resultados brilhantes. Lembro-me das conversas dos corredores dessa altura, e de um certo desapontamento associado à posição que tínhamos conseguido. A campainha tocava e pronto, o ano continuava sem sobressaltos. Mas para muitos, que leem os rankings pelas linhas da competição, não será bem assim.

«Não veria tanto as coisas como concorrência entre públicos e privados, no sentido de um campeonato. Vejo a concorrência como algo sempre útil, importante para que todos melhorem», considerou o ex-ministro Nuno Crato numa que entrevista publicamos nesta edição. Certíssimo. É sempre bom conhecer os exemplos que funcionam para os replicar noutros sítios.

Mas a verdade é que, para muitos educadores, o desejo saudável de colocar os filhos numa escola tida como boa salta rapidamente para a obsessão e todos os anos, na altura das matrículas, é ver pais a entregar moradas falsas e a inventar encarregados de educação para os filhos. 

No outro extremo, o das piores escolas, esta é aquela semana do ano que todos querem que passe rápido. No ano passado liguei para uma das escolas com pior cotação, na zona de Lisboa, a pedir para fazer lá uma reportagem. Do outro lado da linha, um professor só não me desligou o telefone na cara por cortesia. Respondeu que faziam milagres, que trabalhavam arduamente com grupos de alunos muito desfavorecidos e que esta era a única altura do ano em que os procuravam para fazer notícia. Pelas piores razões, claro.

Esta devia ser a altura do ano em que os rankings, longe de serem usados como propaganda, arma de arremesso, ou vender jornais deviam obrigar os responsáveis a dar uma resposta social integrada – e que vai muito para lá das quatro paredes – a estas escolas, onde muitos professores continuam, há anos, o trabalho heroico de fazer omeletes sem ovos.

Os rankings são um exercício de transparência pelo qual muito se lutou, e só fazem sentido se forem aproveitados para isso mesmo. E estes alunos – e professores – precisam da auto estima sucessivamente destruída nas primeiras semanas do ano. Há quase 20 anos.

P.S. Este ano, tanto no básico como no secundário, as escolas públicas voltaram a ganhar terreno aos colégios entre as cem escolas mais bem classificados. E isto só pode ser uma boa notícia para todos os professores, alunos e pais do país.