Cancro da mama. Será que nova descoberta pode influenciar produção de espargos em Portugal?

Estudo revela que substância presente nos espargos pode propiciar desenvolvimento do cancro da mama. Produtor português não se mostra preocupado com o impacto desta investigação

Um estudo publicado recentemente e que juntou vários cientistas do Reino Unido, Canadá e Estados Unidos, explica que há um aminoácido presente nos espargos que ajuda a disseminar as células cancerosas, especialmente nos tumores do cancro da mama.

O estudo foi publicado na revista científica "Nature" e mostra que os tumores do cancro da mama têm maior dificuldade em propagar-se quando não são sujeitos à presença da asparagina – um aminoácido codificado pelo código genético, sendo um dos mais comuns no planeta Terra – que se encontra não só nos espargos, mas também em produtos lácteos e no marisco.

Comercialização de espargos pode ser afetada em Portugal?

O SOL quis tentar perceber se as empresas que produzem espargos em Portugal podem vir a ser afetadas com esta revelação, uma vez que este produto hortícola é um dos que contém este componente.

De acordo com Rui Sousa, administrador da empresa Villabosque – uma das empresas que produz espargos em Portugal -,os novos estudos parecem-lhe "estranhos", pois sempre ouviu dizer que os espargos “limpam o sangue e ajudam a prevenir o cancro”.

No entanto, questionado pelo SOL se a empresa poderia vir a sofrer alguma quebra na comercialização, Rui admitiu que “pode vir a ter impacto cá”, mas que será “pouco significativo”.

“Nós somos dos poucos que produzem espargos, mas a maior parte deste produto hortícola é exportado, principalmente para Espanha e para o Peru. Portanto, sobram apenas cerca de 20% de espargos em Portugal. É pouco significativo”, acrescentou o responsável.

O SOL tentou entrar em contacto com várias empresas responsáveis pela produção de espargos em Portugal, mas sem sucesso. 

Asparagina tem influência em tumores secundários

Ao surgir um primeiro tumor maligno (que raramente é fatal), o nível de perigo aumenta quando há a disseminação de metástases, algo que acontece quando as células cancerosas ‘abandonam’ o tumor principal e vão sobrevivendo na circulação sanguínea, acabando por se espalhar pelos outros órgãos.

É então na sequência de todo este processo que os investigadores acreditam que este aminoácido 'entra em ação', uma vez que se pensa que a redução do consumo de asparagina não previne o aparecimento de tumores primários.

Contudo, apesar da realização de vários testes, estes apenas foram feitos em ratos, pelo que os próprios investigadores defendem a realização de mais estudos para apurar os efeitos nos seres humanos. Ainda assim, esta investigação pode ajudar os doentes com cancro a ter uma dieta mais equilibrada, sem a presença da asparagina.

O responsável pelo estudo foi o Centro de Pesquisa do Cancro de Cambridge e este foi testado em ratos que tinham uma forma agressiva de cancro da mama. A investigação revelou que os ratos levavam cerca de duas semanas até morrer mas descobriu-se que, havendo uma dieta pobre em asparagina, os tumores propagavam-se de uma forma mais lenta.

De acordo com o professor universitário Greg Hannon, esta descoberta trata-se de uma “grande mudança".

Já em 2017, a Universidade de Glasgow, na Escócia, tinha concluído também que se aminoácidos como a serina e a glicina fossem eliminados da alimentação, existia uma menor probabilidade de se desenvolverem linfomas e cancro intestinal.

“Estamos a arrecadar cada vez mais provas que mostram que cancros específicos são viciados em certos componentes da nossa dieta. No futuro, ao modificar a dieta dos pacientes ou ao usar medicação que bloqueie o acesso dos tumores aos nutrientes esperamos melhorar os resultados da terapia”, referiu Greg Hannon.