Novo banco cultura: Ordem para descentralizar

Um núcleo impressionante de numismática, uma biblioteca cheia de raridades, 97 pinturas antigas e um acervo de fotografia contemporânea de nível mundial: o Novo Banco ‘herdou’ quatro coleções distintas que agora quer mostrar aos portugueses, sob o lema ‘Arte & cultura partilham-se’. A biblioteca e as moedas já têm destino final, quanto às pinturas e…

Novo banco cultura: Ordem para descentralizar

Um tesouro subterrâneo
Constituída por 13 mil peças e adquirida em 2008 a Carlos Marques da Costa, o empresário das pastilhas Gorila, a coleção de numismática do Novo Banco é talvez a mais completa de moedas nacionais e das antigas colónias. Encontra-se bem guardada e exposta em condições excecionais no piso inferior da sede do banco, muitos metros abaixo do nível da rua. É a única que não vai sair de onde está atualmente.

«É verdadeiramente um museu, com todas as valências que um museu de numismática exigiam. Dado ser uma coleção relativamente recente no banco e as circunstâncias dos últimos anos nunca houve uma grande ativação», comenta Paulo Tomé, coordenador do Departamento de Comunicação e Relações Institucionais do Novo Banco. «Diria que oficialmente nunca foi inaugurada, ainda é um segredo bem guardado. Com o Novo Banco Cultura pretendemos voltar a ter um plano de visitas, dar-lhe visibilidade dentro das limitações a que uma coleção desta natureza obriga, com visitas marcadas para grupos relativamente pequenos».

A manutenção deste valioso património em solo nacional «foi um compromisso que o novo acionista do Banco assumiu com o Estado Português», esclarece Paulo Tomé.
 

Raridades no seio da academia
Em 2008 o BES adquiriu ao filólogo José Vitorino de Pina Martins (1920-2010) a biblioteca de estudos humanísticos que este foi reunindo ao longo da vida. Leitor de Língua e Literatura Portuguesa em Itália, estudioso do livro no Renascimento e da história da cultura portuguesa, Pina Martins possuía livros de grande raridade, como nove incunábulos (livros dos primórdios da imprensa, editados até 1500), obras da oficina do humanista Aldo Manuzio e centenas de títulos do século XVI.

«Firmámos um protocolo com a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que iremos formalizar em abril com a primeira vista ao público. Tratando-se de uma biblioteca específica, de um território erudito, foi dirigida a uma universidade, para estar aberta à investigação e ao estudo», explica Paulo Tomé.

Privilegiar o interior
No passado dia 29 de janeiro, uma cerimónia no Museu dos Coches assinalou o primeiro empréstimo de longo prazo de uma pintura da coleção do Novo Banco, O Cortejo de Entrada em Lisboa de Monsenhor Giorgio Cornaro, em 1693,  a instituições de natureza cultural. Pinturas que outrora decoravam o 15.º piso da sede do banco, onde está instalada a administração, deverão rumar a vários pontos do país. «Queremos que este património tenha uma fruição pública e descentralizada», revela Paulo Tomé. «Temos 97 quadros e estamos a analisar quadro a quadro para os alocar a museus ou centros culturais de todo o país, privilegiando o interior». Uma dessas obras é O Naufrágio em Peniche (na foto), de Pillement, que está previsto rumar ao Museu da Resistência que nascerá na fortaleza daquela cidade.