O percurso de Arthur Hanse, o segundo representante português nos Jogos da Coreia.

Uma semana depois de apresentar a história de Kequyen Lam, o SOL dá a conhecer o percurso de Arthur Hanse, o segundo representante português nos Jogos da Coreia.

Aqui vivemos apenas para o desporto. Para o espírito e valores olímpicos. Se o desporto puder unir aquilo que a política tende a separar, então teremos cumprido a nossa missão». As palavras são de Pedro Farromba, presidente da Federação de Desportos de Inverno de Portugal (FDIP), ao SOL.

Num momento em que se encaminhava para a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, que decorreu esta sexta-feira na Coreia do Sul, o líder federativo mostrou-se despreocupado relativamente ao facto de o evento desportivo acontecer sob fortes medidas de segurança, devido à atual situação política que se vive na península. «O desporto tem o poder de mudar o mundo», lembra o representante máximo de Portugal em Pyeongchang, recorrendo ao ideal empregue por Nelson Mandela. 

Farromba está em solo sul-coreano a acompanhar os dois representantes portugueses nas Olímpiadas, o lusodescendente Arthur Hanse e o macaense Kequyen Lam, até ao próximo dia 25 de fevereiro. «Os atletas e todos nós [comitiva portuguesa] estamos particularmente nervosos, como é natural», explica, embora tenha deixado explícito, ainda antes da partida, que as expetativas lusas não passam pelas medalhas.

Portugal além do futebol 

Aos 24 anos, Arthur Hanse vai representar as cores portuguesas pela segunda vez. «Tenho nacionalidade portuguesa, vivo como um português fora do país, tenho amigos portugueses, gosto de Portugal, da cultura, do futebol, da comida, das bebidas… Sinto-me tão português quanto um português ou até mesmo mais», assevera. Há quatro anos, o luso-francês foi o porta-estandarte nos Jogos de Sochi. «É uma grande honra competir por Portugal em competições internacionais porque estou a representar uma parte da minha família e um país de que gosto muito! Quero mostrar ao mundo que Portugal não tem unicamente futebol, mas também outros desportos!», conta ao SOL o atleta, que vai entrar em ação nos dias 18 e 22 de fevereiro, em slalom e slalom gigante, respetivamente. 

A aventura na neve começou em pequeno, numas férias com a família, mas depressa, embora de forma natural, o hobbie passou a ser um trabalho a tempo inteiro. «Fiz provas internacionais para me preparar para os Jogos. Além disso, tenho os treinos em slalom e slalom gigante, em que faço 6 a 8 mangas por treino, e os treinos de ginásio, para aumentar a minha capacidade física», resume Hanse, assegurando que essa rotina lhe trouxe «regularidade, confiança e técnica». A meta para Hanse passa por terminar as corridas em slalom e slalom gigante, um feito que não conseguiu alcançar na Rússia. «Acabar as corridas para que Portugal seja classificado! Um top-30 seria um sonho e um top-50 é uma realidade», adianta o jovem que num futuro próximo tem como objetivo dividir o seu ano entre Portugal e França. «Quero passar seis meses em França, para praticar, e seis meses em Portugal, para trabalhar com a minha federação e desenvolver o esqui em Portugal!», revela o atleta que, findo o inverno, costuma voar para Portugal  para visitar o padrinho que reside em Leiria e vários amigos que tem na capital lisboeta. «Também prefiro ir para Portugal no verão por causa do sol e das praias», confessa.

Para Hanse, só agora se está a iniciar uma «revolução» nos desportos de inverno em Portugal e, por essa razão, acredita que «vai ser encontrada uma ótima equipa portuguesa para os JO de 2022». 

Ontem, na cerimónia de abertura, ficou a cargo do estreante Kequyen Lam a responsabilidade de ser o porta-estandarte da delegação. «O Kequyen é um estreante em Jogos Olímpicos, mas está totalmente envolvido no espírito da missão, como também está o Arthur Hanse. Há quatro anos, foi o Arthur o porta-estandarte, pelo que considerámos que seria justo atribuir esta missão ao Kequyen», escalereceu Farromba, em declarações ao COP.  Recorde-se que o macaense de 38 anos cumpriu «um sonho de uma vida» ao qualificar-se para os Jogos Olímpicos, evento no qual vai defender a bandeira portuguesa durante 15 km, no esqui de fundo, no dia 16 de fevereiro, e tentar bater a marca de Danny Silva, que em 2006, em Turim, terminou no 94.º posto. 

As discretas prestações lusas 

Não é difícil encontrar uma explicação para a fraca participação portuguesa nas várias edições dos JO de Inverno. Contudo, Portugal foi marcando presença, muito discretamente, no maior evento relacionado com os desportos de inverno. Duarte Espírito Santo foi o primeiro luso a entrar na competição à passagem da sua VI edição. Em 1952, em Oslo, o esquiador, que tem a particularidade de ser entre todos os outros o único atleta a viver em Portugal, terminou na 69.ª posição na prova de descida. Só 36 anos mais tarde, em 1988, voltaria a existir aparição portuguesa na prova multidesportiva. Com um total de quatro atletas, Calgary teve a maior participação de sempre lusa: António Reis e João Poupada, em Bobsleigh 2, Jorge Magahães e João Pires, também em Bobsleigh 2, e a junção dos dois grupos para concorrer em Bobsleigh 4, trouxe, na prova realizada pelo quarteto, o 25.º lugar da classificação. Na década de 90, Georges Mendes foi a cara portuguesa nas Olímpiadas de Inverno. Uma lesão acabou por impedir a sua participação em Albertville, em 1992, tendo corrido em três provas nos JO de Lillehamme, em 1994, onde o 30.º posto em descida foi a sua melhor marca. 

Em finais dos anos 90, em Nagano, Mafalda Queirós Pereira tornou-se na melhor portuguesa de sempre, ao conquistar o 21.º lugar no esqui acrobático, numa prova que contou ainda com a paticipação de Fauto Marreiros nos 5.000 m de patinagem (31.º posto). Em 2006, Danny Silva foi o único português a prestar provas em Turim, sendo que esta lista fica completa com as qualificações de Arthur Hanse e Camille Dias em 2014, nos Jogos de Sochi.