O autor era D. H. Lawrence, o mesmo do polémico O Amante de Lady Chaterley, que foi datilografado a tinta vermelha, publicado clandestinamente em Itália em 1928 e julgado no Reino Unido por ‘obscenidade’ já em 1960.
Assim que tirei da prateleira estes Estudos de Literatura Clássica Americana fiquei encantado com a capa, que exibia uma bonita pintura, uma natureza-morta com livros, papéis, uma pena e um tinteiro. Não resisti a levá-lo.
A primeira deceção veio já em casa, quando espreitei o índice. Fennimore Cooper, Melville, Poe, Whitman… mas nada sobre Mark Twain. E eu tinha lido, dois dias antes, que Hemingway considerava o As Aventuras de Huckeberry Finn o melhor livro americano de sempre! Aqui ficam as suas palavras exatas, para que não haja dúvidas: «Toda a literatura moderna vem de um livro de Mark Twain chamado Huckleberry Finn… É o melhor livro que tivemos. Toda a escrita americana vem daí. Não havia nada. E desde então nunca houve nada tão bom», declarou o autor de OVelho e o Mar.
As primeiras páginas também não me agradaram. A palavra ‘clássico’ (e esta obra não apenas se chama Studies in Classic American Literature como pertence à coleção de clássicos modernos da Penguin) sugere algo sereno, sóbrio, sólido. Olivro de Lawrence era o oposto: enfático, arrebatado, provocador. Porventura revolucionário, mas talvez por isso pouco do meu agrado… Resumindo: a alturas tantas percebi que estava a fazer um sacrifício para o ler. E foi então que tomei uma decisão que até julgaria impensável: devolvê-lo à livraria onde o tinha comprado.
Uns tempos depois, no livro póstumo de Susan Sontag At the Same Time, fui surpreendido pelo elogio que a autora faz ao livro de Lawrence que eu tinha rejeitado.
E sempre que regressava àquela livraria e o via na prateleira da loja voltava a olhar para aquela capa e a sentir-me tentado, mesmo sabendo que o conteúdo não me interessava.
Este episódio passou-se há uns bons oito anos. Mas às vezes ainda me pergunto – com um longo suspiro – se terei tomado uma decisão acertada.