Liga dos Campeões. O dragão e o mostrengo, o mosqueteiro e o velho fidalgo

Hoje é dia de Basileia-Manchester City e Juventus-Tottenham. Amanhã, sim! Quarta-feira europeia à antiga, com o único português em prova, o FC Porto, a receber o Liverpool e um fervilhante Real Madrid-PSG!

Liga dos Campeões. O dragão e o mostrengo, o mosqueteiro e o velho fidalgo

A Liga dos Campeões está de volta, o que quer dizer que voltaremos a ver os gigantes da Europa a defrontarem-se uns aos outros, apesar de nestes oitavos-de-final ainda haver por aí uma ou outra pera doce, como se costuma dizer – embora possa, de súbito, tornar-se amarga como o fruto da pitangueira.

Digo aos bochechos porque, como se sabe, decorrem esta semana quatro encontros, divididos entre hoje e amanhã, guardando a UEFA mais quatro para a semana seguinte – assim uma maneira de ir fazendo durar o prazer e o negócio, prazer para quem é espetador (tele ou ao vivo), negócio para aquela rapaziada sediada na Suíça que, desta forma, terá mais gente a concentrar-se em menos minutos, com a conveniência que isso traz. 

Assim sendo, vamos ter pela noite, às 19h45 – hora Liga dos Campeões – o Basileia-Manchester City e o Juventus-Tottenham.

Não se pode dizer que a equipa de Guardiola, que anda a passear-se na liderança do campeonato inglês, já com o United de José Mourinho a dezasseis (!!!) pontos de distância – assim mesmo por extenso e com pontos de exclamação –, não seja vista como uma das que, com maior ou menor dificuldade, estará presente na eliminatória que se segue. Afinal, pudemos todos ver que, e apesar daquela inacreditável goleada de 5-0 ao Benfica, o Basileia não tem estaleca para embates deste calibre. E, se a tiver, então cá estaremos para nos pregar no madeiro a que sujeitam todos os que lançam palpites e os falham em toda a linha.

Já em Turim, o embate entre Juventus e Tottenham parece ser o mais equilibrado destes oitavos-de-final. O Totten-ham tem sido, nos últimos anos, uma das equipas mais interessantes da Europa, e a fase de grupos que realizou, tendo Real Madrid e Borússia de Dortmund como compères, serve para demonstrar o que aqui fica escrito. Pode não estar muito benquisto no coração do entusiasta pelo futebol em geral, mas é, sem dúvidas, um motivo que deve atrair sem rebuço aqueles que se interessam pela construção de um conjunto sólido e agressivo, com Mauricio Pochettino no centro da equação.

Amanhã

Dia grande da semana, a quarta-feira, à moda das antigas quartas-feiras europeias que encheram de graça a nossa infância e adolescência, dias infinitos de futebol para pendurar na parede branca da sala de estar da memória.
O FCPorto, único português em campo de batalha na Liga dos Campeões, defronta uma das suas bestas negras. 
Na verdade, o confronto entre ambos é de deixar os “supporters scousers” de água na boca. Veja-se: 2000/01 – FCPorto, 0 – Liverpool, 0; Liverpool, 2 – FCPorto, 0; 2007/08 – FCPorto, 1 – Liverpool, 1; Liverpool, 4 – FCPorto, 1.

Os resultados não dizem tudo e, sobretudo, não valem no momento de as equipas entrarem em campo. A alergia que os portistas têm a tudo quanto são equipas inglesas é visível e notória: no total de 36 embates, oito vitórias, nove empates e 19 derrotas. E nem uma única e solitária vitória lá na “glorious mud” da Grande Ilha.

Por outro lado, também o mostrengo Liverpool não tem qualquer vitória nas Antas, até ao momento, o que indica que, no Porto, os confrontos tiveram muito de equilíbrio.

Talvez esse equilíbrio se repita amanhã, dia em que os olhos de todos estarão inevitavelmente virados para o rei da Taça dos Campeões, oReal Madrid, dono de nada mais nada menos que 12 troféus, e para o riquíssimo Paris Saint–Germain, praticamente sem história na Europa do futebol.

Há algo de irónico nesta eliminatória que terá o seu primeiro jogo noSantiagoBernabéu. É um desafio como uma justa de outros tempos. O sonho dos parisienses é a conquista da Liga dos Campeões, seja lá quando for. Para a obter, transformaram-se no clube mais gastador dos tempos recentes, investindo centenas de milhões de euros em estrelas universais. Um jovem mosqueteiro, engalanado em traje de luces, desafia o velho fidalgo que continua seguro do seu estatuto.

Tem-se provado que, apesar dos investimentos alucinados do PSG, a Liga dos Campeões parece ainda distante das suas possibilidades. Viu-se na época anterior, frente ao Barcelona, mesmo com desconto de alguma ajudinha arbitral – até isso é necessário para uma candidatura convicta à taça das orelhas grandes. Eliminar oReal será algo de retumbante um pouco por todo o mundo.