Carnaval do Rio. Sátira política da Beija-Flor vence desfile das escolas

Escola do Beija-Flor foi a grande campeã e Paraíso do Tuiuti acabou por ser a grande surpresa. A crítica social e política foi o prato forte do maior Carnaval do mundo

O Carnaval do Rio de Janeiro, no Brasil, foi este ano marcado pela temática política e pelos problemas sociais que o país atravessa. A escola vencedora foi a do Beija-Flor, que usou como tema “Brasil Monstruoso”. Esta que é uma das mais importantes escolas de samba do Rio (com 13 vitórias e 12 segundos lugares) fez um desfile em que criticou a corrupção, a desigualdade e a intolerância no Brasil. “Monstro é aquele que não sabe amar os filhos abandonados da pátria que os pariu”, era o mote do samba-enredo da escola do município de Nilópolis. A Beija-Flor venceu com 269,6 pontos, naquele que foi o seu 14.o título no Carnaval carioca.

“A Beija-Flor fez as pessoas cantarem o samba pelo pedido de socorro. As imagens foram muito fortes, aquele teatro todo retratando o que o nosso país está passando. Foi um grito de socorro”, disse Raíssa, bailarina de samba e madrinha da escola do Beija-Flor, que desfilou ao lado de Pablo Vittar, o novo fenómeno pop do Brasil.

Com menos uma décima, em segundo lugar ficou a escola do Paraíso do Tuiuti. Esta escola de samba era vista como a preferida do público e foi a mais comentada nas redes sociais. Numa sondagem realizada pelo site UOL, era mesmo vista como a melhor de todas as 13 escolas de samba que desfilaram.

Um ano após o incidente com um carro alegórico que ficou desgovernado, atropelando mortalmente uma pessoa e deixando outras 19 feridas, o Paraíso do Tuiuti renasceu das cinzas para conquistar o vice-campeonato do Carnaval 2018.

Sob o tema “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”, a escola de samba que teve origem no morro do Tuiuti fez um desfile onde lembrava os 130 anos do fim da escravatura no país e criticava a reforma trabalhista. “Não sou escravo não senhor, meu paraíso é meu bastião, meu Tuiuti o quilombo da favela, é sentinela da libertação”, cantavam os sambistas.

“O objetivo era tratar da exploração do homem pelo homem. Não só da escravidão negreira, mas dessa exploração que se estende por séculos, passando pelos egípcios, celtas, romanos, e que continua nos dias atuais. Fazer uma pessoa trabalhar uma jornada de 12 horas, como as costureiras, por um salário às vezes abaixo do mínimo e com direitos mitigados, é perpetuar esse sistema”, disse Thiago Monteiro ao site El País Brasil.

No último carro alegórico estava a personagem do “presidente vampiro”. O grupo não admite que se trata de uma representação do presidente brasileiro Michel Temer, mas diz que é “a favor” dos protestos contra o chefe de Estado.

Para avaliar as várias escolas de samba são tidos em conta nove requisitos: bateria, samba-enredo, harmonia, evolução, enredo, alegorias e adereços, fantasias, comissão de frente e mestre-sala e porta–bandeira. Cada uma destas categorias foi avaliada por quatro jurados.