Cidade do Cabo. “O meu banho não pode ultrapassar os 90 segundos”

A Cidade do Cabo está a passar uma dura crise no que diz respeito ao fornecimento de água e está a aproximar-se aquilo a que se chama o “Dia Zero” – o momento em que deixará de haver água nesta cidade. O relato de uma lusodescendente é realmente assustador.

Cidade do Cabo. “O meu banho não pode ultrapassar os 90 segundos”

O “Dia Zero” está mais perto que nunca e, a Cidade do Cabo está prestes a ficar sem água. Uma mulher que vive na Cidade do Cabo, na África do Sul, relatou o momento em que conseguiu adquirir cerca de seis litros de água, algo que a deixou (muito) contente, tendo em conta o momento de crise que se está a ultrapassar.

“Nem imaginam o que consegui hoje!! Consegui comprar água. 6 litros ao certo. Porque raio isso me faz feliz?
Aqui em Cape Town, estamos a passar por uma dura crise. Aquilo a que chamamos o "Day Zero" aproxima-se: no dia 16 de Abril, deixará de haver água. A primeira grande cidade no mundo que está a ficar sem água.”, começa por contar Aurélie.

“Desde o inicio deste mês apenas me é permitido gastar 50 litros de água por dia (equivalente a puxar o autoclismo 5 vezes). O meu banho não pode ultrapassar os 90 segundos. Esses 90 segundos contam a partir do momento em que abro a torneira (sim… a água vem sempre fria ao início!) Carrego no autoclismo uma vez por dia. Ponho o balde debaixo do duche quando tomo banho para recolher água que pode ser usada para outros fins. Passo um guardanapo em cada prato depois de comer para retirar a maior parte da gordura para depois não gastar tanta água para os lavar. O banho do bebé da minha vizinha é feito num balde, não há lugar para brinquedos flutuarem à superfície. Gostava de ter mais umas plantas por casa, mas o meu namorado relembra-me ‘Aurélie, vais ter que gastar mais água para as manteres.’ Tento reutilizar a roupa que já usei mais vezes antes de a pôr para lavar.”, continua a lusodescendente, admitindo ainda que “o pior ainda está por chegar”.

A seca está a atingir drasticamente a Cidade do Cabo e, por mais triste que seja, esta é uma antecipação do futuro que nos espera, quando as alterações climáticas e o crescimento demográfico começarem a pressionar de forma dramática as reservas de água potável no mundo.

Esta é a segunda maior área urbana da África do Sul (com quase quatro milhões de habitantes), e está a braços com uma seca que diminuiu os níveis de água para abastecimento humano até limites críticos. Tão grave é o problema que já se fala no ‘day zero’ – “Dia Zero” – o dia em que as reservas se tornarão tão críticas que a água deixará de correr nas torneiras para abastecer a população.

Com os seis principais reservatórios que abastecem a cidade a 25,9% da sua capacidade depois de três anos de seca, os habitantes do Cabo vão sonhando com chuva enquanto racionam a água, ao mesmo tempo que o sol lhes lembra todos os dias que a data fatídica está a chegar, o dia em que as reservas que servem a cidade ficarem abaixo dos 13,5%.

Se a situação atingir esse nível dramático, o serviço público de água será cortado e a mesma passará a ser distribuída de forma racionada em 200 pontos designados pela cidade – cada cidadão terá direito a 25 litros por dia, metade da dose atual (até ao final de janeiro as pessoas só podiam consumir 87 litros diários, limite que foi reduzido para 50 a 1 de fevereiro).