The Florida Project. A verdade sobre as princesas

Isto não será Disney, nem podia. Porque só para um drama social seria o realizador de “Tangerine” capaz de viajar até Orlando, na Florida, para um novo filme com Willem Dafoe

Vamos à verdade. E então melhor será dizer já que princesas não serão as das histórias da Disney nesta história que Sean Baker foi contar às suas portas, em Orlando, na Florida. Depois do aclamado “Tangerine”, que rodou inteiro com um iPhone a partir da história de uma prostituta trans, “The Florida Project” vem como um novo drama social, agora às portas do paraíso. A história, que escreveu em conjunto com Chris Bergoch, com quem tinha trabalhado já em filmes anteriores, incluindo nesse, é a de Halley, uma demasiado jovem mãe solteira (Bria Vinaite) e da sua filha, de 6 anos Moonee (Brooklynn Prince), a viverem num pobre motel nos arredores dessa “capital mundial das férias”. E do esbanjamento.

Sobre nada disso será “The Florida Project”, que além dessas duas descobertas – uma das marcas de Sean Baker é já a sua capacidade para a cada filme descobrir talentos entre atores desconhecidos – nos trará ainda Willem Dafoe, provavelmente melhor do que alguma vez o vimos, para o papel de Bobby, personagem à volta da qual se desenrolarão as suas vidas.

O ponto de partida para Sean Baker aqui foi o desconhecido. “O tema do filme, que são os sem abrigo invisíveis (’the hidden homeless’), não me era familiar. Não sabia sequer que havia um termo – ‘the hidden homeless’”, disse em entrevista à “IndieWire”. Foram então várias as viagens até à Florida, ele e Chris Bergoch, coargumentista, explorando essa realidade que da sombra levaram no ano passado à Quinzena dos Realizadores, em Cannes. “Sabia que havia ali histórias [para contar]. Mas só quando começámos a fazer as viagens, a entrevistar as pessoas e a compreender [aquela realidade] é que fomos capazes de aprimorar essas histórias individuais que ajudam a coser este argumento” em que serão as crianças as grandes protagonistas.

Em “The Florida Project”, que chega hoje às salas portuguesas, Baker vê uma espécie de “Os Pequenos Marotos” contemporâneo. “Aqueles que se lembram das curtas “Our Gang” dos anos de 1920 e 30 [”Os Pequenos Marotos” foram a adaptação televisiva disso] recordar-se-ão certamente que eram filmes essencialmente focados em crianças que viviam na pobreza durante a Grande Depressão. Mas a situação económica era apenas o cenário, os filmes centravam-se nas aventuras humorísticas das crianças.”

O mesmo conseguiu conciliar o realizador – ele e Dafoe neste papel que a “Time Out” de Nova Iorque bem situa na mistura delicada mas certeira entre “o projetor, o picuinhas e o sobrevivente secreto” para o seu papel “mais rico e enternecedor” – é aliás para ele a única nomeação para os Óscares (Melhor Ator Secundário) de “The Florida Project”, projeto que disse já em várias entrevistas guardará como especial.

Por vários fatores. “Primeiro porque filmámos num lugar real, um motel que é basicamente o lugar do qual falamos na história, e porque as pessoas que lá estão vivem mesmo lá e ficámos a viver ao lado delas”, contou ao britânico “The Independent”, acrescentando que o método ajudou muito a encontrar este personagem. “Faz parte do método do Sean, ele gosta de misturar coisas que já existem como pano de fundo para a ficção. E claro que a partir daí a composição dos atores não será a convencional. Há muitas crianças, muitos atores em início de carreira, muitos não-atores – toda uma grande mistura de pessoas a viver nesta comunidade.”