Sexo, cruzadas e mentiras

O mundo está a ficar esquizofrénico e as surpresas surgem de onde menos se espera. Não se augura nada de bom

O mundo está a ficar completamente louco ou pelo menos diferente. Em Portugal há quem perca tempo a legislar sobre questões de género em documentos oficiais, como se em vez de se dizer ele ou ela, se deva escrever elea (é apenas uma sugestão), já que dá para todos os lados. A cabotinice legislativa tem destas coisas. Mas as parvoíces governamentais não são um exclusivo português. No outro lado do mundo, no novo, onde é suposto haver uma maior liberdade no que aos costumes diz respeito, o primeiro-ministro australiano decidiu que os membros do seu Governo não podem ter relações sexuais entre si ou com funcionários. Tudo porque o vice-primeiro-ministro teve um caso extraconjugal que vai terminar no nascimento de mais uma criança, cujo género só se saberá daqui a uns anos. Como a vida era mais simples antigamente. Por este andar ainda vamos assistir à proibição de as lojas de roupa para bebés escolherem o cor de rosa para as meninas e o azul para os meninos. 

Os governos entendem cada vez mais que devem meter-se na vida das pessoas sem que o mesmo lhes seja pedido. Se o caso australiano, que deverá implicar a contratação de centenas de detetives privados para descobrir quem dorme com quem, fosse aplicado em Portugal, metade dos ministros e secretários de Estado teriam de divorciar-se, já que muitos vivem em conjunto. Passariam dessa forma a ter relações com pessoas exteriores ao Governo. Digamos que está tudo virado do avesso e que países como a Austrália, onde há cabeleireiras em topless, por exemplo, tornam-se os maiores moralistas, só porque sim.

Nesta loucura de costumes, ainda há dias um amigo me dizia que compra os seus cigarros, Gauloises sem filtro, na Alemanha, já que em muitos outros países é proibido comercializá-los. No caso em apreço, é até um fumador ocasional e que só fuma dois ou três cigarros por dia.

Mas continuemos nas contradições dos novos tempos do politicamente correto, onde piropos viraram crime e os conservadores do Registo Civil passaram a ser necessários numa noite de paixão momentânea.

E é neste cenário de situações bizarras que assistimos na última semana ao ressurgimento da brigada laranja do reumático e dos ‘doidos pela televisão’ a apelarem ao fim das críticas à liderança do PSD, já que é preciso unir o partido. Há pessoas que não têm mesmo vergonha na cara, já que andaram durante anos a zurzir em Passos Coelho, como se este fosse o demónio que tinha descido à terra. 

Sendo o PSD um partido que gostava de se afirmar pela diferença, em que os seus militantes não perdiam uma oportunidade para dizer o que os separava do líder, não deixa de ser estranho este arregimentar de tropas à volta de Rui Rio. Como qualquer português não gostei de ver Passos Coelho cortar nas reformas, nos ordenados ou na Saúde. Mas acredito que Passos Coelho acabará por ficar na história como um dos melhores primeiros-ministros de Portugal, que teve de desempenhar o pior papel possível: o de mau da fita, que piorou a vida das pessoas em nome do futuro do país.

Voltando ao apelo dos arrependidos, é bom constatar que há militantes que não entram na nova cruzada – só nos faltará ver Manuela Ferreira Leite copiar Bruno de Carvalho e pedir a expulsão do partido de todos os que critiquem Rui Rio – como sejam os casos de Carlos Abreu Amorim, mais este, e de Miguel Pinto Luz. Que anunciaram que não concordam com a estratégia seguida por Rio. Independentemente de terem ou não razão, fica-lhes bem dizerem o que pensam.