PCP preocupado com advento do bloco central

A perspetiva de um Bloco Central preocupa os comunistas. E também preocupa o PS, a começar pelo secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos.

PCP preocupado com advento do bloco central

O cimento da geringonça era Pedro Passos Coelho e a união contra o Governo da troika? Sim. Mas os comunistas deram esta quinta-feira o sinal de que estão muito preocupados de que a eleição de Rui Rio mude o jogo político. 

No editorial desta semana do órgão oficial do partido, o Avante!, pode ler-se: «Prossegue a operação de cosmética política no PSD, com congresso marcado para o próximo fim-de-semana, num quadro em que são várias as vozes que procuram colocar na ordem do dia a alteração do sistema político com o objetivo de interromper a defesa, reposição e conquista de direitos e aprofundar a política de direita». Os comunistas insurgem-se assim com aquilo que preveem ser um possível advento de uma aliança PS/PSD que torne a solução de Governo com o apoio dos partidos de esquerda dispensável, tendo em conta que reconhecem a existência de «várias vozes» empenhadas em «colocar na ordem do dia a alteração do sistema político» para rebentar com a geringonça, ou seja, «interromper a defesa, reposição e conquista de direitos».

Uma coisa é criticar o Governo PS – que o PCP faz todos os dias, de modo mais ou menos duro – outra é abdicar do seu peso político na aprovação de leis. Por muito que tanto o Bloco de Esquerda e o PCP tenham vindo a insistir da dificuldade em repetir este acordo que permitiu a António Costa tornar-se primeiro-ministro, é evidente que a estratégia de Rio de colocar o PSD como alternativa para viabilizar um Governo Costa preocupa a esquerda.

E também há socialistas e membros do Governo preocupados com a possibilidade da emergência de um bloco central na próxima legislatura. Um dos maiores defensores dos acordos à esquerda dentro do PS, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares Pedro Nuno Santos, escreveu esta semana um artigo no Público – não por acaso na véspera do Congresso do PSD – intitulado ‘Os desafios da social-democracia’ onde defende que o caminho de futuro para o PS é manter as alianças à esquerda e critica fortemente as propostas de Rui Rio, considerando mesmo que «visto com atenção, o pacote ‘fim da progressividade fiscal-rendimento básico universal-flexibilidade laboral’ não é a nova social-democracia: é o velho liberalismo económico renovado e intensificado».

Mais: depois de enfatizar a «viragem histórica» que foi a constituição da geringonça – «O nosso sistema político tem hoje dois polos distintos, o que promove a dialética entre visões diferentes da sociedade, facilita a escolha do eleitorado e torna mais difícil a emergência de extremismos» – Pedro Nuno Santos termina o seu texto de combate ao Bloco Central  defendendo o papel do Estado e a proteção e reconhecimento do valor do trabalho e insistindo que o caminho de futuro para o PS é a aliança com os partidos de esquerda: «É em torno destes princípios que a social-democracia deve enfrentar os desafios do século XXI. É também em nome deles que devemos garantir que a mudança política conseguida em 2015 seja uma efetiva viragem e não apenas um parênteses na história do PS e da democracia portuguesa». Um recado interno de quem sempre assumiu que conduzia à esquerda para socialistas entusiasmados com o possível apoio do PSD.

O confronto entre esquerda e Governo a propósito das leis laborais prossegue. Os comunistas agendaram para 14 de março um debate parlamentar para apresentar as suas propostas. «Se o Governo de facto diz que defende a contratação coletiva tem que acompanhar esta proposta para garantir a salvaguarda de direitos», diz Rita Rato ao SOL. «Havia condições de repor direitos e nalguns casos aprofundá-los e a opção do PS não tem sido essa. A resposta tem que ser necessariamente a luta dos trabalhadores e o reforço dessa luta  que vai ser determinante para repor e reconquistar direitos».

*Com Filipa Traqueia