PSD. Um “banho de ética” em tempo de seca

Rui Rio fez uma verdadeira revolução no PSD. E, como todas as revoluções, esta promete provocar rebuliço

Num PSD fortemente afectado nos grandes centros urbanos como Lisboa e Porto (basta lembrar o resultado das últimas autárquicas…), o seu novo líder, Rui Rio, não apresenta uma direção exatamente preocupada com a presença nas duas maiores cidades. 

A sua CPN (comissão política nacional) para o PSD não apresenta qualquer nome forte do distrito de Lisboa – Isabel Meirelles é um peso muito leve do concelho de Oeiras – e quase parece que Rio preferia que a São Caetano à Lapa fosse localizada no Porto. Ou pelo menos em qualquer lado que não a capital. 

Historicamente, é pouco comum que Cascais, o concelho do fundador Pinto Balsemão e do atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, nem uma vogal na Comissão Política tenha direito. 

Ricardo Baptista Leite, figura ainda jovem e menos evidente que, por exemplo, Carlos Carreiras ou Miguel Pinto Luz, deverá ser a exceção cascalense, mas para uma vice-presidência de bancada, com a pasta da Saúde. No congresso, o médico fez aprovar a sua moção para a liberalização do uso da canábis. Consigo nessa causa esteve André Almeida, congressista próximo de Salvador Malheiro – novo vice-presidente do partido. 

Insistindo em Malheiro, o presidente da Câmara de Ovar e da distrital de Aveiro, foi de número 2 de Rio durante as diretas para passar a ser o número 2 de Rio no futuro (breve ou não) do PSD. 

Não há, oficialmente, um primeiro vice-presidente do partido com Rio; como, por exemplo, Passos teve Jorge Moreira da Silva. Mas o homem que está sempre à direita do novo líder da oposição é sempre o mesmo – e contrariamente ao previsto não é Morais Sarmento, é Salvador Malheiro. 

O banho de ética que não foi Foi a expressão que ficou, ainda que já tenham passado vários meses. Na apresentação da candidatura de Rui Rio à liderança do PSD, precisamente no distrito de Salvador Malheiro, em Aveiro, o agora eleito líder prometeu um “banho de ética” na política nacional e no partido.

O banho, todavia, não deixou o lustro reluzente nas escolhas feitas para os órgãos nacionais. 

Elina Fraga (ver página 6) foi escolhida para vice-presidente, apesar de estar a ser investigada pela Ordem dos Advogados, da qual foi bastonária.

Salvador Malheiro não teve quaisquer pruridos em dizer em entrevista que a empresa Safina, propriedade de um vereador seu, continuaria a fornecer clubes desportivos cujo dinheiro tem origem em fundos da Câmara a que preside.
Rodrigo Gonçalves, notório (mesmo que derrotado) cacique na máquina do PSD de Lisboa, foi indicado por Rui Rio para a lista oficial ao Conselho Nacional.

Joaquim da Mota e Silva, edil de Celorico de Basto, estava mesmo atrás de Rio durante a cerimónia de encerramento do congresso. Responde por prevaricação em tribunal desde o início do mês.

Estando Portugal em seca, haverá água para tanto banho de ética?

Quero, posso e mando Se há uma ala institucionalista e próxima de Rui Rio tremendamente zangada com a declaração de guerra de Luís Montenegro em pleno congresso, Rui Rio terá também de lidar com uma crescente turma de insatisfeitos entre os seus apoiantes.

Para secretário-geral do partido, tiveram os deputados Pedro Alves e Emídio Guerreiro – ora alternando, ora coincidindo – a nomeação apalavrada, acabando o cargo do aparelho por ir parar a Feliciano Barreiras Duarte. Muito próximo de Rio no último ano e meio, o ex-secretário de Estado e ex-chefe-de-gabinete de Passos deverá ter como secretário-geral adjunto o também deputado Bruno Coimbra. 

O facto de Barreiras Duarte não ser unânime no grupo parlamentar afastou a possibilidade de ser candidato a líder da bancada. 

No que a isso diz respeito, Rio também fez ouvidos moucos a quem quis dizer de sua justiça, escolhendo Fernando Negrão para suceder a Hugo Soares apesar de a maioria dos deputados ‘rioístas’ preferir Luís Álvaro Campos Ferreira depois de Marques Guedes se declarar indisponível.

Sobre Hugo Soares, houve coincidência protocolar que quebrou tradições no congresso.

No encerramento, o ainda presidente da JSD, Simão Ribeiro, foi chamado ao palco, assim como os líderes respectivos dos Trabalhadores Sociais-Democratas e das Mulheres Social Democratas. Respeitando as inerências, também Hugo Soares, ainda líder parlamentar, seria chamado. Tal, todavia, não aconteceu. O ‘montenegrismo’, está visto, custará caro até 2019.