Banca lucra 2 milhões por dia

Os principais bancos lucraram quase 715 milhões de euros no ano passado. Comissões também dispararam, com as instituições financeiras a arrecadarem quase 2 mil milhões. 

Os quatro maiores bancos a operarem no mercado português – BCP, BPI, Santander Totta e Caixa Geral de Depósitos – lucraram 684,8 milhões de euros no ano passado. Dividindo este resultado pelos 365 dias do ano dá um lucro diário de quase 1,9 milhões de euros por dia. Mas este bolo poderá ser maior se juntarmos bancos de menor dimensão como o Montepio. Aí, estamos a falar ao todo de lucros de 714,9 milhões de euros, o que dá um ganho diário muito próximo dos dois milhões de euros.

Um cenário bem diferente quando comparado com 2016, altura em que algumas das instituições financeiras apresentaram prejuízos, penalizando os resultados do setor na ordem dos 1200 milhões de euros e com o banco público a apresentar os maiores prejuízos da sua história, de 1.859 milhões de euros, o que representou um impacto significativo nos resultados do setor em 2016.

O Santander Totta foi agora o campeão dos resultados, ao registar lucros de 436,3 milhões de euros no ano passado, o que representou um aumento de 10% face a 2016. Este crescimento – que é atribuído à evolução positiva das contas, ao crescimento orgânico, mas também à redução dos custos e das provisões – ocorreu num ano marcado pela conclusão do processo de aquisição e de fusão simplificada por incorporação do Banco Popular. 
Uma operação que leva a instituição financeira liderada por Vieira Monteiro a afirmar que este se tornou no «maior banco privado no que se refere ao crédito da atividade doméstica, ocupando a segunda posição no ranking dos depósitos».

Também o BCP que, na opinião de Nuno Amado, «é o maior banco privado com base em Portugal», apresentou um lucro de mais de 186 milhões de euros em 2017. Um aumento de quase oito vezes face aos resultados atingidos no ano anterior, quando se fixaram em 23,9 milhões de euros, valor ajudado pela recuperação da atividade em Portugal, que passou a ser lucrativa, e da redução de provisões e imparidades. 
Mas afinal quem é o maior? Tendo em conta os resultados apresentados, facilmente se conclui que o Santander Totta lidera no crédito concedido ao aumentar no último ano os empréstimos concedidos às empresas na ordem dos 45% e aos particulares em quase 18%, totalizando 41,4 mil milhões de euros.

No entanto, o BCP ganha nos recursos totais de clientes: cresceram 6,6% para mais de 71 mil milhões, com um avanço de 4,5% nos recursos de clientes (sobretudo depósitos) e uma expansão de 13% nos recursos fora de balanço (produtos de capitalização e fundos de investimento).

Maior queda e maior surpresa Já o BPI, detido pelo grupo espanhol CaixaBank, registou no ano passado lucros de 10,2 milhões de euros, um recuo significativo face aos 313,2 milhões de 2016, devido sobretudo ao impacto da sua exposição a Angola, onde tem o Banco de Fomento de Angola (do qual já não é o principal acionista).

A maior surpresa recaiu sem dúvida sobre a Caixa Geral de Depósitos (CGD) que conseguiu fechar o ano com um lucro de 51 milhões de euros. Um resultado que contrasta com os números de 2016, quando apresentou perdas de 1.859 milhões de euros, depois do reconhecimento de mais de 3 mil milhões de euros de imparidades.
O presidente do conselho de administração do banco público, Rui Vilar, chegou mesmo a afirmar que estes resultados representam um «sinal de virar de página».

Também a Caixa Económica Montepio Geral – detida a 100% pela Associação Mutualista com o mesmo nome – conseguiu inverter em 2017 a tendência de prejuízos registada durante quatro anos (de 2013 a 2016) e apresentou 30,1 milhões de euros positivos. Este valor compara com os prejuízos de 86,5 milhões de euros de 2016. Menos imparidades para crédito e o aumento das receitas com comissões contribuíram para este resultado que será o último a ser apresentado pelo ainda presidente da instituição financeira, Félix Morgado.

Das principais instituições financeiras falta ainda conhecer as contas do Novo Banco. No entanto, tudo indica que o banco liderado por António Ramalho volte a registar perdas, uma vez que registou até setembro prejuízos de 419,2 milhões de euros (acima das perdas de 384 milhões de período homólogo), o que tornaria menos positivo o panorama dos lucros agregados da banca.

Falta também conhecer o resultado do Grupo Crédito Agrícola, que apresentou lucros de 127 milhões de euros nos primeiros nove meses de 2017.

Comissões disparam O ano passado ficou ainda marcado pelo aumento das comissões bancárias. Os cinco principais bancos a operar no mercado nacional conseguiram, no espaço de um ano, arrecadar 1.876 milhões de euros, em que a grande fatia foi cobrada aos clientes particulares. Feitas as contas, assistimos a um aumento na ordem dos 100 milhões de euros, levando a que as instituições financeiras tivessem obtido 5,14 milhões de euros por dia por esta via.
Neste campo, foi o BCP a arrecadar mais: 666,7 milhões de euros, o que representou um aumento de 3,6% face ao ano anterior. O segundo lugar do ranking coube ao banco público, ao cobrar 464,9 milhões em comissões, enquanto o Santander Totta cobrou 331,1 milhões de euros. No BPI as comissões renderam 297,1 milhões de euros, enquanto no Montepio fixaram-se em 117 milhões de euros.

Para este ano, o cenário de aumentos poderá voltar a repetir-se, uma vez que grande parte das instituições financeiras não descarta possíveis subidas ao longo de 2018.

A verdade é que estes aumentos que ocorreram no ano passado – a média foi de cerca de 5%, mas houve quem tenha aumentado três vezes mais – levou a Associação de Defesa do Consumidor (DECO) a lançar uma petição para exigir o fim das comissões bancárias, uma prática que considera «absolutamente abusiva e até mesmo ilegal». E dá como exemplo a comissão cobrada pela banca para a manutenção das contas à ordem e o pagamento dos créditos habitação, quando não é prestado qualquer serviço.