Carlos Abreu Amorim. ‘Rui Rio vai ter oposição. Não vamos andar a fingir’

Deputado do PSD considera que apoiantes de Rui Rio fizeram oposição a Passos ‘sem qualquer pudor’ nos momentos mais dramáticos para o país.

Pacheco Pereira diz que Rui Rio vai ter oposição organizada. Julga que existe esse risco?  

Isso é muito bom. O pior que podia acontecer era andarmos a fingir que não havia oposição. Rui Rio só ficaria a perder. Ele é alguém que se notabilizou na vida politica por saber gerir muito bem os conflitos que ele próprio provoca. Vamos ver se saberá gerir este conflito na bancada parlamentar. Dizer que vai existir oposição organizada é mais um dos exageros a que Pacheco Pereira nos tem habituado, mas haver pessoas com uma visão diferente e com uma visão coerente com aquilo que defenderam nos últimos seis anos é positivo. Não tenhamos ilusões. O projeto que venceu foi o projeto que fez oposição a Passos Coelho durante seis anos. Uma oposição sem qualquer pudor, que atacou Passos Coelho e a sua liderança nos momentos mais difíceis para o partido e para o país. 

Há uma certa orfandade em relação à liderança de Passos Coelho? 

Poucos esperavam, no universo dos apoiantes de Passos Coelho, no qual eu me incluo, que ele declarasse que não se iria recandidatar. Teria ganho com grande facilidade as eleições diretas tivesse ou não tivesse adversário. Passos Coelho é um homem tranquilo e fez tudo com grande dignidade. Vai sair com a mesma dignidade com que entrou. Uma coisa é certa, no médio e no longo prazo, no espaço não socialista em Portugal, nada poderá ser feito sem ter em conta a opinião de Passos Coelho. Não sei em que moldes, nem que papel é que desempenhará, mas posso garantir-lhe que, no médio e no longo prazo, Passos Coelho será alguém incontornável no espaço não socialista. A sua palavra vai ser sempre ouvida. 

Entrou para o Parlamento com Passos Coelho. Como surgiu esse convite?

A primeira vez que me falaram, eu pensei que estavam a brincar. Eu fui professor universitário e tinha participação regular na comunicação social. Não me estava a imaginar como deputado, mas aceitei e não estou arrependido.

O que o motivou?  

Foi muito a pessoa em si. Tenho de reconhecer isso. Há uma identificação ideológica, mas as pessoas são importantes em políticas. Estou profundamente convencido que se tivéssemos como primeiro-ministro em 2011,  2012 e 2013 alguém sem a têmpera de Passos Coelho Portugal tinha-se afundado irremediavelmente e estaria hoje mais ou menos como a Grécia. Estou profundamente convencido disso. Houve momentos em que só ele acreditava e eu fui testemunha direta desses momentos. Alguns daqueles que o atacaram nessa altura são os que estão agora a apelar à união do partido. 

Antes de entrar na política era comentador político. Como sentiu essa mudança?

Não há dúvida de que calçarmos os sapatos do outro é fundamental para compreendermos a realidade. Na política nem sempre podemos dizer aquilo que temos vontade de dizer. No comentário temos essa liberdade. Mas o vicio ficou-me. Recomendava a todos os comentadores políticos uma experiência política concreta. É importante para se perceber que nem sempre aquilo que parece é. Estou há sete anos na política ativa e tem sido uma experiencia enriquecedora. Estes sete anos deram-me mais informação sobre a natureza humana, Há coisas sobre a natureza humana que eu preferia não saber.