Síria. Assad e Erdogan entram na linha de fogo

O regime sírio pode entrar no norte do país a favor dos curdos e abrir um novo e violento capítulo na guerra que dura há sete anos. 

O regime sírio e o governo turco podem em breve enfrentar-se diretamente no terreno pela primeira vez e abrir um novo capítulo de violência na guerra civil que rápida e decisivamente está a enterrar o último ano de apaziguamento.

O governo de Bashar al-Assad parece ter chegado a um acordo com as milícias separatistas curdas no norte do país para as ajudar no combate à invasão turca iniciada há um mês.

A confirmarem–se as notícias que militantes curdos e a própria televisão estatal síria avançavam esta segunda-feira, o exército turco pode iniciar uma guerra que até agora só travou à distância, sobretudo com dinheiro para os rebeldes que tentaram, sem sucesso, depor Assad.

As movimentações militares ainda estão envoltas em neblina, mas o governo turco ameaçou esta segunda o regime de Assad, alertando-o contra uma entrada nos combates no norte do país e dizendo que “nada nem ninguém pode parar os nossos soldados”.

Ancara tolerou até muito recentemente, embora de mau grado, a expansão territorial das milícias curdas ao longo da sua fronteira: uma grande tira de território que os combatentes das YPG conquistaram ao grupo Estado Islâmico num momento em que os governos turco e sírio nada pareciam fazer contra a organização terrorista.

No mês passado, porém, o governo turco iniciou uma pequena mas violenta invasão dos territórios curdos na Síria, ignorando os militares norte-americanos que combatem ao lado das YPG. Ancara justifica-se dizendo que os milicianos curdos não passam de uma extensão dos separatistas turcos do PKK.

As operações turcas do último mês provocaram dezenas de mortos e a destruição de vários edifícios e vilas no norte da Síria, num período em que a violência regressa a várias partes do território.

Damasco recebeu a invasão turca com protestos mas, até este fim de semana, não levantou o dedo contra as forças de Ancara, em parte devido ao complexo jogo de xadrez que se joga na guerra civil: os turcos opõem–se a Assad e financiaram alguns dos mais importantes grupos rebeldes contra o regime, mas recentemente parecem ter-se resignado à permanência do ditador e alinhado com a postura da aliada russa, que interveio com o Irão a favor de Assad.

No domingo, porém, as milícias curdas que combatem os turcos anunciaram o princípio de um acordo de cooperação militar com o exército de Assad para, juntos, combaterem Ancara.

Esta segunda, o acordo embateu num muro com a intervenção telefónica do presidente russo, que tenta agora convencer Assad a não combater o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. A televisão estatal síria, no entanto, avançava também esta segunda-feira que o acordo estava finalizado e que as forças do exército de Assad devem chegar a Afrin, no norte do país, nas próximas horas.

O ministro turco dos Negócios Estrangeiros respondeu com ameaças. “Se o regime estiver a tentar erradicar a presença do PKK e das YPG, então não teremos problemas”, disse Mevlut Cavusoglu, numa conferência de imprensa. “No entanto, caso entre [nas batalhas] para defender as YPG, então nada nem ninguém conseguirá travar os nossos soldados turcos”, acrescentou.