Da violência na estrada à violência no namoro

Eu acreditava que uma semana em que se comemorava o Carnaval e se celebrava o Dia dos Namorados seria um tempo de festa, paz e amor para todos, bem calma e sem grandes assuntos de atualidade. Mas infelizmente fui surpreendido, pela negativa, pelas notícias de 7 mortos nas folias da condução e por um estudo…

Eu acreditava que uma semana em que se comemorava o Carnaval e se celebrava o Dia dos Namorados seria um tempo de festa, paz e amor para todos, bem calma e sem grandes assuntos de atualidade. Mas infelizmente fui surpreendido, pela negativa, pelas notícias de 7 mortos nas folias da condução e por um estudo sobre os comportamentos dos namorados.

Estes 7 mortos resultam certamente de comportamentos inadequados na condução e há que responder, com urgência, a este flagelo. Há semanas, referi neste espaço a urgência de punições efetivas que tirem da estrada estes potenciais assassinos, quer pela introdução de radares quer pela celeridade na retirada de pontos aos prevaricadores. Andando recentemente a conduzir por Itália, constatei a proliferação de radares como fator dissuasor de excessos – e, ao que sei, não são nada meigos a autuar. Por que não copiar o que de bem feito existe lá por fora para evitarmos este flagelo que atinge família ou amigos?

O estudo ‘Violência no Namoro’, divulgado no Dia dos Namorados, confirma a existência de violência ou coação no namoro entre jovens em números assustadores, com tendência a piorar, e suscita várias questões. 

Em primeiro lugar, a educação (ou falta dela) que hoje tem a nossa juventude. Muitos casais a trabalhar, muitos jovens sozinhos em casa ou com pouca ou nenhuma supervisão educativa, com acesso fácil à internet ou a jogos de violência. Acredito que estas são razões determinantes destes comportamentos – e não devia surpreender saber que a maioria dos jovens já foi vítima de violência e que há cada vez mais quem, entre eles, legitime estes atos. 

Em segundo lugar, o papel das escolas e professores, nomeadamente os responsáveis pelas turmas. Conhecem mesmo os alunos que orientam? Com quantos conversaram ‘um a um’? 

Tem toda a razão a investigadora Margarida Teixeira ao referir que «o que está a falhar é a prevenção, contínua e a começar nos jardins de infância, embora existam campanhas e ações de sensibilização em algumas escolas, mas não em todas, e não atinge todas as idades» ou ainda que «tanto a vitimação como a legitimação aumentaram e isso é preocupante». Diagnóstico feito, medidas sugeridas, falta atuar. Sobra por resolver o tema da família, a supervisão dos pais, mas se houver diálogo nas escolas, com os professores a chamarem os pais e a alertarem para comportamentos agressivos, pode ser um caminho. Uma coisa eu sei: a legitimação da violência nada augura de bom para a sociedade.

Numa semana de ótimas notícias sobre o crescimento da economia (2,7% em 2017), aparecem umas pequenas nuvens sobre este horizonte de felicidade. Obras nas infraestruturas ferroviárias parecem estar super atrasadas, com apenas 79 km intervencionados em 528 km planeados (há dois anos o Governo previa obras em 1.193 km). Sem falar na anulação do projeto do TGV, que Costa atirou para as calendas (e muito bem!). 

Como acredito que a ferrovia continua a ser importante, creio que na génese destes atrasos nos investimentos estará certamente a falta de verbas, além dos aludidos e óbvios problemas com questões ambientais. Pois é… O dinheiro não dá para tudo – e as prioridades são as eleições de 2019 e a captação de votos, por via da distribuição às grandes massas de votantes. Tal como em 2017, ano de autárquicas, os investimentos nas autarquias terão excedido em 400 milhões de euros os de anos anteriores.

P.S. – Segundo notícias recentes, cada jornada de futebol da 1ª Liga em Portugal pode movimentar, em apostas feitas a nível mundial, valores que chegarão aos 340 milhões de euros! Este número é aterrador pelas implicações que pode ter a nível de match fixing, ou seja, o risco de viciação de resultados. Já houve um jogo com apostas suspensas na 1ª Liga. E se pensarmos que até no Campeonato de Portugal (3.ª divisão) um jogo chega a movimentar 122 milhões, tudo se torna possível. Este tema tem de estar em cima da mesa dos responsáveis nacionais, até por já se conhecerem investigações da PJ que envolveram clubes e jogadores de escalões secundários (a 22 fevereiro vai haver uma sessão do julgamento do caso Jogo Duplo, que tem de conhecer rapidamente o desfecho). 

P.S. 2 – A segurança no mar anda ‘sem gás’ durante a noite desde há meses, ou seja, o controlo de tráfego marítimo não recebe nem transmite alertas entre as 23 e as 7 da manhã. Causas? As finanças, de novo, ao não permitirem o recrutamento de 12 técnicos já identificados e com classificação homologada pelo Ministério do Mar. Sabendo nós que tanta navegação em Portugal – como no caso das pescas – se faz de noite, podemos estar descansados? E as famílias dos pescadores podem estar tranquilas? Meu Caro Dr. Mário Centeno, por favor faça aí um intervalo nos seus afazeres, agora também europeus, e desbloqueie estas verbas tão essenciais.