Síria. Crianças de guerra, crianças da morte |Fotogaleria

Morreram mais de 50 crianças nos ataques aéreos do regime sírio contra os arredores de Damasco. Milhares estão subnutridas, não têm o que comer ou com o que se tratar

Dezenas de milhares de crianças acordam todos os dias nos bairros orientais de Ghuta em casas esfareladas, caves e abrigos subterrâneos. A grande maioria passa lá os dias. Sair à rua é arriscado. Por estes dias, o regime de Bashar al-Assad bombardeia com extrema violência o centro rebelde que, antes da guerra, alojava a classe operária síria nos arredores da capital. Vivem lá 400 mil pessoas. Metade são crianças, especialmente vulneráveis à fome, falta de cuidados médicos, escassez de água limpa e ao fim anunciado dos medicamentos. Também sofrem com a falta de sol e o medo dos bombardeamentos extremos que só entre segunda e terça-feira mataram mais de 200 pessoas. Entre os cadáveres encontraram-se mais de 50 crianças. Estas morreram com o impacto das bombas. Outras morrem e definham de fome e doença. 

“Só tenho este bebé e não encontro comida para lhe dar”, explica ao “New York Times” por telefone Tareq al-Dimashqi, residente de Ghuta oriental, falando da sua filha de cinco meses, Gina Lollobrigida, e do cerco do regime, que nos últimos meses se intensificou. Como Dimashqi, muitos pais não encontram leite e outros produtos alimentares adequados a crianças. Os casos mais graves encontram-se em Ghuta, onde mais de um décimo das 200 mil crianças estão subnutridas e muitas gravemente doentes. Em outubro do ano passado, duas bebés morreram de fome nos bairros cercados. Semanas depois, uma criança com cancro avançado morreu sem que lhe fosse autorizada a ida a Damasco. No resto do país, segundo dados da UNICEF, mais de seis milhões de crianças precisam de alguma forma de assistência humanitária. 

“Não temos outra escolha a não ser a de resistir até ao último momento”, prossegue Dimashqi, dizendo que, para ele, “a vida e a morte tornaram-se iguais.” O filho de Shadi Jad é ainda mais novo que Lollobrigida. Tem apenas três semanas.

O pai contava na terça-feira ao jornal nova–iorquino que não se arrisca a abandonar o abrigo no qual está há vários dias. As coisas, sabe, vão piorar em breve. Os ataques aéreos do regime parecem preparar uma invasão terrestre que quase certamente se revelará ainda mais sanguinária que o início desta semana. Centenas de crianças podem ver-se na linha de fogo. “Temos uma pequena janela no nosso abrigo”, explica, dizendo que o filho não apanhava ar fresco há muito. “Às vezes encosto-o à janela por alguns segundos para que ele apanhe o calor do sol.”