O Congresso que ninguém antecipou

Acertar no nome de Elina Fraga teria sido o jackpot  do Euromilhões. Ninguém acertou

Aquilo que de mais relevante se passou no Congresso do PSD ninguém antecipou. Nem políticos dentro do PSD, nem políticos da oposição, nem comentadores, nem jornalistas. 

A começar pela elegância e elevação de Rui Rio, deixando a abertura, o palco e o protagonismo para Passos Coelho. Não é hábito nos congressos, ninguém esperava. Estendeu-lhe a passadeira vermelha, deixou-o brilhar e deu-lhe a hipótese de os militantes se despedirem condignamente do homem que foi presidente do PSD durante oito anos.

Em segundo lugar, a generosidade, a disponibilidade com que Santana Lopes, o opositor destas eleições, se prontificou a dar a mão a Rio, novo presidente do partido. E por a atitude ser verdadeira, passou para o Congresso, que a interiorizou. Não foi uma falsa unidade, foi autêntica – e essa atitude ajudou a fazer do Congresso um congresso de unidade. 

Ninguém estava à espera da longuíssima despedida de Passos Coelho no Congresso e ninguém estava à espera da generosidade de Santana Lopes. 

Acresce ainda que Rui Rio partilhou os lugares nos órgãos do partido na proporção do resultado das diretas, e a tal não era obrigado. Não está escrito em lado nenhum que a partilha seja feita de acordo com os resultados eleitorais. Lá está: ambos se portaram como cavalheiros. Novamente não houve ninguém que escrevesse que a paz seria conseguida desta maneira.

Quanto aos putativos opositores pré-anunciados, escreveu-se insistentemente sobre Luís Montenegro, Pedro Duarte, Carlos Moedas, Miguel Pinto Luz e José Eduardo Martins. 

Pedro Duarte e Carlos Moedas fizeram ambos boas intervenções, sobretudo no âmbito da sua muito interessante moção que quer discutir o contrato social e a sustentabilidade da Segurança Social, mas muito longe de qualquer rutura com a direção de Rui Rio, antes pelo contrário. 

Miguel Pinto Luz fez uma intervenção distante – no conteúdo e na forma – da carta aberta que tinha sido publicada nos jornais. Se a carta era desafiadora, o discurso não foi.

José Eduardo Martins, que foi orador no congresso em Espinho em 2016, foi anunciado como orador neste congresso… por manifesto lapso, porque não era delegado nem tinha nenhuma inerência que lhe permitisse falar. Não falou, não chegando a assumir nenhuma posição crítica ou de renovação geracional.

Resta o caso de Luís Montenegro. De todos os putativos desafiadores de Rio, foi o único que entregou a carta a Garcia. Assumiu-se clara e inequivocamente como o challenger. Fê-lo de forma frontal e, a julgar pela reação do pavilhão, os militantes gostaram. Mas lá está, também ninguém previu que seria no congresso, com um discurso forte e disruptivo.

E depois há Elina Fraga, a nova vice-presidente do PSD. Acertar nesse nome teria sido o jackpot do Euromilhões. Ninguém acertou.

sofiarocha@sol.pt