Coreias. Quanto tempo durará o sorriso dos Kim?

O Norte fez saber que quer negociar diretamente com os norte-americanos. Há motivos para ceticismo e credulidade.

As Olimpíadas de Inverno em Pyeongchang acabaram como começaram: uma multidão de atletas no gelo, fogo de artifício e muita diplomacia em redor. Na cerimónia deste domingo, ao longo da qual as coreias abandonaram as bandeiras da península unificada e usaram de novo as dos seus países, pairava a dúvida sobre quanto tempo durará o mais recente período de apaziguamento no mais quente foco de guerra nuclear no mundo. Em princípio, até 18 março, dia em que terminam os Paralímpicos de Inverno. Depois disso, ninguém se aventura a responder.

Poucos negam que as Olimpíadas abriram portas que antes se julgavam trancadas com mais chaves. Este domingo, o governo sul-coreano anunciou ter recebido uma mensagem de Pyongyang, entregue pelo general Kim Yong-chol, que assistiu à cerimónia de encerramento, dizendo que o regime deseja dialogar diretamente com os norte-americanos. A proposta abre portas a uma possível cimeira nos próximos meses, semelhante àquela que a irmã de Kim Jong-un, Kim Yo-jong, propôs a Seul no começo dos Jogos. Washington respondeu afirmando que quaisquer negociações têm de ter como objetivo final a desnuclearização da Coreia do Norte, um ponto de partida considerado impossível para Pyongyang.

Horas antes de o governo sul-coreano ter revelado o interesse do Norte em encontrar-se com os EUA, Pyongyang declarou que a mais recente vaga de sanções anunciada esta semana pelos Estados Unidos equivale a “uma ameaça de guerra” que contraria os avanços diplomáticos das últimas semanas. Estas mensagens incendiárias são muito usadas no arsenal diplomático norte-coreano. Já uma proposta de um diálogo frente a frente aos americanos abre portas a um período de contacto raro, mesmo que a história sugira cuidados – no passado, Kim Jong-il aproveitou a diplomacia para beneficiar de ajuda humanitária, cortar nas sanções e desenvolver com mais paciência o projeto nuclear e balístico que está prestes a chegar à maturidade com o seu filho.

O governo de Donald Trump diz que não está interessado em negociações que não passem pelo desarmamento, mas sabe-se hoje que o vice-presidente Mike Pence só não se encontrou a sós e em segredo com a irmã do ditador porque os norte-coreanos cancelaram a reunião à última hora. A delegação de Pence partiu há muito, mas este domingo via-se uma nova nas bancadas. E se o vice-presidente americano se sentou a poucas cadeiras de Kim Yo-jong no início de fevereiro, este domingo foi Ivanka Trump, a predileta filha do presidente americano e sua conselheira, quem se sentava na fila em frente à do general Kim. Ivanka dificilmente tem autoridade para negociar com o Norte. O general norte-coreano, no entanto, chegou a Pyeongchang acompanhado de vários diplomatas, incluindo o líder dos assuntos americanos na Coreia do Norte. Um responsável do governo sul-coreano disse à BBC que ainda é possível um encontro entre as duas delegações antes de partirem. “Veremos”, afirmou.