PSD. “Admito que possa chegar ao ponto de uma rutura. As coisas têm de se resolver”

Entrevista a Carlos Encarnação, ex-dirigente do PSD

Como vê as divergências dentro do PSD?

A minha história no PSD é longa. Já não é a primeira que eu vejo isto. No tempo de Sá Carneiro, com os inadiáveis, a situação foi particularmente difícil. Não é dramático. Nessa altura, era um problema de visão do partido. Era mais fundo do que agora, embora atualmente as questões se coloquem também em relação à substância da ação e da doutrina políticas do partido. Quando o dr. Rui Rio opta pela declaração da social-democracia, evidentemente que pode haver pessoas que sintam que as coisas não estão bem, embora estejam num partido social-democrata. Se calhar, pela cabeça delas passou a ideia de que o PSD podia transformar-se noutra coisa qualquer, num partido liberal ou numa coisa qualquer. Se foi assim, alguém está mal dentro 
do partido. 

Já esperava esta reação dos deputados? 

Percebi que a coisa não ia correr bem. Eles não tiveram coragem de fazer uma candidatura alternativa. O caminho que tomaram foi tentar boicotar a eleição da direção do grupo parlamentar e causar uma dificuldade política a Rui Rio. O PSD é um partido assim. É um partido muito vivo e está a passar por uma fase difícil. Acho que há aqui uma questão mais funda que está relacionada com aquilo que as pessoas pensam que deve ser o PSD. Há um conjunto de pessoas que dizem que é um erro o PSD afirmar a sua vertente social-democrata. Acham que o partido está a perder a hipótese de afirmar uma posição mais à direita do que aquela que Rui Rio é capaz de assumir. Se isto é assim e se isto representa uma fação organizada dentro do partido, então temos aqui um problema ideológico.

Pode chegar ao ponto de uma rutura? 

Admito que possa chegar ao ponto de uma rutura, mas também não é dramático. As coisas têm de se resolver. Já no tempo de Sá Carneiro também não foi dramático, resolveu-se. Os partidos têm de ter clarificações internas. Não podem ser equívocos.