Neymar. Um país à espera de outro Ronaldo

O astro do PSG vai ficar três meses longe da relva, devendo regressar mesmo antes do Mundial. No Brasil suspira-se pela repetição de 2002.

Dezasseis anos depois, o Brasil volta a estar em sobressalto a poucos meses de um Mundial. Em 2002, Luiz Felipe Scolari comandava um grupo desacreditado, que se apurou para a competição na Coreia do Sul e Japão com grande esforço e cuja participação dependia quase exclusivamente de um milagre: a recuperação de Ronaldo ‘Fenómeno’. Desta feita, as previsões eram mais animadoras… até que Neymar sofreu uma fratura no pé direito que o levará este sábado a uma sala de operações.

O Paris Saint-Germain fez tudo para evitar este desfecho, tendo em vista o embate com o Real Madrid da próxima terça-feira, que decidirá o futuro dos parisienses na Liga dos Campeões. Os médicos da seleção brasileira, porém, desde o início garantiram que tal não ia ser possível: um pontapé mal medido por parte de um adversário e Neymar podia ficar afastado do Mundial – um luxo a que o Brasil não se pode dar. De todo. O jogador mais caro do mundo é a grande esperança dos canarinhos para tentar o sonho do hexacampeonato e um dos cabeças-de-cartaz da competição.

«Não havia outra alternativa. É uma fratura importante de um osso no meio do pé, e para uma fratura como esta não restam dúvidas: a melhor e única indicação é o tratamento cirúrgico, porque o tratamento conservador dá uma hipótese muito grande de surgir nova fratura dentro de um prazo muito curto. Não podemos correr esse risco», assumiu Rodrigo Lasmar, médico da seleção brasileira. Depois de muita contrainformação, foi o próprio responsável clínico do escrete a revelar o tempo de paragem estimado para Neymar: «Dois meses e meio a três».

Fenomenal

As contas do médico brasileiro colocam Neymar de volta aos relvados quase no fim de maio, já com a temporada em França terminada e a poucas semanas do início do Mundial da Rússia – se tudo correr como previsto. Estará longe de ser o cenário ideal para o jogador e para os canarinhos: Neymar chegará à maior prova do mundo a nível de seleções sem ritmo e sem jogar desde fevereiro. Uma sensação de déjà vu, de facto.

Em 2002, o Brasil vivia uma situação semelhante, ainda que num contexto mais difícil. Ronaldo, um dos melhores avançados de todos os tempos, estava há praticamente três anos sem jogar a alto nível, fruto de lesões gravíssimas no joelho direito. Mas Scolari não duvidou: chamou-o ao Mundial, depois de ter a promessa do departamento médico que o Fenómeno iria voltar. E voltou mesmo: oito golos em sete jogos, incluindo os dois que deram o título mundial ao Brasil na final com a Alemanha. Absolutamente impressionante para um jogador que somava apenas 24 jogos em três épocas (e somente seis em 2002, antes de chegar ao Mundial).

Em 2010, situação idêntica, mas em Portugal. Pepe havia sofrido uma rotura nos ligamentos do joelho direito em dezembro do ano anterior e foi operado em janeiro por José Carlos Noronha, cirurgião português especialista neste tipo de procedimentos. As previsões iniciais não eram as mais otimistas: a recuperação plena deste tipo de lesões costuma andar entre os cinco e sete meses.

O central luso-brasileiro, porém, desafiou o destino e viria mesmo a marcar presença no Mundial disputado na África do Sul, merecendo a confiança de Carlos Queiroz apesar de não ter feito qualquer jogo pelo Real Madrid até junho – o seu regresso aos relvados, seis meses depois de sofrer a grave lesão, aconteceu precisamente pela Seleção nacional, num particular com Moçambique disputado a 8 de junho, poucos dias antes do início no Mundial. Na prova, Pepe não participou nos dois primeiros jogos, frente à Costa do Marfim e à Coreia do Norte, mas viria a ser titular perante Brasil e Espanha.

O caso de Falcao não foi tão risonho. Em janeiro de 2014, cinco meses antes do início do Mundial do Brasil, a grande figura da seleção colombiana rompeu os ligamentos do joelho esquerdo num jogo da Taça de França, ao serviço do Mónaco. El Tigre fez tudo para estar presente no Campeonato do Mundo, mas acabaria mesmo por ficar de fora da lista final. «Não queria tirar o lugar de um companheiro que estivesse a 100 por cento e ser irresponsável com a minha saúde», assumiu então. Terá agora a oportunidade para disputar o seu primeiro Mundial e tentar levar a Colômbia o mais longe possível.

Para Neymar, não será uma estreia. O irreverente avançado brasileiro já participou em 2014, e também aí uma grave lesão marcou o seu percurso: nos quartos-de-final, precisamente frente à Colômbia, o então jogador do Barcelona sofreu uma joelhada nas costas já nos minutos finais do encontro e acabou por ter de falhar o jogo com a Alemanha nas meias-finais (o infame 1-7), bem como o encontro de atribuição do terceiro e quarto lugares perante a Holanda (0-3). Um desfecho que nenhum brasileiro – e amante do futebol de qualquer outra nacionalidade, na verdade – quer ver repetir-se este ano na Rússia.