Autoeuropa suspira de alívio

O pré-acordo em torno dos aumentos salariais foi aprovado pela maioria dos trabalhadores. Mas os problemas poderão recomeçar na altura em que for negociada a laboração contínua.

Depois de dois pré-acordos chumbados, os 5.700 trabalhadores da Autoeuropa voltaram a ser chamados para votar a mais recente proposta negociada entre a Comissão de Trabalhadores (CT) e a administração da fábrica de Palmela. A grande maioria (73,16%) aceitou os aumentos salariais de 3,2% com retroativos a outubro, num patamar mínimo de 25 euros – ainda assim, abaixo dos valores propostos pela estrutura liderada por Fernando Gonçalves, que pedia aumentos de 6,5%, num mínimo de 50 euros – apenas 25% votou contra. Face a este resultado, a estrutura liderada por Fernando Gonçalves já veio garantir que está «mandatada para assinar o acordo».

O documento contempla anda outros benefícios. Também acordada com a administração foi a passagem a efetivos de 250 trabalhadores que estão a termo, assim como o pagamento de um subsídio que equivale a 10% do ordenado-base a trabalhadoras grávidas. Além disso, vão ser implementadas condições especiais para quem esteja nesta condição: «A empresa compromete-se a identificar estacões de trabalho/tarefas compatíveis com o desempenho de funções da mulher grávida», assinala o pré-acordo.

Foi ainda aprovado o pagamento de uma gratificação de 100 ou 200 euros em abril de 2018 conforme a antiguidade do trabalhador. Ao mesmo tempo, está previsto o fim da tabela A0 para operadores e do primeiro nível de integração para especialistas nas futuras admissões. «Com a atualização das tabelas salariais resultará, nomeadamente para os trabalhadores contratados a partir de fevereiro de 2017 com o nível A0, uma evolução de cerca de 140 euros mensais do salário base durante a vigência deste acordo», chegou a revelar a CT durante as negociações. 

De fora ficou a compensação para os novos horários de trabalho ao fim de semana, que será objeto de uma negociação autónoma a partir de agosto, altura em que a Autoeuropa deverá aumentar a produção de forma significativa para responder ao volume de encomendas do novo veículo T-Roc, o que obriga a implementar os turnos contínuos.

Conflito chega ao fim?

O conflito na Autoeuropa começou com a mudança de horários e a necessidade de trabalhar mais um dia, de forma a permitir o aumento da produção, que deverá atingir mais de 240 mil automóveis em 2018, o dobro do registado em 2016, graças à chegada do novo modelo, o SUV T-Roc.

Em julho passado, a administração e a CT liderada, na altura, por Fernando Sequeira ainda chegaram a um pré-acordo que revia a implementação dos novos horários de trabalho por turnos mediante uma compensação financeira de 175 euros, ou seja, acima do valor previsto na legislação. Mas nesse mesmo mês o pré-acordo foi chumbado e a Comissão de Trabalhadores acabou por pedir demissão.

 O segundo pré-acordo já foi assinado pela atual estrutura liderada por Fernando Gonçalves, em novembro – um mês depois da CT ter sido eleita – mas dias depois voltou a ser rejeitado por cerca de 63% dos trabalhadores. Este previa duas fases distintas: uma entre o início de fevereiro e julho (considerada transitória) e outra a partir de agosto, e que já incorporava a laboração contínua da fábrica de modo a satisfazer a procura do novo veículo utilitário desportivo. O pré-acordo previa ainda a contratação em 2018 de cerca de mais 400 colaboradores de modo a ser possível a introdução da 4.ª equipa de trabalho.

Face a estes dois chumbos, a administração da fábrica de Palmela optou por avançar unilateralmente com os novos turnos no final de janeiro: 17 turnos semanais, onde já estavam incluídos os sábados. Comprometeu-se, no entanto, a pagar um prémio adicional de 100% sobre cada sábado trabalhado (pagamento mensal) e um prémio adicional de 25% sobre os sábados trabalhados no trimestre, de acordo com o cumprimento do volume planeado para o trimestre.
Agora com este terceiro pré-acordo assinado, o conflito interno deverá ser atenuado nos próximos meses, pelo menos até à altura em que as duas partes irão começar a negociar a laboração contínua que arrancará em agosto.

Descapotável na Alemanha

Mas enquanto se assistiu a este impasse na Autoeuropa, a Volkswagen decidiu que vai produzir a versão descapotável do T-Roc na Alemanha, na fábrica de Osnabrück . Esta era uma das hipóteses, tal como já tinha sido avançado pelo SOL, uma vez que esta unidade só estava a produzir o modelo Tiguan antigo, que tem apenas como destino o mercado norte-americano, e o desportivo Porsche Cayman.

Para receber o novo modelo, a marca alemã prepara-se para investir 80 milhões de euros. A ideia é produzir 20 mil unidades por ano a partir de 2020. «A Volkswagen está a evoluir para uma marca de SUV. O T-Roc já está a impor as regras no segmento de SUV compactos. Com o descapotável inspirado no T-Roc vamos ter um modelo altamente emocional nesta gama», revelou o presidente da Volkswagen, Herbert Diess, em comunicado.

«Podemos contar com a experiência de décadas em descapotáveis da equipa de Osnabrück. Esta fábrica tem agora perspetivas brilhantes para o futuro», salientou.

Inaugurada em 2009, esta unidade tem 2300 trabalhadores e conta regularmente com o trabalho de portugueses destacados.

Peso de Palmela

O modelo que está a ser fabricado exclusivamente na Autoeuropa desde agosto vai ter um peso importante nas vendas da marca alemã. Os números são claros: o T-Roc deverá representar 40% das vendas da marca até 2027. Trata-se de uma das apostas da Volkswagen, com a empresa a destacar a importância económica do segmento dos veículos utilitários desportivos (SUV). Segundo Herbert Deiss, presidente da Volkswagen, está previsto um grande crescimento deste segmento nos próximos anos.

«Acreditamos que os SUV vão crescer 50% nos próximos dez anos. Isto afetará todas as regiões, como a Europa, a China e os Estados Unidos. Será um dos segmentos mais procurados», revelou a marca. 

E é aqui que a fábrica de Palmela ganha um peso relevante. Só no ano passado, a Autoeuropa representou 0,8% do Produto Interno Bruto Nacional (PIB), embora distante do máximo de 2,2% do PIB de 1998. Trata-se da terceira maior empresa exportadora do país (e segunda maior importadora) e produziu 85.126 veículos durante o ano passado, registando uma faturação de 1,52 mil milhões de euros. Mas desde 1995 já fabricou mais de 2,3 milhões de veículos.