Billy Graham. O pastor da América

‘Não terá havido mais do que um ou dois papas (…) que se tenham aproximado do que ele conseguiu’, disse William Martin, o biógrafo de Billy Graham à Reuters

William Franklin Graham Jr.,o nome já era relativamente curto, mas pelos vistos não o suficiente para se tornar sonante e foi mesmo pelo petit nom, Billy, que o pregador evangelista ficou conhecido por todo o mundo. Chamavam-lhe o pastor da América: foi conselheiro espiritual de vários presidentes norte-americanos, usou os meios de comunicação de forma exímia e pioneira e assim levou as suas campanhas – a que chamava de ‘cruzadas’ – a ser presencialmente assistidas por (estima-se) mais de 200 milhões de pessoas, um recorde mundial absoluto. O seu estilo muito próprio e a intensidade da retórica valeram-lhe a divertida e talvez paradoxal alcunha de ‘metralhadora de Deus’. Billy ainda conseguiu entrar neste ano de 2018, em que completaria o centenário, a sete de novembro. Mas o peso dos anos ditou-lhe a partida, de causas naturais, no passado dia 21 de fevereiro, na sua casa em Montreat, na Carolina do Norte. 

Billy nasceu numa quinta perto de Charlotte, no mesmo estado em que morreu, no seio de uma família presbiteriana. A vocação espiritual não era inata. Segundo contou por diversas vezes, passou a adolescência a pensar em basebol e raparigas. Tudo mudou quando ouviu um sermão que o marcou e, a partir daí, decidiu que queria seguir o caminho de Deus. Foi ordenado aos 21 anos, em 1939, numa igreja batista e quatro anos depois casou-se com Ruth Bell, filha de missionários. Juntos tiveram quatro filhos: Franklin, Gigi, Ruth e Anne. 

Billy Graham lançou-se rapidamente à estrada para pregar e, a cada discurso, o caudal de gente endossava até que chegou ao ponto de encher estádios – de Nova Iorque a Wembley, em Londres, e até na Coreia do Norte na década de 70. No púlpito, Billy eletrizava multidões de Bíblia em punho. Tinha, efetivamente, carisma e dom da palavra, méritos que usou para passar a mensagem em que acreditava: Jesus Cristo era a única solução para os problemas da humanidade. Os momentos eram, muitas vezes, transmitidos, primeiro pela rádio e pela imprensa, depois pela televisão, mas também através das linhas telefónicas. «Foi provavelmente o líder religioso mais importante do seu tempo», afirmou William Martin, autor da biografia A Prophet With Honor: The Billy Graham Story, citado pela Reuters. «Não terá havido mais do que um dois papas, ou talvez uma ou duas outras pessoas, que se tenham aproximado do que ele conseguiu».

A sua extrema popularidade não escapou às malhas da Netflix, que retratou o encontro entre o pastor e a rainha Isabel II na segunda temporada da série The Crown.

O pastor, democrata, ficou ainda conhecido por outra particularidade nos quase setenta anos de ministério: foi conselheiro espiritual pessoal de vários Presidentes norte-americanos, desde desde Harry Truman, passando por Lyndon Johnson, George W. Bush e Bill Clinton e, inclusivamente, discursou na tomada de posse deste último, em 1993. Já George Bush assumiu que Billy Graham teve um papel «fundamental» na redescoberta da sua fé.

Desempenhou funções de capelão na Casa Branca para vários Presidentes, entre os quais Nixon. Na primeira noite deste Presidente em Washington, passou-a na Casa Branca e um dos seus companheiros de golfe era Gerald Ford. «As suas vidas pessoais – algumas deles – eram difíceis. Mas eu amava-os a todos. Admirava-os a todos. Sabia que tinham fardos além daquilo que eu poderia perceber ou compreender», contou o pastor em 2007 em entrevista à Time. Também Obama fez questão de o visitar em 2010.

Quando fez 95 anos, em 2013, juntou 800 convidados, entre os quais se contavam os republicanos Sarah Palin, Donald Trump e o milionário Rupert Murdoch. Donald Trump, que acompanhou de perto as cerimónias fúnebres, descreveu-o no Twitter como um homem «muito especial», que «fará falta aos cristãos e a todas as religiões».

O corpo foi velado no Capitólio, uma honra reservada a uma lista muito estrita de norte-americanos em que figuram Presidentes e heróis de guerra. Graham foi, na realidade, apenas o quarto ‘cidadão comum’ dos EUA a ser homenageado no local – a última tinha sido Rosa Parks, símbolo das lutas antirraciais, em 2005.

Milhares de pessoas fizeram questão de prestar homenagem ao pastor, vindas de diversos estados, relatava esta semana o New York Times. «Sinto que ele é o Martin Luther King dos nossos dias», contava um homem de 36 anos ao jornal.

E o momento do adeus, à semelhança da sua vida, não virou costas ao poder dos símbolos. Além de ter sido transmitida pela internet, a cerimónia, que durou 90 minutos, decorreu no estacionamento da Biblioteca Billy Graham de Charlotte, Carolina do Norte, debaixo da tenda emblemática da campanha de 1949, em Los Angeles, altura pela qual o seu trabalho como pastor evangélico se tornou reconhecido. Graham foi ontem sepultado ao lado da mulher num caixão de pinho feito por prisioneiros do Estado do Louisiana.