Paulo Gonçalves. O portista ferrenho que escalou Benfica acima pela via jurídica

Participou na criação das SAD do FC Porto e Boavista. Quase chegou à Liga e caiu nas graças de Luís Filipe Vieira

Desde que rebentou o chamado caso dos emails, o nome de Paulo Gonçalves é o que mais tem andado na berlinda. Para quem não está tão por dentro dos meandros do futebol “jogado” fora do campo, este nome pouco diz. Lá dentro, porém, o advogado de 48 anos já tem larga fama.

Natural do Porto, onde ainda continua a ter casa – apesar de passar grande parte da semana em Lisboa –, Paulo Gonçalves formou-se em Direito. Estagiou no escritório de Adelino Caldeira (responsável pela área jurídica do FC Porto nos anos 90 e hoje administrador da SAD) e acabou por colaborar cinco anos com os dragões, onde chegou pela mão de Alexandre Pinto da Costa, empresário e filho do presidente do FC Porto, e José Veiga, à data ainda um elemento querido no seio do clube azul-e-branco.

Participou de forma ativa na constituição da SAD portista, em 1997, mas viria a deixar a estrutura azul-e-branca dois anos depois, alegadamente por incompatibilidades com Adelino Caldeira e o próprio Pinto da Costa, agravadas pela sua proximidade com Alexandre, que entrara em conflito com o pai – só sanado em 2011, depois de Pinto da Costa filho ter superado um cancro no pulmão.

Em 1999, Paulo Gonçalves mudou-se para o Boavista, onde foi igualmente peça preponderante na criação da SAD. No Bessa chegaria a diretor-geral, fechando o ciclo em 2006, já em pleno período de investigação do Apito Dourado (escândalo de corrupção com Boavista e FC Porto no centro do processo), que eclodiu em 2004. Foi convidado por Hermínio Loureiro para assumir o cargo de diretor-executivo da Liga, numa medida que mereceu o apoio de Luís Filipe Vieira, mas a contestação por parte do FC Porto acabou por levar o atual vice-presidente da FPF a retirar o convite.

Tornou-se assessor-jurídico da SAD do Benfica em janeiro de 2007, com o aval de José Veiga, que dois meses antes havia abandonado o cargo de diretor para o futebol do clube da Luz no seguimento do arresto de bens ordenado pelo Tribunal de Cascais. Na Luz, Paulo Gonçalves teria como principais responsabilidades o tratamento de aspetos formais de transferências e contratos de jogadores. Aos poucos, todavia, foi ganhando proeminência no seio do clube, subindo à administração da SAD em 2011 e tornando-se no braço-direito do presidente encarnado, além de representar o Benfica nas Assembleias-Gerais da Liga.

Hoje, Paulo Gonçalves é o homem de confiança de Luís Filipe Vieira em todas as matérias relacionadas com futebol, nomeadamente no que respeita a questões jurídicas: todos os contratos que envolvam o nome “Benfica” passam pelas mãos do advogado – descrito no meio como “um dos mais experientes e reputados agentes desportivos da atualidade no futebol português”. Isto, apesar de ter sido toda a vida, segundo garantem amigos de longa data, um “ferrenho adepto do FC Porto”. Curiosamente, o clube que denunciou o caso dos emails e levou a Polícia Judiciária (PJ) a detê-lo por suspeitas de corrupção a funcionários judiciais.

Mais ligações perigosas

Outro dos nomes na berlinda ontem foi o de José Augusto Nogueira da Silva, técnico informático que pertence aos quadros do Instituto de Gestão Financeira e Equipamento da Justiça. Natural de Fafe, tem acesso a vários tribunais, incluindo o da sua localidade e o de Guimarães, dois dos locais onde a PJ tem feito buscas.

É acusado de ter acedido a diversos inquéritos em segredo de justiça para obtenção de informação sobre diligências em curso – informações essas que depois viriam a ser transmitidas a Paulo Gonçalves.

Mas houve ainda mais dois arguidos: Júlio Loureiro e Óscar Cruz. O primeiro é um funcionário judicial que foi igualmente árbitro e observador de árbitros da I Liga até 2015/16; o segundo é um empresário de futebol, filho de um antigo vice-presidente do FC Porto com o mesmo nome. Conhecido como “Oscarzinho”, é compadre e amigo de longa data de Paulo Gonçalves e de Alexandre Pinto da Costa, tendo sido sócio deste último no arranque da Energy Soccer, empresa de agenciamento de jogadores detida pelo filho do presidente do FC Porto até janeiro de 2017.

Hoje, Óscar Cruz está ligado a outra empresa do ramo (True Soccer). Alegadamente, terá funcionado como intermediário entre Paulo Gonçalves e os funcionários de Justiça.