O eucalipto em Cavaco e Passos

Passos Coelho e Cavaco Silva foram grandes primeiros-ministros.O problemaé quando o Governo chega ao fim

É  a segunda vez na história do PSD que se verifica o ‘efeito eucalipto’, aquele que seca tudo à sua volta. Na história do PSD, os presidentes que chegaram a primeiros-ministros, Sá-Carneiro, Pinto Balsemão, Cavaco Silva, Durão Barroso, Santana Lopes e Passos Coelho têm – porque ungidos pela vitória – um lugar à parte. Um lugar institucional, desde logo, mas também um lugar emocional para os militantes e simpatizantes do partido laranja. 

Dos que referi, Cavaco Silva e Passos Coelho foram os que mais anos presidiram. O primeiro, dez anos, o segundo, oito. Foram extraordinários primeiros-ministros. Cavaco Silva venceu três eleições legislativas consecutivas e Passos Coelho duas. Este facto dá a exata medida daquilo que foram e são: homens capazes de vencer no partido, mas sobretudo fora dele. Capazes de vencer no país, consecutivamente. 

Quando existe um certo tipo de liderança que inspira confiança e a real perspetiva de ganhar eleições e formar Governo, o PSD torna-se um partido muito atrativo para as pessoas mais empreendedoras, inovadoras e dinâmicas da vida económica e social portuguesa. Rapidamente as melhores cabeças de todas as áreas se querem juntar a gabinetes de estudos ou a governos sombra. Querem surfar aquela onda de otimismo, entusiasmados com a mudança. O PSD faz governos que são constelações de estrelas. 

O problema é quando os governos acabam. Tão rapidamente quanto vieram, as grandes cabeças regressam aos seus lugares de origem: as empresas, as consultoras, as sociedades de advogados. Regressam em geral ao setor privado, e, como sabemos, devido à exigência atual, é quase impossível ter uma grande carreira no setor privado e dedicar várias horas diárias à atividade política. Este efeito, embora também presente no PS, é-o em bastante menor grau, porque o recrutamento de quadros socialistas é feito internamente e na Função Pública. 

O chamado ‘efeito eucalipto’ já se tinha notado em 1996, quando Cavaco Silva terminou as funções de primeiro-ministro. E voltou a verificar-se quando Passos Coelho passou à oposição em 2015. Ou seja, o PSD tem tremendos sucessos (ganha eleições e governa) e a seguir é o deserto. Nessas fases, o partido fica ‘na pele e no osso’ e desgraçados dos líderes que vêm a seguir…

Não só são recebidos com frieza ou hostilidade pelos que ficam, em geral muito ligados ao líder cessante, mas também porque encontram pouca gente disposta a colaborar. 

Aquilo que se passou esta semana entre Rui Rio e os deputados era, por isso, expectável. Devem tudo o que são a Passos Coelho e quiseram fazer público manifesto da sua lealdade e gratidão. Uns mais emocionais e genuínos, outros calculando ganhos futuros. 

Fernando Negrão, no calor do momento, teve também uma atitude precipitada, fazendo algumas acusações escusadas. Mas já pediu desculpa. Foi uma espécie de catarse. Há de passar. 

sofiarocha@sol.pt