Sridevi Kapoor, a heroína de Bollywood

A morte acidental da diva de Bollywood deixou a Índia em choque. Srivdevi Kapoor tinha 54 anos e uma carreira notável. Estreou-se na indústria cinematográfica com 12 anos e acumulou mais de 300 filmes. Na banheira de um hotel dos Emirados Árabes Unidos, deixou a vida por casualidade.

A Índia ainda está em choque com a notícia. Uma semana após a morte de Sridevi Kapoor, multiplicam-se as homenagens, os tributos e as recordações da diva de Bollywood. «Estou em choque por perdermos uma veterana na nossa indústria cinematográfica, cuja longa carreira incluiu diversos papéis e performances memoráveis. Os meus pensamentos estão com a família e os admiradores nesta hora de luto. Que a sua alma descanse em paz», reagiu o primeiro-ministro Narendra Modi. «Não tenho palavras. Condolências a todas as pessoas que a adoravam. É um dia negro», comentou a (também) estrela de Bollywood Priyanka Chopra. «O mundo perdeu uma pessoa muito talentosa e que deixa para trás um legado difícil de alcançar», recordou Madhuri Dixit, outra vedeta do cinema indiano. E do mundo da música chegaram ecos de M.I.A, que a comparou a Michael Jackson. «Ela fez tanto pelas mulheres [de etnia] Tamil, pela indústria cinematográfica indiana e pelas pessoas de pele castanha», escreveu no Twitter. 

A estrela cadente de Bollywood era, por tudo isso, Sridevi Kapoor. No último domingo, quando se encontrava nos Emirados Árabes Unidos para um casamento familiar, foi vítima de um acidente na banheira que a deixou sem vida aos 54 anos.

Sridevi era uma das poucas damas autónomas do cinema indiano. Heróis masculinos eram dispensáveis na obtenção de êxitos de bilheteira. «Acho mesmo que ela foi das primeiras mulheres superestrela na Índia», explicou à CNN o crítico de cinema indiano, Rajeev Masand. «Não interessava quem eram os atores, os filmes eram assegurados só com o nome dela nos cartazes», justificou. 

O crítico descreve-a como uma mulher «tímida, mesmo no pico da carreira». Sob o olhar do realizador, «ela transformava-se noutra pessoa». «Era lindo de ver», recapitula. Quem lidou com ela de perto, diz que era animada, sorridente e carismática, mas não consensual: «A mãe do Boney [primeiro marido] descreveu-a como uma traidora e deu-lhe um soco no estômago no lobby de um hotel de cinco estrelas». 

Porém, o realizador Ram Gopal Varma, com quem trabalhou em diversos filmes, publicou um texto noFacebook em que deixa uma visão diferente sobre «a criança encarcerada em corpo de mulher». «Para muitos, a vida dela era perfeita. Um rosto belo, grande talento, família estável e duas filhas lindíssimas. Para fora, tudo parecia invejável e desejável. Mas seria uma pessoa feliz com uma vida feliz?», questionou. O cineasta deu conta de investimentos falhados da mãe que, após a morte do pai, atiraram a família para a bancarrota. 

Nascida a 13 de agosto de 1963, entrou no mundo do cinema ainda muito nova, aos quatro anos, no drama Thunaivan. Aos 12 anos, estreou-se num filme de Bollywood, como parte de um triângulo amoroso, e o seu primeiro grande papel aconteceu em 1979 no filme Sawan. Participou em mais de 300 filmes, muitos deles com números astronómicos. Mawaali (1983), Nagina (1986), Mr. India (1987), Chandni (1989), Lamhe (1991) e Gumrah (1993) estão entre os filmes mais bem sucedidos de Bollywood nas décadas de 80 e 90. 

Atingido o estatuto de intocabilidade, decidiu fazer uma pausa para criar as duas filhas Jhanvi (agora com 20 anos), e Khushi de 17, do primeiro marido Mona Shourie, patrono dos estúdios Future, em Bombaim. Voltaria a casar agora com o produtor Boney Kapoor. 

Em 1997 estaria de regresso ao grande ecrã em d, onde simbolicamente interpretava uma dona de casa casada com um homem que não podia sustentar-lhe os luxos e as mordomias. Quinze anos de hiato depois, regressou para o bem sucedido English Vinglish de Gauri Shinde. «A forma como a personagem foi imaginada pelo realizador e interpretada por Sridevi, é gloriosamente feminina e singularmente indiana», escrevia o Hollywood Reporter após a estreia do filme. 
A atriz inspirou uma nova geração ao aliar forte personalidade, beleza e um sentido de humor inteligente. Mas a fama tem o seu preço e para trás ficara um crescimento diferente do das outras raparigas. «Perdi o tempo de escola e faculdade, mas entrei para a indústria do cinema e trabalhei sem uma falha, desde jovem atriz até heroína. Não tinha tempo para pensar e sentia-me grata por isso», reconhecia ao jornal The New Indian Express em 2013. 

«Era uma das últimas heroínas do cinema indiano», declarou Rachel Dwyer, Professora de Cultura Indiana e Cinema na Faculdade de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres. Na capital inglesa, o presidente de câmara Sadiq Khan, filho de imigrantes paquistaneses, publicou uma foto com a atriz e recordou o encontro com Sridevi numa viagem recente à Índia. «Triste por saber da morte de uma atriz, intérprete e produtora tão talentosa», escreveu. 
Sridevi Kapoor não era apenas o símbolo máximo de Bollywood e de uma das indústrias mais poderosas do cinema. Ela era maior do que o meio e do que a extensa obra que deixou – e que agora suscitará um novo entusiasmo.