Liga Europa. O renascimento de Manelelé com Eder ao barulho

A cumprir a quarta época no Lokomotiv, Manuel Fernandes é uma das figuras da prova. Hoje defronta o Atlético de Madrid e quer mostrar que ainda merece os grandes palcos

Os oitavos-de-final da Liga Europa arrancam hoje, e com alguns grandes jogos em perspetiva. O AC Milan-Arsenal talvez seja o de maior cartaz, mas na capital espanhola também irá ter lugar um encontro muitíssimo interessante: pela frente estarão Atlético de Madrid e Lokomotiv de Moscovo. De um lado, uma das mais fortes equipas do futebol europeu, que esteve em duas finais da Liga dos Campeões nas últimas quatro épocas e que acaba de praticamente entregar o título espanhol ao Barcelona – os oito pontos de distância após a derrota no Camp Nou, na última jornada, assim o ditam.

A conquista de uma competição europeia, ainda que não seja a mais apetecível, ganha assim maior relevância para os pupilos de Diego Simeone – um técnico que, como se sabe, não permite a nenhum jogador seu qualquer espécie de facilitismo. Além disso, os colchoneros têm um passado a defender na prova: somam duas vitórias, ambas já na era Liga Europa: 2009/10 (precisamente no ano em que a competição adotou esta designação) e 2011/12.

É, portanto, um contexto bastante adverso, aquele que esperará hoje o Lokomotiv no novíssimo Estádio Metropolitano. Mas os russos também têm as suas armas – e a lança mais afiada fala português: chama-se Manuel Fernandes, fez 32 anos no mês passado, é médio e figura no grupo dos segundos melhores marcadores da competição, com seis golos em oito jogos.

A cumprir a quarta temporada no Lokomotiv, o menino que aos 18 anos já era pedra basilar no meio-campo do Benfica está a viver uma segunda vida ao mais alto nível, depois de alguns anos com um percurso errante. Em 2006, Manuel Fernandes era apontado como uma das grandes esperanças do futebol mundial e comparado a Makélélé, então o símbolo máximo do que era um médio de topo – depressa surgiu a alcunha Manelelé, de fácil compreensão e memorização.

Balotelli KO

Os passos dados posteriormente pelo menino que cresceu na Amadora, todavia, não terão sido os mais acertados. Duas passagens fugazes pela Premier League (Portsmouth e Everton, em 2006/07 por empréstimo do Benfica, e novamente os toffees no ano seguinte, então por cedência do Valência) antecederam a transferência para o Valência, onde alternou momentos de algum brilhantismo com fases de enormes apagões e problemas extra-futebol. Seguiram-se três anos e meio interessantes – mas nunca explosivos – no Besiktas, antes de em 2014 assentar arraiais no Lokomotiv.

O ano passado, fez 26 jogos e nove golos. Números razoavelmente bons, mas que já foram completamente arrasados esta temporada: soma 30 jogos e 12 golos, sendo peça fulcral na grande caminhada no campeonato – à jornada 21, lidera com sete pontos de vantagem sobre o Krasnodar e oito sobre os tradicionais candidatos CSKA e Spartak de Moscovo e ainda o Zenit. Na Liga Europa, a coroa de glória: apontou dois hat-tricks, em casa frente aos checos do Zlín e em França perante o Nice de Balotelli, este na eliminatória passada. Tem sido presença assídua nas equipas da semana da prova e até já mereceu a chamada de Fernando Santos à Seleção nacional, de onde andava arredado há cinco anos. No regresso, no particular com a Arábia Saudita, marcou e foi o melhor em campo. Esta noite, terá mais uma oportunidade para cimentar a candidatura ao comboio que partirá de Portugal e só pára… na Rússia, precisamente o país onde vai dando cartas semana após semana.

Do banco de Paris ao banco em Madrid 

Manuel Fernandes não é, porém, o único motivo de interesse para Portugal no plantel do Lokomotiv. Desde o início da época, por lá está também Ederzito António Macedo Lopes. Esse mesmo: Eder, o herói do Euro 2016, que aos russos foi cedido pelo Lille. Em Moscovo, os momentos de felicidade também não têm sido muitos: apenas três golos em 17 jogos, algumas lesões e mais tempo no banco do que no campo, à sombra do peruano Farfán ou do russo Miranchuk. Hoje, mais uma vez, deverá ser esse o seu destino, mas uma repetição do mágico feito de Paris pode catapultá-lo para uma reta final de sonho – e o Mundial está já ali à porta.

 

leão respeita o desconhecido Longe de ser um dos jogos mais aliciantes da ronda, o Sporting-Plzen encerra motivos de interesse naturais para os portugueses. Perdido o clássico e praticamente o título nacional, os leões passaram agora a encarar como um objetivo chegar o mais longe possível na Liga Europa – e quem sabe ganhá-la. Para esta partida, Rafael Leão está fora, tal como Doumbia, André Pinto e Podence; em dúvida continuam Piccini e Bas Dost. “É um dos poucos lesionados em que ainda temos um pouco de esperança até amanhã. Já fez um treino, um pouco limitado mas fez. No treino de amanhã vamos perceber se o podemos lançar no jogo”, disse Jorge Jesus na antevisão.

Do outro lado está um adversário de nome pouco sonante, apesar de ser o grande dominador do futebol checo na última década, mas esse fator não é por si só garantia de nada. Que o diga Bryan Ruiz. “Às vezes, jogar contra adversários que não se conhecem tanto é mais complicado. Respeitamos muito todas as equipas, principalmente quem não conhecemos tão bem”, realçou o costarriquenho, que hoje tem a titularidade garantida – palavra de Jesus. Já o alerta do treinador do Plzen tem de ser levado em conta. “Com certeza que o favorito é o Sporting, tem grande experiência e jogadores fortes, mas a nossa equipa também tem alguma experiência e somos capazes de chatear um bocadinho. Nos últimos oito anos jogámos frequentemente nas provas europeias, os nossos jogadores têm experiência e temos uma equipa madura”, afirmou Pavel Vrba. O aviso está feito.