O passo em frente do CDS

Neste Congresso fecha-se um ciclo pessoal. Continuo a defender o que consta na Moção Juntos pelo Futuro. Não mudei e não me arrependo 

O Congresso que o CDS vai realizar no próximo fim de semana constitui a oportunidade histórica de demonstrar ao País aquele que é o nosso projeto político, económico e social. 

A liderança não está em discussão. Assunção Cristas conseguiu, graças ao seu espírito de trabalho e à sua determinação, transportar o CDS para um novo patamar eleitoral. Há que reconhecê-lo e há que felicitá-la por isso mesmo. 

As minhas divergências nunca foram de caráter pessoal. Registo aliás uma autenticidade na atuação de Assunção Cristas que não tem paralelo com qualquer outro dirigente partidário do CDS. E isso é bom.

Podemos fazer balanços e prestações de contas sobre o passado, dizendo que Assunção Cristas não quis unir, mesmo com algumas oportunidades para o fazer, mas aquilo que é importante é o futuro. Mais do que entrar na discussão vazia do pragmatismo pelo pragmatismo, aquilo que se impõe ao CDS é uma resposta concreta sobre aspetos essenciais da nossa vida. 

Há que começar por dar um passo em frente no discurso político económico do centro-direita. O discurso da bancarrota socialista e da troika, embora verdadeiro, é hoje um discurso esgotado, um discurso que não chega às pessoas, um discurso que é bafiento. Em vez de um discurso de futuro, mais parece ser um discurso de ajuste de contas. O país, graças a esse esforço do passado, é certo, cresce acima da média europeia, saiu do procedimento por défice excessivo e, apesar do Governo, cresce nas exportações.  Imagine-se o que poderia ser com um Governo verdadeiramente amigo das exportações, das nossas empresas e dos nossos empresários.

Dar o passo em frente significaria, do ponto de vista político, a coragem de furar o centrão político habitual com propostas de reforma do sistema político e eleitoral, reforma do Parlamento, reforma do mapa administrativo, regional e local. Dar o passo em frente significaria ter a coragem de acabar com a ladainha habitual daqueles que dizem querer descentralizar para na prática tudo quererem que fique na mesma, sem regionalização, sem descentralização, sem desconcentração de competências e dependente dos mesmos de sempre.

Dar o passo em frente significa apresentar respostas concretas sobre primeiro emprego, apoios na entrada do mercado de trabalho, formação e valorização permanente ao longo da vida de trabalho, desemprego de longa duração, apoios à contratação e formação de trabalhadores com mais de 45 anos, envelhecimento ativo ou a outras questões como a gestão das florestas e dos matos, na qual o Estado acaba a impor a particulares e autarquias a resolução em quatro meses de problemas que o Estado não foi capaz de resolver em quarenta anos. 

Dar o passo em frente significa clarificar a posição do CDS em matéria de acordo ortográfico. Dar o passo em frente significa reconhecer que todas as nossas propostas não assentam na oportunidade do momento, ao invés assentam na identidade do CDS, reinventada e atualizada aos dias de hoje. Foi essa identidade que me fez aqui estar. Sou contra a lei do aborto, sou contra a lei da adoção de crianças por casais homossexuais, sou contra as barrigas de aluguer, sou contra a interferência do Estado na vida das empresas privadas, sou contra a imposição de quotas de género fora do perímetro do Estado, sou contra a apresentação de propostas de obras públicas sem a necessária quantificação dos custos, só para dar alguns exemplos. Tudo isso faz de mim um perigoso radical dogmático do CDS? Talvez. Seja como for, dar o passo em frente é reconhecer a diversidade de opiniões no CDS como saudável. Dar o passo em frente é reconhecer que o funcionalismo político mina a criatividade, a liberdade, a independência e o talento. Dar o passo em frente é ter a coragem de enfrentar praticas partidárias internas surrealistas que só afastam e não congregam. 

Dar o passo em frente é reconhecer que o CDS não se faz apenas no Caldas, mas sim em cada canto do país, com uma representatividade local saudável nas listas do Partido. É saber que aquilo que nos une é mais forte que tudo aquilo que nos separa e que tudo aquilo que somos hoje resulta da história completa do Partido.

É não cair na tentação fácil de expulsar. É ter a arte e a inteligência de na diversidade encontrar razões de maior união. Com tudo isto o passo será mesmo em frente.

Neste Congresso fecha-se um ciclo pessoal. Continuo a defender o que consta na Moção Juntos pelo Futuro. Não mudei e não me arrependo.

A gratidão que tenho com o CDS é imensa pelas oportunidades que aqui tive e pelas amizades que aqui tenho. A liberdade que procuro preservar em todos os momentos da minha vida pessoal, profissional e política aprendia-a nesta casa. 

Podem ter a certeza que continuará a ser assim. Com ou sem funções partidárias e políticas.