Regresso de Monteiro divide CDS

Manuel Monteiro admite regressar ao CDS. Portas não gostou da ideia, mas alguns militantes garantem que serviria para unir o partido. Bateu com a porta há quinze anos.

O eventual regresso de Manuel Monteiro ao CDS está longe de ser pacífico. O ex-líder do partido admitiu esta semana voltar e ouviu incentivos, mas também avisos de que não será bem recebido. Manuel Monteiro está atento aos sinais que lhe chegam do CDS, mas tem recusado todos os convites para desenvolver o assunto. Ao SOL, o ex-líder do CDS diz apenas que este «é o tempo do silêncio e de ouvir. Estou em silêncio a aguardar com serenidade os desenvolvimentos e, mais tarde, falarei». 

Manuel Monteiro admitiu, na terça-feira, numa entrevista à SIC, que não fechava a porta a regressar ao CDS. O que poderá acontecer depois de ter uma «conversa serena» com algumas pessoas que com ele deixaram o partido há mais de quinze anos para fundar o partido Nova Democracia. Um projeto que não teve sucesso e conduziu a que Monteiro deixasse a política ativa em 2009.

Cecília Meireles foi uma das vozes mais críticas. «Quem decidiu abandonar o CDS e fazer outro partido foi o doutor Manuel Monteiro. Ouvi falar de uma hipótese, não vou comentá-la, acho que não faz sentido», disse, em declarações à agência Lusa, a vice-presidente do partido. Paulo Portas não se pronunciou publicamente, mas terá manifestado a sua discordância junto de alguns dos dirigentes do partido. 

A declaração de Cecília Meireles contra o regresso de Monteiro não fica sem resposta. Abel Matos Santos, porta-voz da tendência Esperança em Movimento, diz que «o partido não tem donos» e garante que «os militantes ficaram muito satisfeitos. Ele é muito bem-vindo. É fundamental pacificar o partido e o regresso de Monteiro é um passo fundamental para o partido se unir. Cristas pode ficar na história como a presidente que uniu o partido».

Abel Matos Santos desafia Assunção Cristas a convidar o ex-líder a regressar. «Só lhe ficaria bem. O partido precisa de estar unido para os combates futuros». O ex-deputado Raul Almeida também defendeu que chegou o tempo de sarar as feridas. «O CDS é a casa onde se deve encontrar toda a gente que pensa à direita. Só posso ficar contente com o regresso de Manuel Monteiro. Triste é ver os que continuam a vaguear por paragens que em nada os dignificam». 

Manuel Monteiro tem vindo a aproximar-se do CDS nos últimos tempos. Participou na campanha para as eleições autárquicas e antes já tinha aceitado o convite para o jantar do 42.º aniversário da Juventude Popular. «Tenho aproveitado essas oportunidades para ficar em paz com o CDS», disse, numa entrevista ao SOL, há menos de um ano. 

Nunca deixou, porém, de fazer duras críticas a Paulo Portas. Mesmo há pouco tempo, numa entrevista ao i, Monteiro criticou os centristas devido à posição que assumiram em relação ao MPLA.  «É um testemunho de um partido que se rendeu e vendeu aos interesses pessoais e de negócios do dr. Paulo Portas», afirmou. 

Monteiro não foi a única figura de peso a  entrar em rutura com o partido. Freitas do Amaral, fundador,  abandonou o CDS no final da década de 90 e aproximou-se dos socialistas. Foi ministro dos Negócios Estrangeiros no primeiro governo de José Sócrates, em 2005. «Pessoalmente, fui coerente, embora não tenha sido compreendido por muitos», escreveu no livro sobre os 40 anos dos centristas. Basílio Horta, outro dos fundadores, seguiu o mesmo caminho de aproximação ao PS e continua no ativo como presidente da Câmara de Sintra. Antes de ser eleito na lista dos socialistas para Sintra, Basílio sentou-se na bancada do PS na Assembleia da República. 

Cristas recupera Senado com antigos lideres do partido 

Assunção Cristas vai reativar o Senado, criado em 2003 por Paulo Portas, mas sem atividade há mais de dez anos. O Senado é constituído pelos ex-líderes e fundadores do partido, que sejam filiados. Nomes como Adriano Moreira, Paulo Portas e Ribeiro e Castro vão integrar este órgão consultivo que dá parecer sobre a revisão do programa do partido,  projetos de revisão constitucional ou coligações pré-eleitorais em eleições nacionais. Miguel Anacoreta Correia, Cruz Vilaça e Nogueira de Brito foram alguns dos nomes convidados pela direção do partido para integrar o novo Senado. «Queremos fazer partido com todos, de todas as gerações e de  todos os percursos de vida», escreve, na moção Um Passo à Frente, Assunção Cristas. A presidente do CDS garante que o Senado será um «símbolo» da importância que dá à história do CDS, mas também uma oportunidade para que a experiência dos mais velhos possa «enriquecer as opções fundamentais do partido». Um dos momentos altos do congresso será a homenagem a Adriano Moreira, que liderou o partido entre 1986 e 1988  e foi deputado durante 14 anos. Foram convidados para esta homenagem os ex-líderes do partido e Paulo Portas vai estar presente.