Duarte Cordeiro. ‘Seria uma contradição o PS estar disponível para o Bloco Central’

Duarte Cordeiro, novo presidente da Federação da Área Urbana de Lisboa do PS, admite que Bloco e PCP possam integrar um Governo: ‘É possível outro tipo de entendimentos’. 

Duarte Cordeiro. ‘Seria uma contradição o PS estar disponível para o Bloco Central’

Foi diretor de campanha do PS nas eleições legislativas. Acreditou desde o início que a aliança com a Esquerda poderia ser uma solução estável?

Posso dizer que apoiei desde o princípio esta iniciativa de encontrar um entendimento, porque quebrou uma limitação que o nosso sistema tinha. Havia uma dificuldade de governabilidade à Esquerda quando existia maioria parlamentar nesse sentido e, tendo em conta alguma capacidade que existiu na definição das prioridades políticas dentro dessa maioria à Esquerda, foi muito importante o que foi feito. Acho que o Governo tem demonstrado uma capacidade de garantir a estabilidade que ultrapassa outras soluções governativas que o PS teve com partidos à sua Direita. É um Governo com resultados no sentido em que podemos identificar que o país, hoje, tem mais confiança do ponto de vista do emprego, da redução das desigualdades, do crescimento económico e dos resultados financeiros. 

É um Governo de Esquerda?

Claramente. É um Governo que procurou contrariar processos de privatização e de concessão em curso valorizando serviços públicos. Procurou fortalecer o poder de compra das famílias e das pessoas que tinham sido mais atingidas pela crise. 

Jerónimo de Sousa disse que o PS é incapaz de se afirmar como um partido de Esquerda. 

O PCP vai fazendo aquilo que é o seu papel. Tem num determinando momento um objetivo e coloca pressão. A grande novidade desta solução governativa é que não anulou as particularidades de cada um dos partidos.

Mas são muitas as diferenças entre o PS e os partidos à sua Esquerda… 

São muitas e isso torna mais exigente a governação, mais difícil, mas não a torna impossível, nem isso significa instabilidade. Hoje podemos afirmá-lo com toda a certeza.

Na moção com que se candidatou à liderança da Federação da Área Urbana de Lisboa defende que um bom resultado do PS é a garantia de que o país não sofrerá nenhuma crise. Teme que as condições na próxima legislatura possam ser menos favoráveis para um entendimento deste género? 

Não sabemos. Sentimos que existe confiança e apoio popular a este Governo. Os resultados que estão a ser alcançados gozam de apoio popular e para manter este rumo é necessário garantir que esse ciclo não é prejudicado por algum tipo de instabilidade. A concentração de votos no PS permitirá essa estabilidade. Eu, com isto, não nego, nem renego, a possibilidade de haver entendimentos políticos à Esquerda. Apenas digo que quanto maior for a força que o PS tiver maior é a garantia de que essa estabilidade acontecerá.

O melhor seria o PS ter maioria absoluta?

O que eu digo é que um bom resultado do Partido Socialista é garantia de estabilidade. 

Tem medo de falar em maioria absoluta? 

Não. Não tenho, mas não acho que deva ser um objetivo, porque é contraditório. Se nós conseguimos governar e conseguimos governar com estabilidade durante estes quatro anos sem a necessidade de uma maioria absoluta não faria sentido definir esse objetivo como um objetivo sem o qual não há estabilidade. Não é isso que eu digo. Eu digo é que quanto mais força política o PS tiver mais facilmente se entenderá que a estabilidade passa por um Governo do PS. Mas isso não nos impede de renovar o entendimento político à nossa Esquerda. Mas, como António Costa já referiu, o facto de o PS ter uma maioria não impede a renovação de acordos políticos à nossa Esquerda.

Seria mais difícil. A capacidade negocial do PCP e do Be ficará diminuída.

Dependerá dos partidos e do programa. Dependerá do nível de responsabilidade que queiram assumir e do tipo de objetivos que definam para a próxima legislatura. Não vejo dificuldade em negociar, à Esquerda, objetivos políticos estratégicos de médio e longo prazo. 

Pensei que ia dizer que achava possível esses partidos integrarem um Governo do PS.

Dependerá dos objetivos que quiserem atingir. Eu sou vice-presidente de uma Câmara Municipal que tem um entendimento político com o Bloco de Esquerda. O BE assumiu responsabilidades. Não tenho qualquer preconceito em relação a essa matéria . Dependerá dos objetivos políticos desses partidos.

Do ponto de vista de um socialista, acha que era desejável aprofundar esta relação?

É muito natural que possa haver entendimentos como os que foram construídos nesta solução governativa, em que há um Governo  de um partido suportado por outros partidos na Assembleia da República, mas também é perfeitamente possível que haja outro tipo de entendimentos, onde esses partidos queiram assumir responsabilidades nesse Governo. Não tenho nenhum preconceito em relação a essa matéria. O PS tem de estar disponível e aberto, num processo de negociação, para qualquer solução. Dependerá do programa e das condições. Não acho que seja uma matéria em que nós possamos ter um preconceito, à partida, a dizer: desta forma sim, daquela forma não. Têm de existir condições que permitam encontrar uma solução de estabilidade.

O PCP já deu a entender que uma solução deste género não é repetível. Provavelmente, o Bloco tem mais vontade do que o PCP de repetir esta solução. 

Eu não tiro essas conclusões. O PCP  teve uma capacidade extraordinária de dar apoio político a este Governo. Todos os partidos que apoiaram este Governo tiveram conquistas de que se orgulham e o PCP também. 

Na Câmara de Lisboa, por exemplo, não foi possível uma aliança com o PCP e foi possível com o BE.

Foi público que procurámos um entendimento político alargado, mas isso não condiciona o PCP em relação ao futuro de Lisboa ou a nível nacional.

O PS deve deixar claro, nas próximas eleições legislativas, que nunca fará uma aliança à Direita?

Julgo que as alianças à Direita só serão  possíveis de forma pontual. Seria uma contradição o PS estar disponível para um Governo de Bloco Central. Não faz sentido e não é desejável. 

Nem para um acordo de incidência parlamentar?

Não vejo isso como possível. É saudável existir uma alternativa. Espero que o PS tenha condições para governar com entendimentos à Esquerda. É isso que faz sentido. 

Se o PSD voltar a ficar à frente, mas sem condições para formar Governo, o PS deve voltar a governar com a Esquerda?

Deve governar quem conseguir ter apoio parlamentar.