Bélgica. A primeira Taça no bolso do mister Sá Pinto

Em sete anos como treinador, o antigo avançado nunca havia conseguido ganhar um troféu. A seca acabou este sábado, com o Standard Liège a bater o Genk no prolongamento. Carcela, ex-Benfica, deu uma preciosa ajuda

À sétima temporada como treinador, Ricardo Sá Pinto festejou a primeira conquista. Demorou mais do que se previa inicialmente – até porque, com pouco mais de três meses como técnico no escalão sénior, liderou o Sporting no Jamor. Perdeu, contudo, aí, diante de uma Académica matreira e muito eficaz. Aguentou mais uns meses em Alvalade, passou por Sérvia (Estrela Vermelha), Grécia (OFI Creta e Atromitos), Belém, Arábia Saudita (Al Fateh), outra vez Sérvia (Atromitos) e finalmente a Bélgica onde estava destinado a ser feliz.

Neste sábado, aos 45 anos, Sá Pinto guiou o histórico Standard Liège – onde tinha acabado a carreira de jogador – à oitava Taça do seu historial, a segunda nas últimas três temporadas. Perante 45 mil pessoas nas bancadas do Estádio Rei Balduíno, e num jogo muito disputado, nem sempre belo do ponto de vista artístico mas intenso a rodos, os rouges foram mais felizes que o Genk: no segundo minuto do prolongamento, depois do 0-0 nos 90’ regulamentares, Carcela-González (esse mesmo, o extremo marroquino de pezinhos de veludo que passou pelo Benfica em 2015/16) cruzou largo para a área e Emond, um semi-desconhecido avançado belga de 26 anos, cabeceou para as redes contrárias, fazendo o seu sexto golo na prova. Não era preciso mais.

“Estava destinado. Os jogadores fizeram um percurso extraordinário, seguro. Mereceram. Às vezes numa final não se joga tão bem de parte a parte, muitos duelos, muita emoção. O tempo, com três ou quatro graus negativos, também não ajudou, o terreno ficou mais duro… Foram circunstâncias que não ajudaram a um jogo diferente”, referiu o técnico luso, vencedor de uma Taça de Portugal enquanto jogador – 1994/95.

O contexto difícil ainda valorizou mais o papel dos jogadores – os verdadeiros artífices da conquista, claro está. “Houve alma, houve estratégia, houve organização, paciência, também eficácia. Por isso marcámos e ganhámos. É bom ganhar, um treinador vive de vitórias e eu gosto muito de ganhar. Já perdi algumas vezes, não gosto nada de perder nem de empatar e portanto é um dia marcante na minha carreira”, assumiu Sá Pinto, que nesta caminhada viu o Standard Liège superar Heist, Anderlecht, Oostende e Club Brugge.

Longa tradição lusa em Liège A conquista do Standard Liège encerra mais ligações a Portugal. Além do já referido Carcela-González, também Duje Cop, avançado croata que passou pelo Nacional em 2008/09, participou nesta final – lançado aos 97’. No banco ficou Carlinhos, médio brasileiro contratado ao Estoril em agosto passado. Mas também Orlando Sá teve um contributo essencial na caminhada triunfal dos rouges: o avançado português fez três jogos e dois golos na prova antes de se mudar para a China em fevereiro.

Sá Pinto e Orlando Sá fazem assim justiça a uma tradição lusa na Bélgica, juntando-se a outros três atletas que conquistaram a prova… e sempre ao serviço do Standard Liège. Norton de Matos, atualmente a treinar na Índia, abriu a caixa de Pandora em 1980/81, na terceira temporada no clube. Jorge Teixeira, hoje central do St. Truiden, e Rochinha, agora a atuar no Boavista, deram-lhe sequência em 2015/16, numa equipa cujas redes eram defendidas por Victor Valdés, guardião histórico do Barcelona.

O triunfo na competição garante, desde já, um lugar na fase de grupos da Liga Europa na próxima temporada ao histórico conjunto belga. O técnico luso, ainda assim, aspira a mais, depois de ter conseguido, no último fim-de-semana, levar o Standard Liège à fase de campeão da Liga belga, ao vencer no terreno do Oostende (2-3) e assim terminar em sexto na fase regular – com os mesmos pontos do quinto… que é o Genk.

No rol dos imortais Este triunfo coloca Sá Pinto e Orlando Sá num invejável lote: o de portugueses que já celebraram conquistas no futebol europeu em 2017/18. Um grupo restrito, onde até agora só constavam cinco pessoas: Cristiano Ronaldo, vencedor da Supertaça espanhola e europeia e do Mundial de clubes pelo Real Madrid; Gonçalo Guedes, utilizado na final da Supertaça francesa ganha pelo PSG ao Mónaco; Renato Sanches, lançado para os últimos minutos da Supertaça alemã que o Bayern venceu ao Dortmund; Bernardo Silva, que a 25 de fevereiro levantou a Taça da Liga inglesa pelo Manchester City; e Paulo Fonseca, que ainda em julho levou o seu Shakhtar a bater o Dínamo Kiev e conquistar a Supertaça da Ucrânia.