Sarampo. Casos Confirmados no norte já são o dobro do surto do ano passado

Até ontem foram confirmados 53 casos de sarampo das 145 situações suspeitas reportadas

O número de doentes com sarampo voltou a subir. Ao final da tarde de ontem tinham já sido confirmados 53 casos de um total de 145 situações suspeitas reportadas – destas o vírus já foi descartado em 51 pessoas. 

De acordo com o balanço feito ontem pela Direção-Geral de Saúde (DGS) relativo ao surto deste vírus na região norte, “dos 53 casos confirmados (todos adultos), um pertence à Região Centro”, tendo o mesmo “ligação ao surto que decorre na região norte”.

O balanço dava ainda conta do internamento de cinco pessoas “com situação estável”. A maioria das situações suspeitas reportadas tem ligação ao Hospital de Santo António, no Porto. 

A DGS salienta ainda que está em curso uma “investigação epidemiológica detalhada da situação, que inclui a investigação laboratorial de todos os casos”.

Os casos confirmados no surto detetado este mês na região norte já são mais do dobro dos do maior surto registado no ano passado na região de Lisboa, que teve 20 doentes confirmados, entre os quais a adolescente de 17 anos que veio a morrer de complicações da doença. Além deste surto em Lisboa, no ano passado houve sete casos no Algarve e dois casos isolados. Até março de 2017, não havia registo de transmissão de sarampo em território nacional há 12 anos, apenas casos isolados de doentes que tinham contraído o vírus no estrangeiro e se apresentavam nos hospitais e centros de saúde portugueses.

Tal como no surto deste ano, que tem aparentemente como primeiro caso um cidadão francês que regressou recentemente de uma região francesa onde há um surto a decorrer, as cadeias de contágio de 2017 também tinham ligações epidemiológicas ao estrangeiro, nomeadamente à Roménia.

Lá fora

Em 2017 o sarampo causou 35 mortes na região europeia, uma em Portugal. Este ano, o último balanço do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC na sigla em inglês), revela que a ameaça está longe de estar ultrapassada. 

A região francesa de Nouvelle Aquitaine, de onde terá regressado recentemente o cidadão francês que iniciou a corrente de contágio no Porto, é a mais afetada. Desde o dia 6 de novembro, França registou mais de 900 casos de sarampo e metade concentram-se nesta região no sudoeste do país. 

No ano passado, os países que registaram mais casos de sarampo foram a Roménia (5224), Itália (4978), Grécia (1398) e Alemanha (906). Já este ano, os dados sugerem que é na Grécia e em França que o cenário mais se está a complicar. Só nos primeiros dois meses e meio do ano já foram atribuídas sete mortes à doença na Europa em quatro países – três na Roménia, duas em Itália, uma na Grécia e uma em França, uma mulher com 32 anos. 

A nível europeu, verifica-se um número elevado de casos acima dos 15 anos de idade em grupos de população que não foram vacinados, mas a maior incidência verifica-se nas crianças com menos de um ano, que à partida ainda não fizeram a primeira dose da vacina, dada aos 12 meses. “A continuada disseminação de sarampo na Europa deve-se à cobertura vacinal abaixo do valor ótimo”, diz o ECDC, adiantando que, de todos os casos em que era conhecida a cobertura vacinal, 87% das pessoas afetadas não tinham sido imunizadas contra o sarampo.

Recorde-se que ter a vacina em dia não evita por completo o contágio, mas faz com que a manifestação da doença seja mais leve, sendo a melhor forma de proteção.

Em Portugal, a indicação é clara. A vacina foi incluída no Programa Nacional de Vacinação em 1974, pelo que pessoas que nasceram depois de 1970 e que à partida não terão sido expostas à doença – e que podem ter apanhado uma fase de transição em que não fizeram a vacina em crianças – devem ter pelo menos uma dose – os mais velhos à partida não necessitam de vacinação. 

Pessoas até 18 anos devem ter duas doses (uma deveria ter sido feita aos 12 meses e outra aos 5 anos). Todos os profissionais de saúde devem ter duas doses da vacina, independentemente do ano de nascimento, dado estarem mais expostos a eventuais doentes que se desloquem aos hospitais ou centros de saúde, como aconteceu no Hospital de Santo António.