Os que vão e os que chegam

Lisboa está bonita por estes dias. Apesar do frio, o sol deste início de primavera veio realçar a beleza natural e arquitetónica da cidade. As ruas, os transportes públicos, as esplanadas e os restaurantes estão cheios de turistas estrangeiros. E, quanto aos locais de trabalho, também estão cheios de jovens – e de outros menos…

Lisboa está bonita por estes dias. Apesar do frio, o sol deste início de primavera veio realçar a beleza natural e arquitetónica da cidade. As ruas, os transportes públicos, as esplanadas e os restaurantes estão cheios de turistas estrangeiros. E, quanto aos locais de trabalho, também estão cheios de jovens – e de outros menos jovens – de outras nacionalidades que estão em Portugal para estudar, para trabalhar, e para viver. Por exemplo, no sítio onde eu agora trabalho, em 11 pessoas, apenas três são portuguesas. Falam-se cinco línguas diferentes, o que dá origem a alguns episódios engraçados, como eu e outro português darmos por nós a dialogar… em inglês. Apesar das múltiplas nacionalidades presentes, e ao contrário do que se poderia esperar, o ambiente é muito bom: há entreajuda entre colegas, partilham-se pacotes de pipocas e de chocolates, almoça-se em grupos…. Enfim, este sítio poliglota e multicultural é um bom local de trabalho.

E há cada vez mais estrangeiros que procuram Portugal para viver e trabalhar. Segundo os dados do Pordata, que congrega informação oriunda do INE, o saldo migratório, isto é, a diferença entre emigrantes e imigrantes, que chegou a valores próximos de -40.000 pessoas por ano em 2012, quando o programa de ajustamento negociado com a troika fez disparar o desemprego e a emigração, reduziu-se para -8.000 pessoas em 2016, o último ano para o qual existem valores disponíveis. E, pelo que vejo, nada me espanta se em 2017 o saldo migratório passar novamente para valores positivos, como foi o caso entre 1993 e 2010.

Podemos lamentar o facto de investirmos na instrução de jovens que depois emigram, sendo os frutos desse investimento recolhidos pelos países de acolhimento desses mesmos jovens. Mas olhar para a questão só por esse lado ignora dois aspetos essenciais. Em primeiro lugar, Portugal não é o único país do mundo que se pode queixar da saída de quadros qualificados. No Reino Unido, que tem excelentes Universidades e empresas, todos os anos há milhares de pessoas que emigram para os Estados Unidos, seduzidos por melhores salários, melhores condições de trabalho ou de investigação, e por a língua ser a mesma.

A segunda questão é que Portugal é, ele próprio, um país de acolhimento. Sempre o foi. Limitando a análise ao meu tempo de vida, foi-o, em primeiro lugar, para as pessoas que vieram das ex-colónias em 1975, depois para imigrantes oriundos dos PALOP e do Brasil, depois ainda para dezenas de milhar de ucranianos (os quais, duramente atingidos pelo programa de ajustamento negociado com a troika, já saíram quase todos), e, mais recentemente, para imigrantes vindos de todos os cantos da Europa, frequentemente de países onde os rendimentos médios por pessoa (o PIB per capita) são superiores ao português.

Estes novos imigrantes são, a meu ver, muito bem-vindos, por diversas razões. Primeiro, porque vêm ocupar postos de trabalho que de outro modo ficariam por preencher, contribuindo desta forma para o aumento do PIB (total da produção) português.

Mas esta não é a única vantagem económica, pois estes imigrantes pagam impostos e descontam para a segurança social em Portugal, contribuindo por essas vias para os desejados equilíbrio e sustentabilidade das contas públicas portuguesas. Por fim, mas não menos importante, estes imigrantes são maioritariamente jovens que estão na idade de terem filhos, e muitos têm-nos, o que são excelentes notícias para Portugal, país onde, por exemplo, em 2016, morreram mais 23.000 pessoas do que nasceram, sempre segundo os dados do INE. De acordo com os valores agregados no Pordata, que agrupa os dados do INE, o saldo natural da população residente em Portugal, ou seja, a diferença entre o número de nados vivos e o número de óbitos, é negativo desde 2009, e tem-se vindo a agravar. Como digo, só em 2016, último ano para o qual existem valores disponíveis, o saldo natural foi negativo nas referidas 23.000 pessoas. O total de residentes em Portugal, sempre segundo o INE, foi em 2016 de cerca de 10.300.000 pessoas, quando há poucos anos ultrapassava os 10.500.000.

Por tudo isto, os imigrantes são muito bem-vindos. Contribuem positivamente para a economia portuguesa, aumentam o grau de qualificações académicas da população, ajudam-nos a evitar que nos tornemos um país de reformados (isto sem desprimor para os estrangeiros reformados que encontram em Portugal um excelente sítio para gozar a reforma, atraídos sobretudo pelo nosso clima, pela segurança existente no país e, pasme-se, pela excelência do Serviço Nacional de Saúde…) e, finalmente, os imigrantes têm um papel muito positivo para a mudança das nossas mentalidades.

Por tudo isto, espero sinceramente que Portugal volte a ser um país de imigração, e não de emigração. Para já, os sinais que vejo são muito positivos.