Sócrates. Candidatura a Belém “é mais uma matéria de bruxaria”

Ex-primeiro-ministro foi falar aos estudantes e culpou a austeridade pela crise, elogiou os seus governos e insistiu no TGV. Ignorou o caso que enfrenta na justiça

“Talvez possamos deixar essas matérias [uma eventual candidatura às eleições presidenciais] de bruxaria entregues aos videntes, que fazem disso profissão”José Sócrates foi convidado pelos estudantes da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra para falar sobre “o projeto europeu depois da crise económica” e não perdeu a oportunidade para contrariar uma “história que está mal contada”.

Antes disso, à entrada para o auditório e rodeado por estudantes, o ex-secretário-geral do PS foi confrontado com a possibilidade de regressar à política e ponderar uma candidatura presidencial. A hipótese foi lançada por Marques Mendes. O ex-primeiro considerou que essa “é mais uma matéria de bruxaria. Talvez possamos deixar essa matéria de bruxaria entregue aos videntes, que fazem disso profissão”. Sócrates não quis falar mais sobre o seu futuro político e os estudantes que lhe fizeram perguntas também não estavam para aí virados. O rapaz da “camisola azul”, como foi apresentado pelo presidente do Núcleo de Estudantes de Economia, preferiu questionar o ex-primeiro-ministro sobre se as exigências da União Europeia sobre o défice agravaram a crise. José Sócrates aproveitou para culpar Passos Coelho pelo agravamento da crise. “A austeridade como resposta às crises económicas é apenas uma falácia”. A prova disso, garantiu, é que “a recuperação económica está a acontecer porque se abandonou a austeridade”.

António Costa também não escapou às críticas, mas antes de disparar contra o seu ex-ministro, Sócrates fez “um autoelogio”, porque o seu governo foi o último que apresentou “um projeto de modernização” para o país. “Quando apostámos na construção de escolas públicas, de barragens, de mais investimento na ciência, nas tecnologias de informação e na modernização das infraestruturas”.

O ex-primeiro-ministro deu ainda o exemplo do TGV e considerou que “a ideia de que o país não tem aqui um trabalho a fazer para se ligar à rede de alta velocidade é uma das ideias mais reacionárias que tenho visto desenvolver no nosso país”. Não foi há muito tempo que, numa entrevista ao jornal espanhol “ABC”, António Costa deixou claro que “a alta velocidade é um tema tabu na política portuguesa e vai sê-lo por muito tempo”.

Sócrates, que falou quase duas horas e respondeu com boa disposição às perguntas dos estudantes, não abordou os casos mais polémicos: a acusação de que deixou o país à beira da bancarrota ou o caso judicial que enfrenta na justiça. Não deixou, porém, de elogiar os estudantes pela “coragem e o desassombro de não cederem ao politicamente correto”.

A ida de José Sócrates à Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra foi polémica. Antes de iniciar a conferência, o presidente do Núcleo de Estudantes de Economia da Associação Académica, Simão de Carvalho, explicou que aquela faculdade é “inequivocamente um local de reflexão social sem doutrina política vinculada”. Ao i, Simão de Carvalho garantiu que “o auditório estava cheio com mais de 300 pessoas e José Sócrates foi muito bem recebido pelos estudantes”. Antes do ex-líder socialista, os estudantes já tinham convidado Passos Coelho, Marques Mendes, Jorge Coelho e Teodora Cardoso. Este ciclo de conferências tem como objetivo “proporcionar aos estudantes participantes uma formação extracurricular para que estes sejam capazes de se desafiarem a si próprios e transcenderem as suas capacidades”.