Vítor Costa. “A questão de discutir aeroportos é quase um desporto nacional”

Para o diretor-geral da Associação de Turismo de Lisboa (ATL) é urgente criar uma solução para o aeroporto da Portela, que já atingiu praticamente o seu limite de crescimento e está a restringir o aumento do número de turistas

O turismo tem batido recordes atrás de recordes, com um grande peso na cidade de Lisboa. Que balanço faz?

Neste momento representa a principal atividade económica em Lisboa, com um peso muito grande em termos do produto interno bruto, emprego e exportações, com as exportações a rondar os 75%. E dentro da região de Lisboa também é uma das principais atividades económicas. 

É expetável que mantenha este ritmo?

Temos vindo a registar um crescimento significativo no setor desde 2010. Mas tem crescido sobretudo nos indicadores económicos – em termos de receitas -, enquanto nos indicadores participativos – no número de turistas -, o aumento é mais ligeiro. No ano passado, os indicadores económicos cresceram cerca de 20%, enquanto os indicadores participativos aumentaram cerca de 10%. Estes crescimentos também têm sido acompanhados por um aumento da oferta. Para o futuro, e aqui estou a falar nos próximos dois a três anos, a tendência é crescer mais ao nível da rentabilidade do que propriamente ao nível das taxas de ocupação, até porque existe a questão do constrangimento do aeroporto da Portela. E, face a estes constrangimentos, os crescimentos qualitativos nunca poderão atingir o mesmo nível dos quantitativos, o que já é visível nos números dos primeiros dois meses deste ano. Os indicadores do Observatório do Turismo de Lisboa apontam para um crescimento da taxa de ocupação bastante mais baixo, a rondar os 3%, enquanto na RevPar, que é a receita por quarto disponível, o crescimento é acima de 10%.

Mas o aumento dos preços era uma das preocupações do setor…

Exatamente, mas nos últimos anos temos assistido a uma recuperação dos valores e acredito que essa recuperação vai continuar a acontecer nos próximos tempos.

Já foram identificados os constrangimentos do aeroporto de Lisboa. É fundamental para o crescimento do setor o aparecimento de uma nova solução, independentemente da sua localização?

O que é necessário é ter uma resposta adequada em termos de infraestruturas aeroportuárias e que elas sejam adequadas a uma cidade desenvolvida de um país europeu. Temos, neste momento, o aeroporto da Portela, que já atingiu praticamente o seu limite de crescimento, e temos de completar essa oferta porque o que está em cima da mesa não é encerrar a Portela e fazer um outro aeroporto, porque isso iria demorar muitos anos e seria mais pesado em termos económicos. Como tal, é preciso completar essa oferta o mais rapidamente possível e a solução de que se fala é o aeroporto do Montijo que, juntamente com a Portela, poderá constituir uma oferta complementar que possa responder às necessidades que temos de crescimento quer do turismo, quer da própria operação da TAP. Não nos podemos esquecer que a operação da TAP não depende só do turismo, até pelo contrário, o hub da TAP precisa de ter todas as condições para se desenvolver. E estas duas questões precisam de uma resposta articulada e determinada; caso contrário, não poderemos crescer. Também sabemos que isso implica, por um lado, um investimento no aeroporto da Portela, por outro, a adaptação da base do Montijo para completar esta operação. Mas, para que isso se concretize, primeiro é preciso decidir o que fazer – creio que isso já está e que faltam apenas algumas questões, nomeadamente os estudos ambientais – e depois precisamos de um período de gestão entre a decisão e a concretização desta solução complementar, porque já foi atingido praticamente o limite da Portela no ano passado. O operador disse que perdemos ou não conseguimos satisfazer alguma procura de voos para a Portela. Por isso, é preciso implementar medidas durante este período para podermos continuar o nosso desenvolvimento até à implementação de uma solução. Nunca será uma solução final, mas será uma solução para décadas. 

Mas o Montijo será mais destinado para voos low-cost…

Sim, mas isso já permite que haja uma repartição do tráfego. A ideia é criar uma base aérea de qualidade e com capacidade evolutiva destinada essencialmente a esse tráfego low-cost, o que depois permite acomodar na Portela as restantes operações, incluindo a da TAP.

É o que já acontece noutras cidades europeias…

Mas temos a vantagem da distância. Montijo não é assim tão longe, os portugueses é que têm isso na cabeça. Um turista ficar no Montijo e apanhar um barco que demorará cerca de 20 a 30 minutos para chegar ao centro é quase o mesmo tempo de ficar na Portela e chegar ao centro da cidade. Têm é de ser criadas condições e, em termos estratégicos, o Montijo deve ser apresentado como uma porta de entrada para a região de Lisboa. O turista continua a vir para a região de Lisboa, o que é preciso é de-senvolver a marca Lisboa com diferentes conteúdos, incluindo a da margem sul do Tejo, onde estará instalado o aeroporto e não só. Há questões de marketing e de conceito que têm de ser trabalhadas porque não vamos perguntar aos turistas, depois de termos esta solução, se querem ir para o aeroporto de Lisboa ou se querem ir para o aeroporto do Montijo. Como o Montijo, obviamente, não é uma localização tão conhecida como Lisboa, eles poderiam ficar com a ideia de que iriam para um sítio a 200 ou 300 quilómetros do seu destino, o que não é verdade. Estamos a falar de Lisboa e, como tal, temos de ter uma escala para o destino de Lisboa diferente daquela que temos tido. Isto é mais um conceito para os locais – os turistas sabem lá onde é que começa Oeiras ou Cascais -, mas isso implica tratarmos esta questão com uma dimensão diferente, o que é o grande desafio que temos pela frente. Em vez de falarmos de uma cidade com 500 mil habitantes, estamos a falar de uma cidade com 2,5 milhões de habitantes e, com isso, podemos crescer mais em termos turísticos.

E até para os turistas pode ser mais interessante chegar ao centro da cidade de barco.

É como se fosse um prémio. A viagem de barco é muito interessante, mas também haverá de certeza outras ligações sem ser de barco, como rodoviárias ou outras. No entanto, é necessário resolver questões estruturais ao nível dos transportes. Se pensarmos que Almada pode ficar a 20 minutos de Lisboa então porque não há de ser uma zona privilegiada de Lisboa? Almada tem todas as condições, mas para isso é preciso investir nos transportes, fluviais e não só. Um turista que chegue ao Montijo não tem de vir a Lisboa para ir para Almada, como acontece agora. Também é preciso investir nos transportes na península de Setúbal. Sem esta questão dos transportes, não é possível ter essa visão de uma cidade maior, e isso são questões que têm obrigatoriamente de ser tratadas. 

Mas são questões que demoram tempo e dinheiro… 

Tudo demora tempo, mas se não se começar também não se consegue atingir os objetivos. Há melhorias que podem ser implementadas de forma imediata, há outras que demoram mais tempo. Não vejo porque é que o investimento no transporte fluvial não tenha uma resposta relativamente rápida. 

Falou-se em voos noturnos na Portela. Poderia ser uma solução?

É preciso encontrar soluções para conseguir acomodar o crescimento até que o modelo Portela mais o aeroporto complementar esteja implementado. Li que a NAV, dirigida por Ponce de Leão, tinha chegado ou estava em vias de chegar a um acordo com a Força Aérea para implementar outras medidas que possam aumentar a capacidade dos movimentos que chegam ao aeroporto. Isso pode ser uma medida mais rápida e que aumenta de forma imediata a capacidade. A questão dos voos noturnos foi avançada com uma possibilidade de aumentar a capacidade do aeroporto mas, pelo que percebi, implementar este tipo de medida de forma permanente até que comece a funcionar a solução Portela + Montijo foi rejeitado. A Câmara de Lisboa e o governo já se pronunciaram contra. Mas ninguém disse que é para voarem aviões de dois em dois minutos durante toda a noite. O que é preciso é encontrar soluções. Já houve atrasos em encontrar a solução do Montijo e este atraso foi de cerca de um ano por parte deste governo. Não sei porque é se atrasa tanto as decisões, certamente haverá razões, mas já nem interessa isso. Não vale a pena estar a discutir o porquê da demora, o que interessa é que a decisão seja definitivamente tomada e seja implementada para podermos atingir um turismo sustentável de toda a região e de forma equilibrada.

Mas já há muito tempo que se apontava para o esgotamento do aeroporto da Portela. Não se pode dizer que o governo foi apanhado de surpresa…

A questão de discutir aeroportos quase que diria que é uma terapia nacional ou um desporto nacional. Há 50 anos que se discute o novo aeroporto: se é no Montijo ou na Ota ou em Alcochete. E essa discussão nunca terminará, haverá sempre teorias e opiniões sobre os aeroportos. É como no futebol, toda a gente percebe do assunto. E previsões do aeroporto também já ouvi muitas e, tendo responsabilidades no turismo há alguns anos, também me lembro de serem apresentados estudos a dizer que o aeroporto ficaria esgotado aos 12 milhões, depois aos 14 milhões, e já vamos nos 27 milhões na Portela. Como vê, previsões há muitas, e mais importante do que encontrar uma solução ideal é encontrar uma solução viável. Não podemos andar sempre para a frente e para trás. E não podemos esquecer-nos que Portugal, em relação à Europa, que é o nosso principal mercado, é um país periférico e só temos praticamente esta alternativa para receber turistas. De carro só vêm para cá os espanhóis, os outros todos chegam de avião, ou seja, dependemos 90% do transporte aéreo. 

E enquanto não é implementada esta solução complementar, o crescimento do turismo fica comprometido?

Acima de tudo temos como principal objetivo a rentabilização do turismo, e isso já está a acontecer. Os preços da nossa hotelaria já se estão a aproximar da nossa concorrência. Mas para crescermos em número de turistas é preciso encontrar as tais soluções, para que não se perca a oportunidade nem o ritmo de crescimento.

Além destes constrangimentos, o setor enfrenta mais algum desafio?

Não diria setor, mas sim a região ligada ao desenvolvimento do turismo. É preciso passarmos para uma escala diferente enquanto destino turístico. Já há muitos anos que estamos a promover as várias regiões, mas é preciso passar para outro patamar de forma a ter uma cidade com 2,5 milhões de residentes. Mas isso implica trabalhar a marca Lisboa, respeitando outras marcas que existem, como Cascais, Sintra e Arrábida, porque são as únicas que têm condições para terem uma identidade própria. É preciso vender a região Lisboa no seu conjunto, com conteúdos bastante diversificados, mas é evidente que, para isso, é necessário promoção, mas também é necessário infraestruturas e investimento. Pelo que sei, há interesse de investidores internacionais para áreas fora do atual centro de turismo, mas os nossos próprios investidores e hoteleiros também têm de olhar para estas possibilidades.

Dá ideia de que está tudo concentrado no centro da cidade…

Mas, há seis ou sete anos, os investidores achavam que a Baixa não era um sítio adequado para fazerem os seus investimentos. Essas mesmas pessoas poderão agora querer e não conseguir, porque o mercado está diferente, não só mais difícil, mas também mais caro. O mesmo poderá acontecer noutras áreas, como Montijo, Almada, Barreiro ou Vila Franca de Xira. Os nossos investidores podem ter aí ofertas com a mesma qualidade do centro histórico a um preço mais baixo. E o cliente vai perceber que está na mesma em Lisboa. E se os investidores portugueses não o fizerem, virão outros, como espanhóis. Claro que, para isso, é necessário uma grande aposta nos transportes, mas esse investimento vem beneficiar não só os turistas, que ficam cá dois ou três dias, mas principalmente os residentes, que estão cá 365 dias por ano. É preciso criar um destino turístico maior, que é o que acontece quando vamos à Alemanha, a França, aos Estados Unidos ou à China. 

E assim evita-se ter os turistas todos nos mesmos locais?

Fazer a promoção da região, e não apenas do centro histórico, já se faz há muito tempo. A ideia não é tirar os turistas de um sítio e pôr noutro, é todos crescerem. Não é dizer que temos muitos turistas no centro de Lisboa e pô-los no Barreiro. O objetivo é continuar a crescer no centro e, ao mesmo tempo, beneficiar outras localidades. E nas zonas onde há mais turistas é necessário melhorar a gestão da qualidade dos serviços públicos. Também é natural que as zonas que ganhem mais prestígio depois sofram outras consequências, nomeadamente no preço da habitação e na pressão das pessoas que vivam nesses bairros. Mas a solução não é acabar com o turismo e pensar que o problema fica resolvido. É preciso apostar em políticas públicas para resolver esses problemas específicos e identificados. 

O que não está a acontecer…

São necessárias políticas públicas com uma vertente social muito forte para que essas pessoas continuem a viver nesses bairros históricos. Não é dizer simplesmente que se acaba com o turismo e essas pessoas ficam automaticamente sem problemas porque, se não houvesse turismo, muitos prédios desses bairros tinham caído. 

Mas já há bairros, como Alfama, em que os turistas já têm maior peso…

Aí também há uma questão de elitismo e, às vezes, de xenofobia que é preciso descontar nesse debate. Se há uma população nesses bairros que tem de ser defendida, então é preciso criar medidas políticas para o fazer, para evitar que sejam expulsos e substituídos por outros. Isso são políticas de reabilitação urbana. Não é dizer que essas pessoas vão ser substituídas porque há turistas, ou porque há estudantes estrangeiros, ou porque a geração dos millennials precisa, ou porque a Web Summit traz negócio, ou porque os famosos querem vir viver para cá, ou porque os próprios portugueses querem viver em Alfama devido à exposição solar e porque está virada para o rio. Mas também não é acabando com tudo isto que se resolve o problema, senão crio uma reserva de índios subsidiada. O problema do custo da habitação existe porque a lei das rendas se alterou e as pessoas podem ser despejadas. Por isso têm de ser implementadas medidas políticas para preservar essas pessoas, que ocuparão 40 ou 50% dos bairros, e o restante pode ser usado para o mercado normal. E não podemos esquecer-nos que esses bairros têm de ter alguma atividade económica para não serem dependentes de subsídios do Estado. Qual é a melhor alternativa? Se houver atividades turísticas nesses bairros, cria-se muitos postos de trabalho. Fui há muitos anos vereador da Câmara Municipal de Lisboa para essa área da reabilitação urbana, entre 1994 e 1998, e nessa altura havia uma política de reabilitação urbana no sentido de manter as pessoas. Mas, primeiro, não havia condições financeiras da câmara, e depois havia uma grande quebra habitacional na cidade, muito antes do turismo, porque não havia alternativas e estávamos num processo de degradação acelerado, não havia meios. Agora, a própria atividade turística gera receitas para as próprias entidades públicas. Quanto é que a câmara recebia de imposto municipal sobre transações em 2010 e quanto é que recebe hoje? Estamos a olhar para um recurso que antigamente quase não existia, mas que agora permite financiar a reabilitação do edificado desses bairros e dar condições de habitação. 

Mas há quem não consiga comprar ou arrendar casa em Lisboa…

Admito que aceder à habitação é mais difícil porque os preços estão mais caros face à valorização da cidade. Mas também aí têm de existir políticas para a classe média com preços controlados. Não podemos esquecer que muitas pessoas que saíram da cidade foram desenvolver cidades periféricas e agora não podemos dizer a todas as pessoas que foram para Almada, Odivelas ou Amadora que venham viver para Lisboa. Se isso acontecesse, como ficariam essas zonas periféricas? É preciso encontrar uma solução global. As pessoas devem ter orgulho em morar nessas zonas. 

Acha que o turismo está a ser usado como bode expiatório para todos os problemas?

A sensação que tenho – e fizemos uma sondagem há um ano à população de Lisboa sobre o impacto e o benefício do turismo, e os resultados mostravam uma grande compreensão – é que, esmagadoramente, a população continua satisfeita e há muitas ideias e muitas iniciativas para aproveitar este crescimento. É claro que se está a assistir a uma pressão imobiliária, mas ela não se deve apenas ao turismo, apesar de ter sido este que mais impulsionou. E pretendia-se o contrário, a desvalorização? Com a valorização, à partida há mais riqueza, as pessoas vivem melhor. Com a desvalorização há mais pobreza, somos todos pobres. Antigamente, Portugal tinha património a mais para o país que era e, hoje em dia, isso está a mudar. 

Uma das grandes discussões que têm sido feitas diz respeito à limitação do alojamento local. Concorda?

Não acredito nessas políticas. Li uma coisa muito interessante que foi o facto de os deputados terem ficado espantados com o estudo da AHRESP que concluía que a grande maioria do alojamento local ocupa edifícios que antes estavam vazios. Além disso, é necessário ver o que representa o alojamento local, pois mais de 90% dos proprietários têm até três alojamentos locais. Não estamos a falar de consórcios. Quem é que sobreviveu na altura da crise com esta atividade? Quantas pessoas investiram no imobiliário com as poupanças que tinham no banco? É preciso respeitar isso, e ao implementar medidas como limitar o arrendamento até 90 dias por ano, como é que alguém que investiu na compra de um apartamento consegue rentabilizar esse investimento durante apenas 90 dias? É claro que há interesses que têm de ser acautelados entre moradores e turistas para evitar situações que incomodam e penalizam os moradores. Isto faz-me lembrar a discussão que houve em torno dos tuk-tuks há três anos. O que aconteceu aos tuk-tuks? Desapareceram? Não, deixaram de ser uma questão polémica. Isto para dizer que não concordo com o sistema de quotas, e pode-se dizer que há cidades que o fizeram mas, na prática, isso não acontece. É o que acontece, por exemplo, em Amesterdão, Berlim ou Nova Iorque. Amesterdão dizia que tinha turistas a mais, publicou uma série de medidas de restrição, mas quando surgiu a oportunidade de haver uma candidatura para receber a sede da Agência Europeia do Medicamento, Amesterdão concorreu e ganhou, o que vai levar mais visitantes e residentes estrangeiros à cidade. O mesmo aconteceu com Barcelona: é claro que as limitações agradaram à oferta instalada, e quando vemos o último plano estratégico do turismo aprovado vemos claramente que assume uma atitude antiturismo mas, ainda assim, pressupõe que vai continuar a ter 8400 milhões de turistas por ano – uma meta irrealista, e quando começa a desaparecer o turismo, os mesmos que simpatizaram com estas medidas agora querem mais apoios e campanhas para promover o setor. É preciso ter cautela nestas discussões. O estudo que a Deloitte fez no ano passado e com dados de 2015 – ou seja, já estão ultrapassados – dizia que, na cidade de Lisboa, o turismo gerava direta e indiretamente cinco mil milhões por ano e representava 75% das exportações. Por isso pergunto como é que se pode dizer de forma ligeira que se pode terminar com o turismo? E vivia–se de quê? O próprio turismo potencia outras atividades e ninguém subscreve que se viva apenas deste setor, mas é importante e dá prestígio. 

As taxas turísticas em Lisboa, quando foram implementadas, criaram alguma polémica. Isso já está ultrapassado?

A taxa turística em Lisboa começou a ser polémica na sua fase de aprovação mas, depois, começou a ser consensual no setor porque o seu destino beneficia os lisboetas e tem um impacto positivo no turismo. Além disso, a gestão dessa taxa tem a participação de vários responsáveis do turismo. Essa receita é recolhida pelos hoteleiros e é entregue à câmara, mas não pode ser usada em qualquer coisa. O conceito da nossa taxa é diferente da taxa turística do Porto porque o que foi assumido pelo próprio presidente da Câmara do Porto é que era uma taxa contra o turismo, para apagar as pegadas do turismo e para apoiar a habitação. Ou seja, no Porto, a taxa é antiturismo. O que não faz sentido porque há outras receitas que o setor gera, como é o caso do IMT, do IVA, e são essas que deverão ser usadas pela autarquia para apoiar, nomeadamente, a habitação. Quando se faz o Pilar da Ponte estamos a valorizar um equipamento que tem interesse turístico tanto para estrangeiros como para os portugueses. O mesmo acontece com o Palácio da Ajuda, que vai mostrar as joias da coroa, e com isso estamos a valorizar o nosso património. Ainda agora foi aprovado outro projeto que não estava previsto inicialmente, que foi o Festival da Canção. É das taxas turísticas que vão sair os cinco milhões para promover o evento, que vai ter imenso sucesso em termos turísticos. Também é das taxas turísticas que sai o financiamento para melhorar questões como a sinalética, a videovigilância e a entrega de equipamento às juntas de freguesia para melhorar a limpeza das ruas. São todas medidas concretas.

Agora foi a vez de o Algarve aprovar uma taxa…

Ainda não é possível dar uma opinião porque ainda não se sabe quanto é que vai ser cobrado, nem quando nem para quê. Compreendo que faça sentido criar uma taxa turística no Algarve, mas só se for aplicada por todos os municípios. Inicialmente disseram que tinha sido aprovada por todos mas, afinal, a Câmara de Silves está contra. Também a AHETA não está de acordo porque considera que uma coisa é aplicar taxas turísticas nas cidades, outra é aplicar em destinos de férias. O que é verdade em certa medida, porque um turista que vem a Lisboa está cá duas ou três noites; um turista, se for de férias duas ou três semanas, já terá de pagar 15 ou 20 euros por pessoa. 

Vila Real de Santo António já tinha avançado com essa ideia, mas foi sempre rejeitada…

Por aquilo que li era para arranjar receita para melhorar um recinto desportivo que não era autossustentável e que a câmara não tinha essa verba. Mas qual era o impacto deste no turismo? Não posso cobrar uma taxa turística que tem como objetivo fazer esse tipo de pagamentos ou para construir, por exemplo, um cemitério. E se tudo isto não for feito com consenso e com capacidade de negociação com os agentes, então um hoteleiro ou um responsável de alojamento local vai cobrar uma taxa para entregar à câmara? Se isso acontecesse, o mais natural é que não cobrasse, ou que registasse ou até mesmo que impugnasse, se os fins não fossem corretos. 

Lisboa poderá aumentar essa taxa para dois euros no próximo ano?

Não há certezas. O que o presidente da Câmara de Lisboa fez foi um acordo com o Bloco de Esquerda, e o que diz esse acordo já estava previsto no próprio regulamento da taxa: está em vigor até 2019 e, nessa altura, pode ser revista e reavaliada. Mas isso não significa que é para aumentar ou para desaparecer. 

Sentiu alguma resistência por parte dos turistas no pagamento das taxas?

Não, porque os turistas estão habituados a pagar. A maior parte das cidades já cobra esse tipo de taxas e não se perdeu nenhum turista por causa disso, ao contrário do que foi dito pelo anterior governo, com Paulo Portas, na altura vice-primeiro-ministro, a dizer que íamos destruir a galinha dos ovos de ouro e que tudo isto ia ser uma desgraça. Pelos vistos, não matámos a galinha dos ovos de ouro e esta taxa ajudou a financiar uma série de projetos para benefício dos lisboetas e dos turistas estrangeiros. A história da taxa turística parece nova, mas a sua discussão começou há 20 anos. 

Por último, a cidade de Lisboa tem recebido uma série de prémios. Estes têm contribuído para o aumento do turismo?

Temos uma política que é: não fazemos nada para ganhar esses prémios. Não há nenhuma campanha, não há nenhum incentivo nem contratamos nenhuma empresa para dar respostas na internet. Recentemente ganhámos o melhor prémio do World Travel Awards, que são considerados os Óscares do turismo, como melhor destino para city break. Neste momento estamos nomeados para vários prémios: melhor cidade de city break, melhor cidade da Europa, melhor porto. E é natural que esses prémios deem projeção à cidade.