Portugal-Egipto. Na Suíça, entre as pirâmides…

Hoje, em Zurique, a seleção nacional enfrenta os faraós pela quarta vez – 1928, 1955 e 2005. Desde o célebre confronto dos Jogos Olímpicos de Amesterdão a Ponta Delgada, passando por dois golos de Águas e mais dois de Matateu, dois dias antes do Natal. Agora é um Egito renascido depois de ter falhado a…

Hoje, em Zurique, no Letzigrund, Portugal inicia a sua preparação para a fase final do Mundial de 2018, marcado para o próximo mês de junho, na Rússia, defrontando a seleção do Egito, também ela qualificada e, ainda por cima, colocada no Grupo A, ou seja, aquele cujos dois primeiros classificados se cruzarão com os do grupo dos portugueses.

Claro que ao analisarmos os jogadores egípcios da atualidade nos salta para o colo, à maneira daqueles bonecos jack-in-a-box, com uma mola por baixo, o nome de Mohamed Salah Ghaly, o Salah do Liverpool, que ainda recentemente andou a dar água pela barba ao FC Porto, tal como o tem feito ao longo de toda esta época na Premier League aos mais e menos cotados adversários, sem olhar a quem. É a estrela da companhia, ouro de Tutancámon sobre o seu traje de faraó desta equipa que é precisamente conhecida pela alcunha de Os Faraós, sete vezes campeã de África, a mais bem sucedida do continente, pela terceira vez na fase final de um Campeonato do Mundo depois das experiências de 1934, na Itália, e de 1990, outra vez na Itália, quem diria?

A história do futebol egípcio é rica dentro da realidade do jogo africano. E teve um cruzamento histórico com Portugal nos Jogos Olímpicos de 1928, em Amesterdão, tal como pudemos contar nestas páginas ainda há dois dias. Aliás, se nas fases finais dos Mundiais o Egito nunca passou da primeira fase – sem qualquer vitória nos registos –, nos Jogos Olímpicos já lutou duas vezes pelas medalhas, atingindo as meias-finais precisamente em 1928 (à conta dos portugueses) e em 1964, em Tóquio. No primeiro caso venceu a Turquia (7-1) e Portugal (2-1) antes de cair nas meias-finais perante a Argentina (0-6) e de ser arrasado pela Itália no jogo pelo bronze (3-11). No segundo, integrada na República Árabe Unida, uma curta junção política com a Síria, ultrapassou a fase de grupos deixando de fora o Brasil, bateu o Gana por 5-1 nos quartos-de-final e perdeu em seguida, consecutivamente, frente à Hungria (0-6) e República Democrática Alemã (1-3).

Único! Repare-se que, quando surgiu no Mundial italiano de 1934, o Egito ganhou a honra de ser a primeira seleção africana a participar da fase final da competição. E foi preciso esperar até 1970 para que outra equipa de África, Marrocos, repetisse a proeza: 36 anos! É de escacha!

De Alexandria a Nápoles, os pupilos do treinador escocês James McRea demoraram três dias, viajando de barco. Entraram em campo para perderem o jogo preliminar contra a Hungria (2-4) e regressaram no dia seguinte, passando menos tempo em terra do que no mar. Ainda assim, o registo ficou para sempre. E não era caso para menos. Seriam precisos mais 56 anos para nova presença num Mundial, outra vez em Itália, caindo num grupo terrível juntamente com a Inglaterra, a Holanda e a República da Irlanda. Ficaram-se por um empate face aos holandeses (1-1) com o golo a ser marcado por uma figura que marcou a sua época no futebol português, Abdelghani, quatro épocas com a camisola de um excelente Beira-Mar ao peito.

Este Egito que hoje defronta Portugal vive uma espécie de renascimento. Em 2017 surgiu na fase final da Taça das Nações Africanas após três ausências consecutivas – terrível para quem tinha sido campeão africano em 2006, 2008 e 2010…

Foi o fim de uma era. A era de Mohamed Aboutrika, o grande avançado do Al Ahly, e Ahmed Hassan Hossan, que atingiu a incrível marca de 184 internacionalizações pela sua seleção. Outros nomes marcaram essa época: Mohamed Zidan (Werder Bremen, Mainz, Hamburgo, Borússia de Dortmund); Amr Zaki (Wigan, Hull City); Mido (Ajax, Marselha, Celta de Vigo, Roma, Tottenham, West Ham).

Com o argentino Hector Cúper como selecionador, o Egito não tem, neste momento, muitos internacionais a atuar na Europa. Salah é o homem do momento, mas no Arsenal há Elneny, um centro-campista que pouco conta para Wenger; no Aston Villa, o defesa El Mohamady; no West Bromwich Albion, a dupla Hegazi e El Gabr; no Braga, um tal ponta-de-lança Hassan que já conhecemos no Rio Ave.

Hoje à noite será, então, o quarto encontro entre Portugal e Egito.

O primeiro, o de 1928, foi o único oficial. Daí para cá, mais dois embates.

Em 1955, a dois dias do Natal, a seleção nacional jogou no Cairo, concluindo uma pequena digressão que a fez passar no dia 18 de dezembro por Istambul (derrota por 1-3 frente à Turquia). A vitória lusitana sobre os faraós foi clara: 4-0. Marcaram os golos José Águas e Matateu, dois cada um.

No dia 17 de agosto de 2005, em Ponta Delgada, num jogo que envolveu uma homenagem a Pedro Pauleta, nova vitória, desta vez por 2-0, golos de Fernando Meira e Hélder Postiga.

A despeito de toda a arte do incrível Salah, não restam grandes dúvidas de que só um triunfo valerá a aposta dos portugueses. Mesmo sabendo que Fernando Santos estará mais vocacionado para fazer experiências, a despeito de ter, segundo o próprio, 70% de certezas sobre a convocatória final para a Rússia. Esses 70% estão na Suíça. Veremos se aparecem mais alguns.