Casas. Viver à grande e à estrangeira em Portugal

Os franceses, seguidos cada vez mais de perto pelos brasileiros, são os estrangeiros que mais investem em compra de casa no mercado nacional. A tendência é para ficar

Peso das vendas de casas a estrangeiros no total de imóveis vendidos em 2017Mercado francês mantém-se no top dos estrangeiros que mais investemPeso do mercado brasileiro, que tem vindo a subir nos últimos anosPeso do mercado inglês nas transações realizadas no ano passadoOs estrangeiros continuam a dar cartas no que diz respeito à compra de casas em Portugal. E esta tendência é para ficar e, ao que tudo indica, deverá continuar a crescer nos próximos anos. De acordo com os últimos dados da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), o investimento estrangeiro para compra de habitação em Portugal teve uma representatividade na ordem dos 20% no ano passado. Feitas as contas, um quinto das habitações adquiridas em 2017 foi-o por pessoas que não residiam no país.

O mercado francês mantém-se no top dos estrangeiros que mais investem no país (29%), mas é o investimento brasileiro que mais tem crescido, representando já cerca de 19% da compra de casas por estrangeiros em Portugal. No top-5 seguem-se os ingleses (11%), os chineses (9%) e os angolanos (7,5%).

Para o presidente da APEMIP, Luís Lima, esta ascensão dos brasileiros não é uma surpresa. “Há cerca de três anos que tenho chamado a atenção para o potencial que o investidor brasileiro representa para o imobiliário nacional, que se acentuou não só com a instabilidade política, social e económica que o Brasil atravessa, mas também com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos da América, que fez com que muitos brasileiros que haviam investido na Florida procurassem alternativas seguras, como o imobiliário português”, revelando ainda que esta representatividade possa continuar a crescer no decorrer de 2018.

Em Lisboa e Porto são já os brasileiros que dominam a compra de casas por estrangeiros (com uma representatividade de 24% e 27%, respetivamente); no entanto, no Algarve e no âmbito nacional são os franceses que ocupam os lugares cimeiros.

Para o presidente da APEMIP, o desafio prende-se agora com a tentativa de travar a quebra no investimento chinês. “Os chineses ainda representam 9% do total das vendas a estrangeiros, mas não podemos deixar de realçar a quebra deste investimento no panorama nacional. É necessário que os procedimentos do programa de autorização de investimento para atividades de investimento sejam rapidamente normalizados para evitar eventuais impactos negativos e desconfianças que os atrasos (na emissão e renovação de vistos) que hoje se verificam possam ter junto destes cidadãos”, diz.

Imóveis com maior procura

Os T2 e T3 são as tipologias mais desejadas pelos estrangeiros. Já Lisboa, Porto e Algarve continuam a ser as regiões mais procuradas pelos investidores internacionais que querem apostar no segmento habitacional português.

No entanto, para Luís Lima, em 2018, esta procura deverá dispersar-se por outras regiões do país. “Há cada vez mais investidores interessados em apostar na compra de casa em locais fora das rotas habituais, muitos porque têm laços familiares que os unem a determinadas regiões do país, outros porque procuram alternativas de investimento através da aposta no turismo rural, por exemplo”, refere. Por isso mesmo, considera que as perspetivas são animadoras e, como tal, irão trazer a estas regiões novas dinâmicas económicas que promoverão o seu desenvolvimento.

Raio-x

Os clientes estrangeiros representaram cerca de 19% do total das transações da Century 21 Portugal realizadas no ano passado, ultrapassando as duas mil operações, com a predominância de clientes oriundos de países como a França, Brasil, China, Bélgica e Reino Unido. No ano passado, mais de 50% das transações internacionais foram dominadas por franceses, cerca de 16% foram efetuadas por brasileiros e 13,2% por chineses.

As zonas mais procuradas foram Lisboa, Cascais, Porto, Algarve e Costa de Prata, mas a mediadora admite que há outros locais que começam a despertar um interesse cada vez maior. E dá como exemplos Setúbal e Alentejo.

“Portugal conseguiu um posicionamento de atratividade internacional bastante forte, o que nos permite esperar uma procura consistente de vários países em 2018, embora o segmento internacional apresente agora um novo perfil de cliente que se caracteriza maioritariamente por uma procura de imóveis até 300 mil euros e que está aberto a analisar opções de aquisição de imóveis em diferentes áreas do país”, revela ao i Ricardo Sousa, CEO da imobiliária.

Já na Remax, o peso do mercado externo desceu ligeiramente, passando de 13,9% para 13,1% do volume total de transações realizadas – os clientes portugueses representaram 87% das transações da mediadora e 83% da faturação. Mas foram os brasileiros que mais compraram casas nesta rede, destronando os franceses (líderes em 2016) e os chineses (líderes em 2015).

Luxo atrai 

Também o mercado destinado ao segmento alto atrai os compradores estrangeiros. A Private Luxury, cujo foco está em imóveis acima de um milhão de euros – com especial atenção para palácios, prédios, moradias (principalmente condomínios de luxo, como Quinta da Marinha, Quinta Patino, Herdade da Aroeira ou Quinta do Lago), penthouses, apartamentos e propriedades rurais acima de 500 hectares –, revela ao i que mais de 75% dos seus clientes são estrangeiros, dos quais 30% são brasileiros e 20% franceses ou suíços (cantão francês).

Mas a imobiliária revela ainda que há outras nacionalidades representativas: americanos, médio-orientais, suecos, britânicos, dinamarqueses, espanhóis, latino-americanos, italianos e também angolanos.

Também na Remax Collection – imobiliária focada apenas no segmento de luxo –, os estrangeiros pesam 49%, com os franceses e os brasileiros à cabeça, mas a lista de nacionalidades não fica por aqui. “Os asiáticos voltaram a subir, não tanto os chineses, porque ainda não se refizeram das polémicas com os vistos gold, mas outras nacionalidades, como os vietnamitas, por exemplo. Outros investidores que compram cada vez mais em Portugal são os turcos, devido à instabilidade que sentem no seu país, e ainda os russos, os britânicos e os angolanos. Portugal está muito bem cotado lá fora e continua a ser um dos países mais baratos”, conclui.