Fizz. O homem que Orlando Figueira acusa de o ameaçar diz que só queria fazer perguntas

Colocando-se à disposição das autoridades portuguesas, Artur João Matos, de nacionalidade angolana, assegura que nunca ameaçou o antigo procurador Orlando Figueira nem a sua família. Confirma encontros junto ao tribunal e no Hotel Ibis.

O antigo procurador Orlando Figueira disse no mês passado em tribunal ter sido ameaçado de morte por uma pessoa que dizia estar a mando de alguém amplamente referido no processo e, agora, o alegado autor das ameaças respondeu ao tribunal negando todas as acusações da defesa do antigo procurador do DCIAP e da sua advogada.

O arguido chegou mesmo a pedir ao tribunal que fossem recolhidas as imagens do tribunal e do Hotel Ibis da Expo, onde os encontros teriam acontecido – o que foi aceite pelo coletivo.

Soube que tinha sido acusado de ameaças pelas notícias

Mas, num requerimento que foi ontem junto ao processo, Artur João Matos, o homem com quem Orlando Figueira e a sua irmã falaram, confirma ter assistido a uma sessão de julgamento e ter tido um encontro com a irmã do procurador no Hotel Ibis da Expo, mas nega que tenha feito qualquer ameaça. E diz estar disponível para vir a Portugal depor, uma vez que “quem não deve não teme”.

O cidadão angolano diz que se apercebeu de que era o visado através das notícias e que por isso decidiu enviar este documento ao tribunal. “Permitam adiantar que enquanto cidadão angolano que se encontrava em Portugal em gozo de férias, o interesse do Exponente era de inteirar-se da real situação que deu lugar ao processo em causa [Fizz], seu andamento e tendência do desfecho, porque é licenciado em Comunicação e por isso tem ponderado criar um blogue para tratar de assuntos de interesse político e económico, tendo em atenção que este processo em concreto envolve um ex-vice-presidente do seu país, situação que reforça mais o interesse de qualquer angolano consciente”, explica.

Segundo a versão agora apresentada, foi com esta motivação que o cidadão angolano se deslocou ao tribunal para assistir à sessão de julgamento e cumprimentou várias figuras, inclusivamente Orlando Figueira.

As primeiras palavras com o ex-procurador

No fim da sessão, conta neste requerimento, encontrou o antigo procurador e a sua advogada à entrada do tribunal e manifestou-lhe interesse em “conversar com ele”, tendo-lhe sido indicada a manhã do dia seguinte nas instalações do tribunal – o que acabou por não acontecer porque o antigo procurador não compareceu, refere o requerimento.

“Já de regresso ao Hotel Ibis Expo, onde estava hospedado, deu-se de frente com o senhor dr. Orlando, que ia caminhando a pé em direção ao tribunal. Havia chuvisco ligeiro e por isso ele trazia consigo um chapéu”, conta Artur João Matos.

A mesma versão dá conta de que Orlando Figueira terá dito que o encontro não poderia ter acontecido no tribunal porque andava a ser seguido pela PJ e, sem sequer ser questionado, disse que “a procuradora se embirrou com o eng.º Manuel Vicente, pois ele não tem nada a ver com a situação”. “Nem o conheço”, terá dito Orlando Figueira, segundo o relato agora feito ao tribunal.

Encontro no Hotel Ibis

E nessa sequência terá sido combinado que a irmã de Orlando Figueira iria encontrar-se no Hotel Ibis às 19h. Após o encontro, no sofá da receção, o homem terá convidado a irmã do procurador a ir para o seu quarto para que pudessem estar mais à vontade, conta.

“A nossa vida está desgraçada. Sou médica do meu irmão. Trabalho longas horas para ganhar um pouco mais e assim poder pagar todas as contas, as minhas e as dele. Pago até a casa dele que, ainda por cima, se encontra arrestada. Ele ficou sem carro. Estamos sem dinheiro. Está muito difícil para nós, ninguém nos ajuda em nada, só problemas”, terá dito Maria Figueira durante os 30 minutos em que esteve no quarto do autor deste requerimento, reiterando que “a procuradora embirrou-se com o eng.º Manuel Vicente sem razão.”

O “pranto” da mulher, conta Artur João Matos, fê-lo ficar “com muita pena deles”. E dadas as circunstâncias limitou-se a ouvir, sem fazer qualquer pergunta.

Afirma que se o objetivo fosse fazer ameaças não faria sentido ter escolhido o hotel onde estava hospedado, nem ter qualquer interesse em ameaçar ou pôr em causa a integridade física ou a vida do arguido nem a sua vida familiar. E conclui dizendo que nem fazia sentido que Orlando Figueira mandasse ao seu encontro no hotel a irmã, caso já tivesse sido alvo de ameaças junto ao tribunal.

Arguido pediu reforço policial

Além da recolha das imagens do tribunal e do Hotel Ibis, a defesa de Orlando Figueira pediu para ter reforço policial. O tribunal pediu a reavaliação do risco mas, ao que o “Sol” apurou, ainda não houve resposta da PSP sobre se se justifica ou não esse reforço.