«Não sonhes a tua vida. Vive os teus sonhos»

Esta inscrição, também fotografada pela Francisca, apela imperativamente a que vivamos os nossos sonhos, dizendo: «Não sonhes a tua vida. Vive os teus sonhos».

É óbvio que a assinatura e a ilustração que acompanham a inscrição lhe dão uma conotação política. Porém, enquanto ideal apolítico, trata-se de um conselho muito bonito. Desejar a alguém que não fique preso no mundo dos sonhos e se atreva a ir em busca daquilo que sonha é um voto que procura garantir maior felicidade (mesmo que, para atingir os sonhos, seja, quase sempre, necessário passar por diferentes estágios, que vão do desespero à apatia, da desilusão à tristeza). E só um amigo verdadeiro poderá dar tal conselho, pois, como afiança Sancho Pança: «amigo que não dá e faca que não corta, se se perder não importa»…

Assim, mais vale seguir o conselho de um bom amigo… De nada serve ficar parado, nas palavras de Miguel Torga, «em cima da penedia» a cantar «loas à fatalidade», olhando o passado e esquecendo o presente. Sonhar sem nada fazer para concretizar os sonhos de nada vale. O que importa é ter coragem para avançar e fazer tudo o que está ao nosso alcance para realizarmos o que pretendemos, porque, como diz Sophia: «A força dos meus sonhos é tão forte, / Que de tudo renasce a exaltação / E nunca as minhas mãos ficam vazias». Só assim, sem mãos vazias, e exaltados, conseguiremos que os nossos sonhos se tornem realidade e só assim expandiremos plenamente as nossas capacidades e o nosso potencial.

Pelo contrário, sonhar a vida é apenas ficar no plano da efabulação, no plano onírico, sem capacidade para atuar e lutar por aquilo com que se sonha. Mas há muitas pessoas que são assim. E, apesar de saberem que poderiam (e deveriam) atuar, preferem dedicar-se a conjeturas e a viver amarguradas, sonhando com uma vida diferente.

Não há nada a fazer. Cada pessoa é como é, e não é possível mudá-la com conselhos ou ordens. Mesmo que se mude uma única atitude, não se muda a sua essência, porque, como bem indica Lobo Antunes: «somos e não somos o que os outros veem, somos e não somos o que de nós julgamos ser (…). Ninguém é o que parece. Ou antes: ninguém é o que é, todos somos não apenas diferentes mas mais do que somos, ou outra coisa além do que somos e daí não podemos conhecer-nos. A verdadeira essência é irreproduzível». Ou, nas palavras tão repetidas do Principezinho: «o essencial é invisível aos olhos».

Efetivamente, é o que não se vê que nos torna únicos, e só vivendo a vida por dentro, por dentro das coisas e por dentro das pessoas, é que seremos capazes de verdadeiramente viver a própria vida, aquela que é única e só nossa.

Só assim poderemos ser o que quisermos. Só assim poderemos ser, até, poesia.

Escrito em parceria com o blogue da Letrário, Translation Services