Politizar a diplomacia não é do interesse nacional

Politizar a diplomacia não é uma atitude respeitadora do interesse nacional. E o facto de o PSD continuar a fazer oposição à ‘geringonça’ em vez de fazer oposição a quem governa – o PS – fez com que os sociais-democratas acabassem a politizar uma questão de diplomacia.  Mesmo que essa questão levante múltiplas dúvidas, nenhuma…

Politizar a diplomacia não é uma atitude respeitadora do interesse nacional. E o facto de o PSD continuar a fazer oposição à ‘geringonça’ em vez de fazer oposição a quem governa – o PS – fez com que os sociais-democratas acabassem a politizar uma questão de diplomacia. 

Mesmo que essa questão levante múltiplas dúvidas, nenhuma delas corresponde àquela que a direção parlamentar do PSD optou por levantar.

Ao dizer que o facto de o Governo não expulsar diplomatas russos – contrariamente à NATO, aos EUA e a metade da União Europeia – se deve à influência dos partidos que compõem a ‘geringonça’ («A única explicação que encontro, num PS que foi sempre atlântista, é de se sentir condicionado pela aliança com o PCP e o Bloco de Esquerda»), o PSD falha. 

Se a política externa deste Governo e a sua visão do interesse nacional fosse minimamente afetada pelo Partido Comunista, Augusto Santos Silva não daria entrevistas a defender «um comércio o mais livre possível com os Estados Unidos da América». Se o Bloco de Esquerda tivesse qualquer influência nas opções do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Portugal nunca teria aderido à Cooperação Estruturada Permanente de Segurança e Defesa (PESCO) da União Europeia. 

Atacar o Governo com politiquice em vez de procurar entender devidamente as suas escolhas – e até os seus erros – é a pior maneira de proteger os portugueses das várias implicações que a crise internacional entre o Ocidente e a Rússia pode gerar.  

Em Bruxelas, circula a teoria de que a constante coincidência de Portugal entrar no ‘pelotão de trás’ – já na PESCO foi assim – se trata de um consolo que António Costa serve aos partidos à sua esquerda. Até pode ser verdade. 

Mas não será mais importante olhar para as exportações portuguesas para a Rússia ou para a dimensão de petróleo de lá importado no último ano? 

Não é brincadeira nenhuma que Portugal se tenha excluído da maior ação conjunta de países ocidentais e atlânticos contra o Kremlin desde a queda do Muro. A solidariedade que Portugal precisará de pedir ao Reino Unido pós-Brexit para  os portugueses que trabalham em Inglaterra saírem menos prejudicados não é a mesma solidariedade que Portugal apresentou ao Reino Unido depois do nosso mais antigo aliado sofrer um ataque químico no seu solo. 

Que raio tem isso a ver com o do Bloco de Esquerda?