Rui Rio dispensava tanto carinho do PS

Eu, se fosse Rui Rio, começava a ficar em estado de alerta e grande preocupação. Ser líder do maior partido de direita, ou de centro-direita se preferirem, e receber tanto apoio e elogios do chefe do Governo é o maior presente envenenado que alguém naquele cargo pode ter

Esta semana, o primeiro-ministro deu uma entrevista à revista Visão onde admite a existência uma alegada ‘cabala’ contra Rui Rio. Reparem em algo verdadeiramente histórico: o chefe do Governo, que visivelmente não está incomodado com o líder da Oposição, afirma que quem Rui Rio está a «incomodar» é «grande parte do PSD e da chamada direita inorgânica, aquilo que alguns costumam designar a direita do Observador, que manifestamente gostava mais de um PSD capturado por uma visão ideológica neoliberal e conservadora, como aquela que marcou a liderança anterior do PSD». 

Eu, se fosse Rui Rio, começava a ficar em estado de alerta e grande preocupação. Ser líder do maior partido de direita, ou de centro-direita se preferirem, e receber tanto apoio e elogios do chefe do Governo é o maior presente envenenado que alguém naquele cargo pode ter. Ser líder da Oposição e objeto da condescendência e benevolência de António Costa, que vê cada vez mais a maioria absoluta à mão de semear, é, no mínimo, má sorte. Que me lembre, nunca Passos Coelho se deu ao luxo de elogiar desta forma António José Seguro, o frágil líder da Oposição antecessor de Costa no PS. Infelizmente para Rui Rio, as declarações de apoio à sua pessoa crescem junto dos apoiantes de Costa e da atual solução de Governo.

Ele não os assusta, é alguém que olham com complacência e carinho. Veja-se Daniel Oliveira, ex-PCP, ex-Bloco de Esquerda, etc., a denunciar alegadas conspirações, exclusivamente existentes na sua cabeça, contra Rui Rio por parte deste órgão de comunicação social. No lugar de Rui Rio qualquer líder do PSD estaria a trepar pelas paredes com declarações de solidariedade que têm, claramente, uma agenda política adjudicada.

Voltemos à complacência de Costa na citada entrevista. Interrogado sobre se Rio «seria ou não um bom vice-primeiro-ministro», Costa diz que o líder do PSD «ambiciona, e com legitimidade, ser primeiro-ministro. É essa ambição que creio que ele tem e pela qual se deve bater, procurando construir a melhor equipa, o melhor programa e dando os melhores argumentos junto da opinião pública». 

Dr. Costa, está no papo. Escusa é de mostrar a sua alegria de forma tão explícita, porque acaba por ser incómodo para Rui Rio.