A 4ª desilusão dos sociais-democratas

Os militantes do PSD sofreram, deste modo, a sua quarta desilusão. Depois de verem Cavaco Silva dar posse ao Governo socialista; depois de perceberem a falta de vocação de Passos Coelho para liderar a oposição a Costa; depois de constatarem a falta de vontade de Marcelo Rebelo de Sousa para ser contrapeso do Executivo, verificavam…

Depois de António Costa ter anunciado a intenção de formar Governo com o apoio do BE e do PCP, muitos militantes do PSD esperaram que Cavaco Silva não aceitasse a solução.

Acreditaram que o Presidente fosse manter o Governo de Passos Coelho em gestão até à eleição do seu sucessor, deixando para este a batata quente.

Mas Cavaco, embora contrariado, acabou mesmo por dar posse ao Governo das esquerdas.

A partir desse dia, e durante um ano e meio, os militantes do PSD aguardaram em vão pelo momento em que o seu partido começasse a fazer oposição. 

Pedro Passos Coelho nunca conseguiu fazê-la, pois não se adaptou ao seu novo papel e manteve-se sempre como uma espécie de ‘primeiro-ministro na reserva’.

Perante isto, esperaram os sociais-democratas que pudesse ser Marcelo Rebelo de Sousa a realizar essa ‘patriótica’ tarefa.

Mas Marcelo não foi na conversa: preferiu andar com a ‘geringonça’ ao colo, abrigando-se debaixo do chapéu de chuva de António Costa em vez de lhe servir de contraponto.

Desiludidos, os militantes do PSD sentiram-se órfãos: ninguém parecia interessado em combater o Governo das esquerdas, que ainda por cima lhes tinha usurpado o poder. 

A eleição de um novo líder representou, neste quadro, um sopro de esperança.

Finalmente, iria haver oposição ao Governo.

É certo que Rui Rio falava de entendimentos com o PS para acordos de regime.

Mas não passou pela cabeça de ninguém que ele não assumisse com determinação a liderança do centro e da direita na luta contra o Executivo socialista.

Seria isso mesmo, porém, o que acabaria por acontecer.

O primeiro gesto de Rui Rio foi visitar António Costa em S. Bento, numa espécie de vassalagem que ninguém entendeu.

E a seguir disse que estava tão próximo do CDS como do PS, colocando-se numa terra de ninguém.

Os militantes do PSD sofreram, deste modo, a sua quarta desilusão.

Depois de verem Cavaco Silva dar posse ao Governo socialista; depois de perceberem a falta de vocação de Passos Coelho para liderar a oposição a Costa; depois de constatarem a falta de vontade de Marcelo Rebelo de Sousa para ser contrapeso do Executivo, verificavam agora a falta de interesse de Rui Rio em fazer uma oposição a sério.

Nem teria grande sentido fazê-la.

Seria lógico estar,  por um lado, a propor entendimentos com o PS, e, por outro, a atacar com dureza o Governo do PS?

Não calharia bem e as pessoas não perceberiam.

Quem propõe acordos a alguém não o ataca em público.

Talvez Rui Rio não tenha percebido logo esta contradição – que contribuiu decisivamente para a sua entrada em falso. 

Neste vazio, quem saiu à rua a assumir a liderança do centro e da direita portuguesa foi Assunção Cristas.

Com algum descaramento, diga-se, afirmou querer fazer do CDS o maior partido desse espaço político.

Não esteve com meias-tintas: explicou ao que vinha, deu o corpo ao manifesto, não se escondeu, aceitou pegar o touro pelos cornos.

E num líder político a determinação é uma importante qualidade.

É claro que Cristas parte de uma base eleitoral muito baixa para a ambição que tem.

Mas isso também acontecia nas eleições para a Câmara de Lisboa e foi o que se viu.

Lembro-me de vários analistas experientes dizerem que a ultrapassagem do PSD pelo CDS em Lisboa era matematicamente impossível.

Além disso, estamos num momento da Europa em que se assiste ao naufrágio de grandes partidos históricos.

De um momento para o outro, verificam-se enormes cataclismos eleitorais.

E isso pode acontecer em Portugal.

Até porque a principal marca de Rui Rio, a promessa de trazer outra honestidade à vida política – propondo-se dar-lhe um «banho de ética» – desvaneceu-se em poucos dias.

Nunca um novo líder partidário se vira, em tão pouco tempo, a braços com tantos problemas éticos na sua direção: metade dos elementos foram postos moralmente em causa, com razão ou sem ela.

Salvador Malheiro, Elina Fraga e Feliciano Barreiras Duarte viram-se a braços com problemas embaraçosos.

Se Rui Rio já não tinha entrado bem, pelas razões expostas, estes problemas foram a machadada final na esperança de um bom início de mandato.

E não há uma segunda oportunidade para causar uma primeira boa impressão. 

É verdade que ainda estamos longíssimo das eleições.

Mas o que é possível perspetivar a esta distância é que o CDS parte com muito melhores armas do que o PSD.

Tem um posicionamento mais claro, um discurso mais incisivo, uma imagem globalmente mais jovem, uma líder mais ousada e mais combativa, um conjunto de quadros muito mais apelativo: Nuno Melo, Pedro Mota Soares, Adolfo Mesquita Nunes, Telmo Correia, Pires de Lima, Nuno Magalhães, Diogo Feio, Cecília Meireles, Lobo Xavier, João Almeida. 

Quem tem Rui Rio para opor a este naipe: David Justino? Castro Almeida? Salvador Malheiro? Elina Fraga?

Se as coisas não derem uma grande volta, a situação do PSD é complicadíssima.